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Notícias

05
set
2010
(SETOR FLORESTAL)
Pragas e Doenças dos Pinus
Uma das principais pragas de coníferas: os escolitídeos.

Dentre os insetos, ordem dos besouros (Coleoptera) é a mais abundante. Tamanha abundância também é observada para muitas de suas famílias, incluindo-se a Scolytidae que possui mais de 6.000 espécies reconhecidas e descritas. Os escolitídeos, como são comumente chamados na língua portuguesa, apresentam, na grande maioria, corpo cilíndrico, bem esclerotizado, têm a parte terminal das asas anteriores (élitros) truncadas e as suas antenas são freqüentemente geniculadas. Outra característica comum nas espécies neotropicais encontradas no Brasil é a junção da cabeça com o tórax, havendo uma união parcial entre essas duas partes do inseto. Isso faz com que não seja possível identificar a cabeça dos indivíduos quando na visão dorsal. Já o tamanho dos escolitídeos é bastante variável inclusive dentro das espécies; todavia, são insetos considerados pequenos, mesmo quando adultos, possuindo comprimentos que variam de 0,5 a 10 mm (Flechtmann et al., 2000).

Os besouros escolitídeos sempre foram reconhecidos como importantíssimas pragas de coníferas de regiões temperadas do hemisfério norte. No Brasil, devido à recente introdução dos Pinus, que ocorreu em maior escala a partir da década de 60, esses insetos até há pouco tempo atrás não apresentavam maiores problemas. Porém, muitos escolitídeos nativos vêm mostrando elevada adaptação aos pinheiros exóticos, aumentando sua população e inclusive já ocasionando danos na madeira (Flechtmann et al., 2000).

Segundo Flechtmann (1996), para uma tomada de medidas eficientes de controle, é necessário uma identificação taxonômica eficaz e precisa. Isso é uma dificuldade para os escolitídeos, visto que existe muita diversidade fenotípica nos indivíduos dentro da mesma espécie, além de ainda haver poucos taxonomistas especializados para tal finalidade em todo o mundo, e também no Brasil.

Os escolitídeos podem atacar árvores vivas e saudáveis, como é o caso do besouro da casca ("pine bark beetle"), praga comum de Pinus e coníferas da América do Norte. Contudo, grande parte das espécies encontradas no nosso país atacam árvores estressadas ou troncos, toras ou madeiras cortadas submetidas a condições de armazenagem inadequadas. Esse é o caso da grande maioria dos besouros escolitídeos conhecidos como besouros da ambrosia ("ambrosia beetles"). Tanto as formas imaturas como adultas desses besouros são capazes de trazer danos à madeira dos Pinus (Proteção Florestal, 2010).

O besouro da casca introduz seus ovos diretamente no floema das árvores, local onde também ocorre o desenvolvimento da fase imatura. A planta acaba morrendo pela colonização do fungo introduzido em seu tronco pelo escolitídeo durante a postura e que serve de alimento para as larvas. Dessa forma, a madeira primeiramente se torna azulada, ocorrendo a posterior alimentação e perfuração pelo inseto logo abaixo da casca, formando galerias complexas e danosas (Proteção Florestal, 2010; Exotic Pest, 2010).

De acordo com Wikipédia (2010) e Gallo et al. (2002), descrições taxonômicas mais antigas incluíam o besouro da casca e o da ambrosia em uma família distinta (Scolytidae); porém, algumas das descrições taxonômicas atuais os incluem na família Curculionidae e na subfamília Scolytinae.

Segundo Flechtmann e colaboradores (1995), os escolitídeos se dividem em duas subfamílias: a Scolytinae e a Hylesinae que se distinguem por diferenças nos élitros. Na primeira, a parte basal das asas anteriores não são armadas, cruzando o corpo, ao contrário da segunda (Hylesinae), que possui margem basal dos élitros com elevação.

Os besouros da ambrosia se alimentam de fungos, colonizando o alburno da árvore hospedeira, também estando associados com a presença de fungos simbiontes; todavia, ainda não foram encontradas no Brasil espécies capazes de levar a planta saudável à morte, atacando preferencialmente árvores já mortas (Flechtmann et al., 2000).

Alguns escolitídeos possuem papel ecológico de relevante importância nas florestas onde ocorrem. Isso porque ajudam na regeneração florestal, levando árvores velhas à morte e promovendo o surgimento de nova vegetação. Os escolitídeos também promovem a ciclagem de nutrientes e atuam na decomposição de restos vegetais presentes na serapilheira florestal. Assim, são poucas as espécies nocivas e com potencial de se tornarem pragas (Wikipédia, 2010). Entretanto, não se pode desprezar os danos causados pelas que são realmente nocivas.

Os besouros da ambrosia são todos xilomicetófagos (indivíduos que necessitam de fungos simbiontes para se alimentarem da madeira já colonizada pelos microorganismos), sendo os do gênero Xyloborus atualmente os mais abundantes no Brasil; contudo, esses também são considerados muito problemáticos para a identificação, devido às elevadas variações morfológicas que apresentam (Flechtmann et al., 1995). Xyloborus sp. é reconhecido por depreciar a qualidade da madeira de troncos de Pinus elliottii armazenados indevidamente nas plantações. Os adultos são atraídos por compostos alcoólicos expelidos pela madeira em estado fermentativo. Com a atração, há a posterior colonização da madeira, tanto pelos insetos como pelos fungos, trazendo prejuízos significativos para as serrarias e sendo considerados assim um incômodo constante no Brasil. Porém, em países do hemisfério norte, como na província de Columbia Britânica - Canadá, há registros de perdas de milhões de dólares (e de árvores e madeira) devidas ao ataque do besouro da ambrosia durante a pós-colheita (Flechtmann et al., 2000). Outro gênero também conhecido popularmente como besouro da ambrosia é Premnoborus sp., que ocorre desde os Estados Unidos da América até a Argentina e ainda é encontrado danificando madeiras em plantações de Pinus e Eucalyptus na Micronésia e África (Zanetti, s/d).

