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Notícias

12
mar
2010
(AQUECIMENTO GLOBAL)
Produçăo do Nin Indiano na Bahia em franca expansão
Clima quente e seco com predominância de altas temperaturas na maior parte do ano, com períodos de até 10 meses sem chuvas. É nesse ambiente que floresce o nin indiano (Azadirachta indica A. Juss), árvore considerada milagrosa não apenas pela resistência e robustez em solos áridos.

Originária da Índia e podendo viver até 200 anos e alcançar mais de 25 metros em fase adulta, a árvore chegou ao Brasil no início dos anos 90, apresentada pelo pesquisador da Embrapa, Belmiro Pereira das Neves, com uma extensa lista de usos múltiplos.

Atendendo plenamente a setores agrícola, industrial, comercial e de serviços, o nim tem sido utilizado em programas de Florestas Sustentáveis, na recuperação de áreas degradadas - substituindo o pinus e o eucalipto - e arborização de espaços públicos e no fabrico de móveis.

Também é destacado pelas múltiplas aplicações, desde indústria farmacêutica e de cosméticos até na agropecuária como inseticida natural e, mais recentemente, na composição de biodiesel.

Na Bahia, o berço do nin foi a região Oeste, mas é no Sudoeste que ele encontra o maior número de adeptos, com mais de 800 mil árvores plantadas. Esse volume tende a triplicar nos próximos anos devido ao interesse de pesquisadores da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb) em implantar uma área experimental no campus de Vitória da Conquista, a 509 km de Salvador.

A Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA), escritório de Caetité (757 km) tem igual interesse em propagar a cultura do nin indiano na região e já anunciou a distribuição, ainda este ano, de 100 mil mudas. O município tem 10 mil hectares, plantados em 2008.

O material é destinado a pequenos produtores como parte da primeira etapa do Projeto Cultivo de Nin indiano, em convênio com prefeituras e escolas agrícolas. Esses órgãos entram com a contrapartida da mão-de-obra e viveiros, respectivamente, com a assistência técnica da EBDA.

Este mês foi a vez de pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB) visitar as áreas plantadas na Bahia para apresentar relatório técnico à Fundação Banco do Brasil (FBB) objetivando angariar subsídios para financiamentos de até R$200 mil à agricultura familiar. Não foi fornecido mais detalhes sobre o estudo.

Nas regiões de Itapicuru, Suruá, Mutans e Ceraíma, zona rural de Guanambi a planta está disseminada, a exemplo dos municípios de Iuiu, Carinhanha, Anagé e Mortugaba.
Esse último encomendou 50 mil mudas de nin a um viveiro guanambiense para produção de carvão vegetal. Por conta de crescente demanda, o viveiro deve passar da produção de 100 mil mudas para 150 mil ainda este ano. A unidade custa em torno de R$1,50.

O investimento retorna em até três anos com a produção de folha e fruto. O quilo da folha está cotado em R$3; o pó da folha, de R$5 a R$7 o quilo; a torta a R$10 e o fruto, entre R$3 e R$5 a mesma quantidade. Para se produzir um quilo de pó de nin se gasta, em média, R$1.

Os tratos culturais são simples. Consiste somente em adubação de cobertura anual, roçagem duas vezes ao ano e poda de condução para formação da copa da árvore. Entre 7 e 8 anos de vida a árvore apresenta tora com diâmetro entre 30 e 40 centímetros e metro cúbico cotado a US$300, equivalente a R$2,30.

Em ponto de corte, a partir do quarto ano (dependendo da condução e dos tratos culturais) o nin fornece, em cada árvore, 140 metros cúbicos de madeira para estacas rurais ou 100 metros cúbicos de carvão vegetal ou de 30 a 50 metros cúbicos de madeira de lei.

Guanambi aposta no cultivo do nin indiano

O ano era 2005 quando o empresário guanambiense Ivanaldo de Oliveira Fernandes decidiu iniciar um bosque com 10 hectares de mudas de nin trazidas de Minas Gerais. Vi na planta uma alternativa de negócio para a região em função das limitações de clima e de solo que nós temos, explicou. Chove, em média, apenas 700 milímetros por ano na região.

Somente o nin é capaz de retornar parte do investimento aplicado num período de três anos, graças à venda de folhas e frutos. Nos demais anos (entre seis e sete), o restante do que foi aplicado volta em forma de madeira comercializada.

Essa possibilidade de receita em curto espaço de tempo foi também o que nos chamou a atenção, sem contar com a enorme gama de possibilidades para consórcio silvopastoril com essa cultura, prosseguiu. Dentre as mais comuns em consórcio com o nin estão o feijão, a mandioca, a palma, o milho, o sorgo e o café.

