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Organização não governamental Teto – presente em cinco Estados – aplica modelos de moradias formatados pela sede do grupo, no Chile, mas adaptados à realidade brasileira
As casas emergenciais, feitas com madeira, estão entre os focos do trabalho da ONG Teto, que atua no Brasil desde 2006, com atividades nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Bahia e Minas Gerais. As construções são erguidas em locais de alta vulnerabilidade social, com o objetivo de superar a pobreza, lidando diretamente com o grave problema do déficit habitacional no País.
Isso acontece quando a ONG entra nestas comunidades e, em parceria com os moradores, identifica quais deles estão vivendo em condições mais precárias. Os selecionados têm suas casas desmanchadas e, no mesmo lugar, são construídas as novas moradias a partir de um kit pré-formatado pela Teto. O objetivo não é aumentar a área onde estão as habitações e, sim, dar condições mais dignas para aqueles que estão ali.
“Por que casas emergenciais? Identificamos que é um problema urgente e precisa ser resolvido ‘para ontem’. O mínimo que uma pessoa precisa para viver, para conseguir se preocupar com educação de seus filhos, com sua própria educação, com seu trabalho é ter uma moradia digna, onde ela não precisa se preocupar se vai perder tudo se uma chuva chegar. Ou até mesmo uma questão de saúde”, afirma Raphael Gonzaga, coordenador comercial da Teto Brasil no Paraná, em entrevista ao portal Madeira e Construção.
(Foto: Reprodução / Facebook Teto)
Existem dois tipos de casas de madeira que são aplicados nas ações do Teto no Brasil. O modelo original veio da matriz da ONG, que fica no Chile e foi fundada em 1997. A organização está presente hoje em 21 países e cada um deles adaptou o modelo original para as suas realidades. No Brasil, em função dos tamanhos de muitas comunidades e como as casas originais estavam inseridas, houve a necessidade de ampliar o portfólio e ter dois modelos de casas: um de 18 metros quadrados e outro de 14 metros quadrados.
Gonzaga explica que cada casa emergencial é composta por painéis pré-moldados de madeira, feitos por uma empresa parceira no Paraná. Quando são definidas as ações de construção de moradias em determinado local, os pedidos dos kits são encaminhados com cerca de um mês de antecedência para a fábrica. Além dos painéis, o kit contempla 12 pilotis de madeira de eucalipto tratado, que servem para fazer a fundação da casa. A cobertura, composta por uma viga mestra, grelhas de madeira e uma manta térmica, recebe telhas de zinco.
(Foto: Reprodução / Facebook Teto)
“Cada moradia é construída em dois dias, em um fim de semana, por uma equipe composta por 10 voluntários. O grupo conta com dois líderes, com experiência na construção das casas e com o sistema construtivo”, revela o coordenador da Teto no Paraná. O trabalho acontece juntamente com os moradores contemplados e integrantes da comunidade. “É uma responsabilidade muito grande, pois desmontamos a casa daquela família e construímos outra no lugar”, enfatiza.
O custo de cada uma delas, incluindo a logística e outras despesas nas ações preparadas pela ONG para a montagem, é de R$ 5 mil. As doações de pessoas físicas e jurídicas cobrem os gastos. A Teto também utiliza a madeira para a construção de sedes comunitárias, conforme o atendimento às demandas dos moradores dos locais atendidos pela iniciativa.
(Foto: Reprodução / Facebook Teto)
Posteriormente à ação de construção das casas, os voluntários passam nos locais para conversar com os moradores e verificar como estão as moradias e se há casos, por exemplo, de goteiras. Problemas que podem surgir e que possam ser decorrentes da montagem são consertados pela equipe da ONG. Gonzaga esclarece que um grupo de seis a 10 voluntários vai até as comunidades atendidas pela Teto todos os finais de semana para verificar os projetos em andamento e identificar novos projetos e demandas. E, nesta oportunidade, também conversam com os moradores atendidos com as casas emergenciais.
Segundo Gonzaga, as casas emergenciais da Teto podem durar pelo menos 10 anos, dependendo da forma como os moradores as conservam. Cada um deles recebe um manual da moradia, que incluem os cuidados com a madeira, como o tipo de produto que pode ser usado para a sua conservação. O caderno também contempla outras orientações: entre elas, evitar fazer intervenções na casa, como abrir novas janelas e portas.