A madeira atacada por escolitídeos broqueadores que é danificada para uso sólido, também se torna imprópria para a indústria de celulose branqueada e papel branco, visto que o fungo diminui a capacidade de branqueamento da polpa (Proteção Florestal, 2010). Os escolitídeos também causam problemas na exportação de toras e outros produtos madeireiros, havendo barreiras alfandegárias e restrições sanitárias impostas por diversos países (Stephen e Grégoire, 2010; Flechtmann et al., 2000).

O controle químico do besouro da ambrosia é considerado uma prática economicamente inviável, principalmente devido à biologia dos insetos. Estudos já foram desenvolvidos sobre o monitoramento de plantações de Pinus com a utilização de armadilhas contendo atraentes (etanol) e também sobre a coleta massal dos insetos, técnicas que podem ajudar na diminuição das populações remanescentes (Proteção Florestal, 2010).

Pereira (2006) realizou levantamentos populacionais de escolitídeos em talhões de Pinus taeda e do híbrido (P. taeda X P. elliottii) em Telêmaco Borba, PR. Para tanto, capturavam-se semanalmente adultos através de armadilhas contendo etanol espalhadas nos talhões. Isso foi feito durante um ano. Foram coletados 2800 escolitídeos durante o período de amostragem. As espécies mais abundantes foram: Hypothenemus eruditus, Xyleborus ferrugineus, Corthylus sp. 1 e Corthylus sp. 2 . Desses, H. eruditus e X. ferrugineus foram as espécies que mais sofreram influência da proximidade dos talhões com a mata nativa, não sendo quase capturados em áreas apenas contendo Pinus ou naqueles longe da mata nativa.

Flechtmann et al. (2000) analisaram as espécies de escolitídeos presentes em povoamentos de Pinus taeda em Telêmaco Borba, PR. A captura dos insetos foi realizada semanalmente com armadilhas contendo etanol durante o período de dois anos. Os autores identificaram 62 espécies de escolitídeos na área dos Pinus, sendo as mais abundantes (em quantidade de indivíduos): Hypothenemus eruditus, Xyleborinus gracilis, Cryptocarenus sp. e Xylosandrus retusus. Já as mais freqüentes foram: H. eruditus, Corthylus sp., H. obscurus, Ambrosiodmus obliquus e Xyleborinus gracilis. Os besouros foram considerados mais ativos durante os meses de agosto (final do inverno) e outubro (primavera). No experimento também foram realizadas avaliações de escolitídeos em áreas de eucalipto, e com a comparação das espécies coletadas, observou-se que 50% dessas estavam presentes tanto nos Pinus como no eucalipto. Dessa forma, supôs-se que a maior parte dos escolitídeos capturados sejam polífagos.

Flechtmann et al. (2000) ressaltaram que apesar da utilização de armadilhas de etanol para o monitoramento de besouros da ambrosia em áreas atacadas, esse cairomônio nem sempre é a substância mais atraente para algumas espécies de escolitídeos. Assim sendo, Sagi et al. (2000) realizaram vários testes de feromônios e cairomônios a fim de identificar as devidas atratividades às principais espécies de escolitídeos nos Pinus. Foram utilizadas armadilhas de funil múltiplo contendo diferentes substâncias tais como alfa-pineno + etanol, feromônios (retusol + racêmico) e as armadilhas controle. Durante o período de amostragem, o alfa-pineno não se mostrou atraente aos escolitídeos, porém, atraiu seu inimigo natural, os besouros da família Tenebrionidae. A armadilha contendo somente etanol (controle) atraiu as espécies H. eruditus, H. obscurus, Xyleborinus gracillis, Xylosandrus linearucollis, X. ferrugineus e X. retusus; todavia, a espécie X. abelographus apresentou maior preferência à isca alternativa com os feromônios. Apesar dos resultados parciais, os autores concluíram que o alfa-pineno poderia ser utilizado para monitoramento dos inimigos naturais dos escolitídeos e que há outras possibilidades de substâncias atrativas à essas pragas, além do etanol.

No caso de madeira serrada, o controle preventivo ainda é o mais recomendado fazendo com que o material permaneça o mínimo possível em condições inadequadas de estocagem (Proteção Florestal, 2010).

Apesar do aumento dos danos e da população de escolitídeos em plantações de Pinus no Brasil, ainda são poucos os estudos realizados sobre o assunto no país. Os poucos levantamentos já realizados em áreas de Pinus e de Eucalyptus apontam um aumento constante na população e em sua diversidade em espécies. Dessa forma, pesquisas sobre novas formas de controle com levantamentos não apenas dos escolitídeos nocivos, mas também de seus inimigos naturais, deveriam ser mais incentivadas, além de estudos com substâncias atrativas mais eficientes para o monitoramento da praga. Os resultados desses trabalhos também deveriam ser levados de forma mais efetiva aos produtores rurais, auxiliando na conscientização do problema a ajudando a minimizá-lo.

Fonte: PinusLetter

ITTO Sindimadeira_rs