Com a falta de interesse dos produtores do Oeste baiano, depois de terem até formado uma associação ligada ao nin (Associação Brasileira dos Produtores de Nin), reunindo 347 associados e área plantada em torno de 100 hectares, Guanambi dispara na liderança, com aproximadamente 800 hectares plantados.

Somente sob a responsabilidade do Nimbahia, ligada ao empresário, são 500 hectares e 300 mil árvores, entre jovens e adultas. Em todo o município há sinais da cultura e os mais recentes estão numa praça da cidade com 250 árvores, cujas mudas foram plantadas em setembro de 2007.

Segundo Fernandes, a utilização mais imediata do nin é como bio-inseticida, graças às propriedades tóxicas da planta para insetos. Apesar disso, a planta é medicinal e tem apresentado bons resultados na saúde humana e animal.

O que mais se usa aqui são as folhas e as sementes, de onde se extrai o óleo e a torta para aplicação animal em controle da mosca-do-chifre, vermes, carrapatos e pulverização em plantações para controle de pragas. Já se comprovou laboratorialmente que são mais de 500 pragas sensíveis ao nin.

Na indústria de cosméticos Guanambi também está na dianteira. O município produz, por exemplo, sabonete rejuvenescedor e anti-acne (higieniza e trata a pele, reduzindo inflamações acnéicas e dermatites pela sua ação antibacteriana); xampu e condicionador contra o ressecamento; loção para a pele; massageador; banho de creme; creme para pentear e creme glicerinado contra ressecamento e rachaduras.

A fábrica de cosméticos utiliza o óleo medicinal e a folha de nin para produzir essa linha, abastecendo a região e, em breve, o restante do País e o exterior.

Temos empresários uruguaios interessados em nossos produtos. Aguardamos tão somente a licença da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para fazermos a comercialização em âmbito nacional e internacional.

Antes de se deixar convencer plenamente pelo amigo a respeito das qualidades da planta, Fernandes foi ao município de Tanque Novo, a 112 km de Guanambi, conhecer seo José Matias, pioneiro no trato com o nin indiano, a milagrosa que, como dizem, serve para tudo.

Comecei a plantar assim que recebi umas mudas vendidas em catálogo por uma empresa especializada de Campinas, contou o lavrador. As primeiras plantas começaram a brotar há seis anos.

Sempre defendi o meio ambiente e como não uso agrotóxico, plantei o nim porque ele não precisa de defensivos e ainda acaba com outras pragas, como aqui no nosso caso que era a que atacava o feijão.

Ao contrário de alguns defensivos, o nin não elimina a praga. Deixa-a estéril, impossibilitando um novo ataque à cultura. A receita do extrato da folha de nim é obtida facilmente. Basta passar no liquidificador, deixar descansar um dia, depois é só coar e aplicar no feijão, ensina Matias.

Nin indiano, a planta de mil e uma utilidades

O pesquisador da Embrapa Arroz e Feijão, Belmiro Pereira das Neves, defende a paternidade do nin no País. Neves garante que as primeiras mudas para plantio chegaram ao solo brasileiro, introduzidas por ele, em 1993.

A relação com o nin e o Brasil é anterior a esta data, mas somente para estudos laboratoriais, sem fins comerciais. Na publicação O Nin - Azadirachta indica - Natureza, Usos Múltiplos, Produção, a pesquisadora Sueli Martines reporta que, no Brasil, as primeiras introduções do nin para estudo como planta inseticida foram feitas pelo Instituto Agronômico no Paraná, em Londrina, em 1986.

As sementes foram trazidas das Filipinas. Em 1989 chegaram sementes da Índia, Nicarágua e República Dominicana. Tudo como parte de um projeto de pesquisas de controle alternativo de pragas com plantas inseticidas.

Em entrevista por e-mail, Neves traça a rota do nin e destrincha a planta das mil e uma utilidades. Árvore frondosa, pertencente á família Meliaceae, a mesma da Santa Bárbara ou Cinamomo, Cedro ou Mogno, o nin é natural das regiões áridas do subcontinente indiano onde, de acordo com o pesquisador, existem 18 milhões de árvores.

O uso do nin nos diversos segmentos por estes povos datam há mais de 2 mil anos e atualmente a planta é cultivada em várias partes do mundo, englobando Estados Unidos, Austrália, América Central, América do Sul, No Brasil a planta foi distribuída pelas regiões Norte, Nordeste, Centro Oeste e Sudeste, com uma população em torno de 10 milhões de unidades.