(Foto: Reprodução / Facebook Teto)
Desde 2006, no Brasil, a Teto construiu 3,5 mil casas emergenciais. No Paraná, onde a ONG atua formalmente desde 2015, foram 284 moradias. A meta é fechar com 300, depois de uma ação preparada para dezembro na comunidade Santa Cruz, em Araucária, na Região Metropolitana de Curitiba. Os trabalhos da ONG no território paranaense estão concentrados em áreas de Curitiba e Região Metropolitana de Curitiba, apesar de já ter realizado ações em outras cidades. Atualmente, a atuação acontece em comunidades nos bairros Novo Mundo, Caximba e Parolin, em Curitiba; no Jardim Independência, em São José dos Pinhais; Vila Nova, em Colombo; Favorita e Santa Cruz, em Araucária.
Continuidade
A ONG Teto também tem em seus planos a construção de casas transitórias e permanentes. A prioridade continua sendo as casas emergenciais, mas aos poucos outra fase de atuação do grupo começa a sair do papel. “As moradias transitórias são um projeto que estamos começando a desenvolver no Brasil”, comenta Gonzaga.
A chamada casa transitória não é feita de madeira, e sim com paredes de fibrocimento, em um sistema construtivo modular, de encaixe. “Já construímos algumas casas piloto, para verificar como ela se comportaria. Agora, vamos construir uma sede comunitária em fibrocimento no início de 2019 para um teste, na comunidade Santa Cruz (Araucária, na Região Metropolitana de Curitiba)”, indica o coordenador da Teto no Paraná.
Gonzaga explica que a opção pelo fibrocimento já veio como modelo da organização e que será aplicado no Paraná. A escolha teria sido motivada pelo peso do material, conforme informações repassadas à reportagem do portal Madeira e Construção. Outros países onde a Teto atua também aplicam projetos de moradias transitórias com fibrocimento; no entanto, há casas deste modelo feitos em madeira em outros países, segundo Gonzaga. No entanto, não houve detalhamento para a reportagem sobre estes projetos e locais onde acontecem, e a razão de a madeira ter sido escolhida nestes casos.
O comando da organização no país sul-americano também decidiu por outro tipo de material para as chamadas casas permanentes, consideradas o ápice no trabalho da ONG. Neste caso, as moradias são feitas de alvenaria.
Segundo Gonzaga, para chegar nas casas permanentes, o caminho é muito mais longo e difícil. “Trabalhamos com assentamentos e ocupações irregulares. Para fazer as permanentes, precisamos ter os terrenos regularizados. E, para isso, precisamos envolver o governo. No Chile, já se trabalha desta maneira, em uma espécie de triângulo, com o governo, iniciativa privada e terceiro setor. Aqui no Brasil, ainda vai demorar um pouco, mas estamos evoluindo”, analisa.
Para se referir ao plano das casas permanentes da ONG, ele faz uma analogia ao programa habitacional Minha Casa Minha Vida, do governo federal. “Envolve a iniciativa privada com o financiamento; o governo para regularizar estas comunidades; e o terceiro setor para a mão de obra e o conhecimento da construção”, salienta Gonzaga. Ainda não há previsão de quando as casas permanentes podem ser construídas no Brasil.
Além da moradia
A Teto é mais conhecida pelo trabalho das moradias, mas também atua em outras frentes de infraestrutura nas comunidades, como projetos de fossas ecológicas e captação de água da chuva, por exemplo. A ONG também tem um programa de formação de lideranças comunitárias, realiza levantamentos socioeconômicos nas áreas atendidas e ainda aplica o chamado FunTeto, um edital de financiamento de projetos comunitários.
Neste caso, os voluntários da Teto capacitam os moradores para a elaboração e apresentação de projetos, não apenas para a própria ONG, mas também para empresas ao redor da comunidade. Cada projeto que parte dos moradores passa por uma banca e, se aprovado, recebe financiamento de 60% da Teto. Os outros 40% devem ser financiados por moradores, seja eles mesmo absorvendo isto, arrecadando valores, acionando parceiros ou conseguindo o apoio de empresas.
Para saber mais sobre a ONG Teto, clique aqui.
Fonte: Por Joyce Carvalho para o portal Madeira e Construção
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