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REVISTA DA MADEIRA - EDIÇÃO N°68 - DEZEMBRO DE 2002

Resíduos

Resíduos

A perda de material durante a fabricação de qualquer produto em madeira é uma variável muito importante para o gerenciamento da produção. Ela fornece subsídios para uma otimização dos processos e é uma componente fundamental no cálculo de custos.

Até tempos atrás, o primeiro resíduo gerado pela cadeia produtiva da madeira era a tora oriunda de desbaste. Mas já no final do século XIX essas toras passaram a ser utilizadas pela indústria do papel, na Europa. A partir de 1930 essas toras tornaram-se parte integrante do processo de fabricação das chapas de partículas (aglomerado), de MDF e, mais recentemente, também passaram a ser utilizadas para fabricar OSB.

Durante muito tempo as serrarias e as indústrias de fabricação de compensado laminado também foram grandes geradores de resíduos como serragem, cavacos de picadores, refilos de lâminas, e roletes que eram jogados fora ou no máximo utilizados como combustível para caldeira. Gradativamente, tais detritos também foram se integrando ao fabrico de chapas.

A tendência à minimização do desperdício é uma questão que vem sendo discutida há muito tempo. Segundo alguns autores, de cada quatro árvores abatidas nos Estados Unidos, na década de 50, o equivalente a menos de uma chegava ao consumidor sob forma de utilidades: todo o resto se perdia. A justificativa apresentada era que a América não precisava aproveitar todos os pedaços do tronco da árvore, pois ainda havia muita floresta inexplorada. Hoje, o panorama é bem diferente. De acordo com o engenheiro Manoel de Freitas, da International Paper, os norte-americanos chegam a ter um aproveitamento superior a 90% a partir da tora. Considerando que o aproveitamento de uma tora de Pinus como produto serrado bruto é da ordem de 50%, pode-se dizer que pelo menos 40% devem ser utilizados para outros fins economicamente viáveis.

Atualmente, resíduos não são mais um fator pejorativo do processo industrial e sim uma fonte criativa de matéria-prima. Muitas indústrias os têm utilizado para a produção novos produtos.

No Brasil, a segunda transformação tende para o crescimento, embora seja considerada pouco desenvolvida. Infelizmente, ainda é gerada uma quantidade de subprodutos chamados de “resíduo”, por pura falta de destino. A perda na cadeia produtiva da madeira é considerada alta. As razões para esse baixo aproveitamento são bastante discutidas, e envolvem desde a própria madeira até questões culturais. Entre esses motivos podem ser citados a baixa qualidade das toras procedentes de reflorestamentos originários de incentivos fiscais, a falta de tecnologia adequada para um bom processamento e beneficiamento, a mão de obra desqualificada e a abundância de espécies nativas, entre outros.

A princípio, costaneiras, refilos, cavacos e serragem que sempre constituíram um problema para a indústria, devido ao imenso volume que ocupam ou pela falta de opção de um destino final, acabavam se transformando em imensas montanhas e/ou fogueiras. Com a necessidade de usar secagem artificial para evitar problemas ocasionados pela secagem natura, algumas empresas rapidamente começaram a utilizar essas aparas como combustível gerador de energia para caldeiras. Com as melhorias realizadas sobre o sistema de rendimento das caldeiras, se tornou desnecessário utilizar todo esse resto de madeira para a queima, aparecendo uma sobra relativamente importante, que está sendo absorvida em parte, novamente pelas indústrias de chapas, que.estão sendo implantadas de uma forma generalizada dentro do país.

Considerando a região Sul, a necessidade de absorção desses detritos aumentou com o crescimento gradativo do volume gerado pelas empresas madeireiras, principalmente de Pinus. Face à necessidade de encontrar um destino para todo esse material, algumas empresas que já utilizavam caldeiras para gerar o vapor destinado a secagem da madeira processada, passaram a produzir energia elétrica: utilizando sistemas de co-geração. As indústrias aproveitam as aparas do processo produtivo para produzir mais vapor e também energia. Outra alternativa, mas ainda pouco difundida no Brasil é a fabricação de briquetes compostos com pequenos pedaços de madeira prensada, com objetivo de queima.

Atualmente, pode-se afirmar que está havendo uma grande preocupação quanto ao destino final da sobra dos processos industriais. Dentro de um conceito ecológico, vem aumentando a busca por alternativas para reciclagem desse material. No caso da madeira, uma das tendências observadas é a possibilidade do uso dos resíduos como fonte de matéria-prima para novos produtos, ao invés de utilizá-los somente como fonte de energia. A capacidade de gerar produtos com características e propriedades específicas, utilizando-se de material reciclado, já é uma realidade. Assim sendo, os resíduos passam a ser motivos de estudo em busca de sua utilização em produtos industriais inovadores.

A farinha de madeira, que é obtida pelo processo de moagem das diversas aparas de madeira citadas anteriormente pode ser citada como um exemplo. Segundo a Inbrasfarma, produtora de farinha de madeira há 26 anos, tal produto é utilizado por uma grande quantidade de indústrias, como matéria prima material que gera produtos acabados ou semi-acabados para empresas fabricantes de plásticos, indústrias de fundição, de compensado, de explosivos e de calçados. Essas empresas que contribuem para a diminuição do montante dos detritos gerados, também são exemplos reais de que o resíduo pode ser uma fonte para novos produtos.

O que difere o produto de empresas como essas e os resíduos, particularmente a serragem, é a forma como eles são vistos. Para a maioria das indústrias, serragem é apenas um detrito, mas para elas é matéria-prima para seu produto, requerendo um controle de qualidade rigoroso. Para uma utilização em escala industrial, algumas variáveis devem ser observadas, como a garantia de fornecimento, a qualidade, o controle de umidade, a granulometria, a mistura de espécies ou qualquer outra contaminação.

Devido à conscientização ecológica, às necessidades econômicas do próprio mercado e também ao desenvolvimento tecnológico, observa-se que cada vez mais, está havendo um melhor aproveitamento da madeira. Nesse sentido, a continuidade do desenvolvimento das pesquisas é imprescindível, para fazer dos resíduos cada vez mais uma fonte para novos recursos.

A melhoria de rendimento no aproveitamento do fuste da árvore é uma necessidade benéfica tanto para a otimização do processo produtivo quanto para a natureza. Os resíduos abrem uma gama de possibilidades engenhosas para a produção industrial conforme demonstra as ilustrações. Nelas aparecem produtos brasileiros que utilizam, integralmente ou parcialmente, resíduos de madeira em sua composição, sendo estas apenas algumas das diversas opções de uso que se poderia dar aos resíduos de madeira.



Arnaud Bonduelle

Professor do novo Curso de Engenharia Industrial Madeireira e do Programa de Pós-graduação em Eng. Florestal,UFPR, Curitiba - PR

Fábio Yamaji

Doutorando no Programa de Pós-graduação em Eng. Florestal,UFPR, Curitiba - PR,

Cilene Cristina Borges

Acadêmica do Curso de Engenharia Industrial Madeireira UFPR Curitiba-PR,

Maio/2003