Neste contexto, ressalta o pesquisador, destaca-se o estado da Bahia envolvendo os municípios de Luís Eduardo Magalhães, Barreiras, Itabuna, Guanambi e, mais recentemente, Caetité.

Esta ampla distribuição deve-se ao fato de ser uma planta muito resistente e de crescimento rápido, que alcança normalmente, de 10 a 15 metros de altura e, dependendo do tipo de solo e das condições climáticas favoráveis, pode atingir até 25 metros, explica.

As folhas têm tonalidade verde-escuro, compostas e imparipenadas, com frequência aglomerada nos extremos dos ramos simples e sem estípulas. As flores são de coloração branca e aromática, bastante visitada por abelhas na extração do néctar para o fabrico do mel.

A literatura apresenta o fruto como uma baga ovalada com 1,5 cm a 2,0 cm de comprimento. Ao amadurecer, o fruto fica com a polpa amarelada, revestindo uma casca branca dura que contém uma substância oleosa marrom no interior da semente. É raro, mas acontece de o fruto possuir duas sementes.

Explicando a razão pela qual a planta se adaptou tão bem ao clima da região do semiárido, o pesquisador destaca que o nin prefere climas tropicais e subtropicais, especialmente em áreas com precipitação pluvial anual variando de 150 a 1.800 milímetros.

A faixa ideal de temperatura é de 21 a 32º C, mas a planta tolera temperaturas mais elevadas, acima de 44º C por curtos períodos. Uma das vantagens neste quesito é que ela resiste a longos períodos secos, porém é intolerante a geadas.

Nesse caso, se houver registro de temperaturas abaixo de 8º C, seu crescimento é interrompido, continua. O nin não é exigente em relação a solos, exceto locais encharcados e salinos. Ele floresce até mesmo em solos secos e pobres em nutrientes. O PH ideal para o crescimento do nin situa-se entre 6,2 a 7,0.

O cultivo da planta requer solo bem preparado, principalmente em áreas com vegetação de cerrado. A operação, quando possível, deve ser feita com aração e gradagem. Se não puder ser feita dessa forma, deve-se apenas abrir covas.

Elas devem ser de 40 x 40 x 40 cm e devidamente adubadas com 250 gramas de NPK +30 g de FTEBR-12. O espaçamento entre elas está condicionada aos objetivos propostos para a exploração do nin.

Para a produção de carvão ou caibros, o desejável é cortar a madeira mais fina, de menor porte e em um ciclo mais curto, quando se podem adotar 3 x 3 metros ou 4 x 4 metros. A partir do terceiro ano pode-se realizar cortes alternados entre elas.

No caso da produção de madeira o excesso de plantas deve ser desbastado, deixando um espaçamento 6 x 6 metros ou 8 x 8 metros. Ressalto também que nestes plantios o nin irá propiciar uma melhoria da fertilidade do solo, graças a qualidade de suas folhas que caem acompanhadas da sua rápida decomposição.

Por este motivo, prossegue Neves, tem sido recomendada para programas de reflorestamento, recuperação de áreas degradadas áridas e costeiras, quebra vento em plantação de milho, resultando em 20% de aumento na produção de grãos.

A cultura também pode ser consorciada com espécies frutíferas, gergelim, algodão, soja, arroz e amendoim. Além disso, tem havido uma expansão de mercado dos produtos industrializados do nin. As sementes são úteis na produção de gás metano e também como carboidrato, que é uma base rica para outras fermentações industriais.

As folhas, além de possuírem excelentes propriedades medicinais, servem de alimento para ruminantes, caprinos e ovinos, quando misturadas com outras forragens. O óleo e a torta resultante da prensagem das sementes constituem num excelente inseticida natural para o combate de pragas.

O nin está se tornando muito popular no seguimento de cosméticos. A empresa Clearcosméticos, estabelecida em Goiânia (GO), emprega folhas e óleo em suas formulações dos produtos Belneem, com uma linha completa de shampoos, cremes faciais, hidratantes corporais, sabonetes líquidos e condicionadores de cabelos.

SAIBA MAIS:

Nomes diversos da planta: Mogousier, Lilás da Índia, Aziradac, Margosa, Marrango ou Canye. O mais difundido é Nin ou Neem.
Os Estados Unidos comercializam mais de 20 subprodutos do nin. Todos patenteados. Na Alemanha, um dos países europeus que comercializam óleo extraído de sementes, a grande descoberta é um creme dental à base de nin, aplicado no tratamento de infecções e inflamações na gengiva.

