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Notícias

14
dez
2021
(GERAL)
Árvores têm memória?

Pesquisas conduzidas na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Marimauá, no Amazonas, acompanharam algumas espécies de árvores que adotam estratégias com base em experiências vividas pela planta-mãe.

Sabe-se que toda vida animal depende da memória, principalmente animais selvagens. Saber que lugares ir e quais precisam ser evitados, além de atividades cotidianas, é basicamente uma questão de sobrevivência.

Em relação aos animais domésticos, eles estabelecem uma relação de memória afetiva com seus tutores e podem ter tanto memórias boas, quanto ruins, o que ocasiona traumas. Não precisa em citar o ser humano, certo?

Mas e em relação às plantas? Seria possível árvores, sementes e plântulas possuírem memória? O Portal Amazônia responde essa curiosidade. Confira a seguir:As árvores de várzea estão presentes em florestas de planícies que são invadidas por en

chentes sazonais na bacia amazônica e ficam inundadas. Ao longo do rio Amazonas, há uma alta incidência de chuvas o que resulta em grandes enchentes estacionais.

Entre essas espécies, duas tem sido estudadas pela pesquisadora agrônoma e pós-doutora em sementes florestais pelo Museu Paraense Emílio Goeldi no Pará, Denise Garcia de Santana: a assacú (Hora crepitans) e os frutos de louro-inambuí (Ocotea cymbarum).

Assacú (Hura crepitans)

Esta é uma espécie de várzea que produz a madeira flutuante de maior importância da bacia amazônica. Também é conhecida pelos nomes uassacú, árvore-do-diabo, catauá, no-perú e açacú. Com efeitos da memória materna, as sementes da espécie se tornam flutuantes, fenômeno chamado de hidrocoria.

Antes de atingirem o rio (pelo aumento do nível das águas), as sementes são lançadas a grandes distâncias pelos frutos "explosivos", mecanismo conhecido como autocoria, que é quando a semente é liberada pela própria planta sem que seja necessária a interferência de nenhum fator externo.

Louro-inamuí (Ocotea cymbarum)

Já os frutos de louro-inamuí se desprendem da planta-mãe, afundam e são depositados no leito dos rios. Esse mecanismo conhecido como barocoria (queda em função do peso) reduz a distância de dispersão e a germinação tende a ocorrer próxima a planta-mãe, o que não é uma boa estratégia.

Para ampliar a área de dispersão, o louro conta com o peixe tambaqui e para "fisgá-lo" produz frutos com polpa atrativa. Após ingerir os frutos, o tambaqui consome a polpa e defeca as sementes em áreas distantes da planta-mãe. As pesquisas indicam que o louro e o tambaqui compartilham memórias, de acordo com Denise.

As plantas dormem no rio?

Os estudos mostram que, na prática, as sementes são incapazes de germinar no rio e se estabelecer em solo inundado. Por isso, elas "adormecem". Isso é possível devido aos baixos teores de oxigênio dissolvido na água.

Contudo, esse adormecimento não é um sinal de "sono" ou até mesmo cansaço, por assim dizer. Elas se preparam para a fase terrestre. O louro aproveita essa fase para se livrar da polpa e abrir fendas nas sementes, anunciando que está pronto para germinar.

Aí vem a "memória"

As plantas "sabem" que precisam germinar e formar plântulas rapidamente na fase terrestre. A Assacú desenvolve uma haste alongada assim que emerge, o que permite que as folhas fiquem acima do nível da água do rio. Já o louro desenvolve outro mecanismo de defesa que consiste em as plântulas apresentarem mais de uma haste, aumentando a chance de sobrevivência caso a principal morra. Se a planta ficasse submersa na água totalmente ocorreria a redução da fotossíntese e aumentaria o risco de morte.

Essas estratégias adotadas são decorrentes de experiências vividas pela planta-mãe, enquanto semente e árvore, ou seja, são uma espécie de "memória vegetal".

Apesar disso ter sido identificado em espécies de área de várzea, todas as espécies vegetais apresentam características intrinsecamente relacionadas às suas vivências e essas características são de conhecimento da ciência.

Um exemplo disso é o livro 'A vida secreta das árvores', do pesquisador alemão Peter Wohlleben, que expande para o reino vegetal características até então consideradas exclusivas do reino animal.

Fonte: ISABELLE LIMA - ISABELLE.LIMA@AMAZONSAT.COM.BR

ITTO Sindimadeira_rs