A árvore pertence à mesma família do mogno, daí ser considerado uma alternativa para a indústria moveleira. A exploração do nin para reposição florestal é aprovada pelo Instituo Nacional do meio Ambiente e Recursos Renováveis (Ibama).

De acordo com estudos, o nin possui cerca de 100 substâncias ativas que podem atuar no combate de insetos e pragas, como a mosca branca (Bemisia tabaci), vaquinhas (Diabrotica speciosa e Cerotoma arcuata) e lagartas que infestam plantações de hortaliças, feijoeiro e milho. No caso de grãos armazenados, o nin repele carunchos (Callosobruchus maculatus, Zabrotes sufasciatus) e gorgulhos (Sitophilos orizae e S. zeamais).

Até 1995, cerca de 400 espécies de insetos foram relatadas como sensíveis a algum tipo de ação do nin. A maior parte dos estudos foi realizada com lagartas e besouros e, das espécies testadas, mostraram-se mais sensíveis 136 espécies de lepidópteros, 79 de coleópteros, 50 de homópteros, 49 de dípteros e 32 heterópteros.

As espécies mais suscetíveis são as lagartas, cigarrinhas, e larvas de besouros que se alimentam das folhas tratadas. Os pulgões, em geral, exigem doses mais elevadas.

Estudos in vitro, embora com resultados variáveis, demonstraram a ação de extratos de diversas partes da planta sobre várias espécies de nematóides, alguns de grande importância econômica no Brasil, como Pratylenchus sp., Rotylenchulus reniformis e o nematóide endoparasítico Meloydogine incognita.

Do nin se aproveita tudo. O tronco é reto e forte, podendo ser utilizado na construção de casas, móveis, estacas. Considerada madeira nobre, uma das vantagens é que não sofre ataque de cupins ou traças.

A casca produz um extrato aquoso. Faz-se uso no combate a reumatismo, histeria, febre, catarro e malária. É estimulante tônico e com a casca também se fabrica sabonete e creme dental. O uso da raiz é o mesmo dado à casca.

A polpa das frutas tem sabor adocicado e podem ser ingeridas. Os pássaros se alimentam do fruto. É utilizado como tônico, purgante e antiparasitário e tem eficácia comprovada em enfermidades dos rins e hemorróidas.

Com as folhas é preparado inseticida e com elas também se faz chá para tratamento de úlceras, parasitas intestinais e enfermidades do fígado. A ingestão do chá faz baixar a febre causada pela malária. As folhas novas, cruas, são ricas em proteínas, cálcio, ferro e vitamina A. Se misturadas com pimenta negra podem combater parasitas intestinais.

As folhas contêm 12,4% a 18,3% de proteínas, 11,4% a 23,1% de fibras, 43,3% a 66,6% de extrato sem nitrogênio, 2,3% a 6,3% de extrato éter, 7,7% a 18,4% de cinzas totais, 0,9% a 4% de cálcio e 0,1% a 0,3% de fósforo.

O nin é uma espécie heliófita, ou seja, a luz é bastante importante para o seu crescimento. É importante que a copa receba bastante luz para que a produção de frutos seja maximizada. Daí a necessidade de se escolher bem o espaçamento, dependendo do tipo de exploração que se pretende priorizar.

As flores brancas podem ser ingeridas frescas, secas, ou misturadas às sopas. É utilizada para problemas de digestão e estado de debilidade do corpo. O chá das flores é recomendado para aliviar dor de cabeça.

As sementes prensadas produz óleo, um dos subprodutos do nin mais utilizado na medicina. Não é comestível, sendo utilizado apenas no tratamento de algumas enfermidades da pele, como lepra e no combate ao reumatismo e torcicolos. Com ele são fabricados sabonetes e creme dental. A torta que sobra da elaboração do óleo serve como adubo orgânico e como alimento do gado e ainda pode ser utilizado na fabricação de inseticidas.

Solução de controle de ectoparasitas (carrapatos) em animais:

120 gramas de folhas moídas e secas à sombra.

Colocar as folhas em 2,5 litros de água por animal.

Deixar a solução em repouso por oito horas.

Antes de aplicar, coar e adicionar meio litro de água com sabão.

Para utilizar em plantas, fazer o mesmo procedimento e não é necessário adicionar água com sabão.

Fonte: Sueli Souza Martinez - Pesquisadora e Autora do Livro O Nin - Azadirachta - Natureza, Usos Múltiplos, Produção

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