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REVISTA DA MADEIRA - EDIÇÃO N°68 - DEZEMBRO DE 2002

Pragas

Pragas

A economia brasileira até o início da década de 1990, apresentava-se praticamente fechada ao comércio internacional. Com a abertura econômica e a própria globalização houve um aumento substancial na movimentação de mercadorias, propiciando um alto risco de introdução de pragas exóticas. Estes riscos são potencializados quando referem-se à pragas florestais.

Dentre as mercadorias de origem florestal, a madeira não processada, especialmente em toras, são materiais apropriados para a introdução de muitas espécies de besouros de casca e brocas da madeira. Madeiras utilizadas para acomodação de cargas, nos diferentes meios de transporte, assim como a madeira de paletes e de embalagens(caixas, caixões, carretéis, etc.) são materiais de alto risco. Normalmente estes materiais são fabricados com madeira de baixa qualidade, ou de sobras de madeira e devido ao grande volume são difíceis de serem inspecionadas pelos serviços quarentenários.

A existência de extensas áreas contínuas de reflorestamentos,no Brasil, principalmente com espécies de Pinus spp. (2,2 milhões de ha) normalmente com uma base restrita de espécies e procedências por região bioclimática, oferecem condições propícias para a colonização, estabelecimento e dispersão de pragas exóticas. Desta forma, nos ultimos anos, foram registrados surtos tanto de espécies exóticas, como a vespa-da-madeira, os pulgões gigantes do pinus, do gênero Cinara, bem como do macaco-prego, um animal nativo que adaptou-se aos plantios homogêneos de pinus e uma doençça causada pelo fungo Armillaria sp.

Sirex noctilio

A vespa-da-madeira, Sirex noctilio é um inseto originário da Europa, Ásia e norte da África, e foi sido introduzido acidentalmente no Brasil e registrado pela primeira vez em 1988. Como o seu ataque leva as plantas à morte, é considerada a principal praga dos reflorestamentos de pinus no Brasil. Encontra-se atualmente distribuída pelos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, em uma área de aproximadamente 350.000 hectares.

Em alguns casos, esta praga provocou até 60% de mortalidade nos plantios de Pinus. Por tratar-se de uma espécie exótica, introduzida sem o seu complexo de inimigos naturais, tornou-se uma séria ameaça aos plantios de Pinus spp. no país. Além disso, os monocultivos contínuos facilitaram o seu estabelecimento, colonização e dispersão. Entretanto, face às medidas de monitoramento e controle preconizadas pela Embrapa Florestas e adotadas pelos produtores, a sua dispersão tem sido retardada. O controle biológico, associado ao manejo florestal adequado, demonstraram ser efetivos no combate à praga.

O grande avanço para o controle da praga, foi propiciado pela grande integração entre órgãos públicos e empresas privadas com a criação, em 1989, do Fundo Nacional de Controle à Vespa-da-Madeira (FUNCEMA), que tem sido um exemplo efetivo de parceria entre setor público e privado, inclusive a nível internacional. Este fundo é mantido pelas associações de reflorestadores do Sul do Brasil, Associação Gaúcha de Empresas Florestais (AGEFLOR), Associação Catarinense de Reflorestadores (ACR) e a Associação Paranaense de Empresas de Base Florestal (APRE), integradas na Associação Sul Brasileira de Empresas Florestais (ASBR), contando com o apoio do Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e Secretarias Estaduais de Agricultura, Embrapa, entre outras.

O Programa de Manejo Integrado da Vespa-da-madeira, instituído pelo MAPA e com o apoio técnico e financeiro da Embrapa Florestas e do Funcema, respectivamente, envolve as seguintes atividades: 1. monitoramento para a detecção precoce da praga, através de árvores armadilha; 2. avaliação dos níveis de ataque, visando monitorar a dispersão da praga como também auxiliar no planejamento das atividades de controle, através da técnica de amostragem seqüencial; 3. controle preventivo, através da realização de desbastes nas épocas adequadas, principalmente do desbaste seletivo, com a retirada de árvores danificadas por fatores bióticos e/ou abióticos, que são extremamente susceptíveis ao ataque, pois a vespa-da-madeira é atraída para árvores estressadas. 4. controle biológico, que é a fase mais importante e de maior impacto do processo.

Controle Biológico

O programa de controle biológico da vespa-da-madeira, com o uso do nematóide Deladenus siricidicola e do parasitóide de ovos, Ibalia leucospoides, além dos parasitóides Megarhyssa nortoni e Rhyssa persuasoria, talvez seja um dos maiores programas de controle biológico no mundo e sua implantação e execução contou com o apoio de importantes organismos internacionais como a FAO, CSIRO/Austrália, Instituto Internacional de Controle Biológico (IIBC/CAB), USDA Forest Service, Comissão Florestal da Tasmânia, entre outros.

O nematóide Deladenus siricidicola, principal inimigo natural da vespa-da-madeira foi importado da Austrália e a tecnologia para sua produção massal, no laboratório de Entomologia da Embrapa Florestas foi adaptada pela equipe do projeto. Os nematóides são distribuídos aos produtores com plantios de pinus atacados pela praga, na forma de doses de 20ml. Cada dose contém cerca de um milhão de nematóides. Com cada dose é possível tratar, aproximadamente, dez árvores.

Os nematóides são inoculados nas árvores atacadas. Para isso, é preparada uma solução de gelatina a 10%, onde os nematóides são misturados e posteriormente introduzidos dentro das árvores. Agindo pela esterilização das fêmeas do inseto, atingem um nível médio de eficiência de 70%, podendo, em alguns casos, chegar a até 100%.

O controle da vespa-da-madeira é realizado também pela utilização de parasitóides. Uma das espécies, Ibalia leucospoides, foi introduzida naturalmente junto com seu hospedeiro, e por apresentar uma dispersão muito boa, é encontrada em todos os plantios de pinus atacados pela praga. As espécies Megahyssa nortoni e Rhyssa persuasoria foram introduzidas da Austrália em 1996/97 e estão sendo criadas no Laboratório de Entomologia da Embrapa Florestas para liberação em plantios atacados pela vespa-da-madeira. Com a utilização do complexo das três espécies de parasitóides espera-se uma eficiência média de 40%.

Atualmente são usuários deste processo, cerca de 120 empresas florestais localizadas nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná . Além disso, esta tecnologia foi transferida para a Argentina e Chile. Algumas empresas do Uruguai também contrataram participantes do projeto para a realização de treinamentos e consultorias, além de solicitarem doses de nematóides.

Nestes mais de dez anos de atividades, com a adoção das medidas de monitoramento e controle da praga, tem sido possível uma redução das perdas anuais da ordem de US$ 4.6 milhões, considerando-se um nível médio de controle de 70%, em aproximadamente 350 mil ha de Pinus spp. onde a praga esta presente.

Também em função do pioneirismo da equipe do projeto no controle desta praga no Brasil e em função do sucesso do Programa Nacional de Controle à Vespa-da-Madeira, a Embrapa Florestas foi reconhecida pelo COSAVE (Comitê de Sanidade Vegetal do Conesul), como centro de referência para o controle desta praga.

A introdução e uso do nematóide Deladenus siricidicola, que atinge em média 70% de parasitismo e também o uso dos parasitóides Ibalia leucospoides, Megarhyssa nortoni e Rhyssa persuasoria, tem resultado no sucesso do Programa Nacional de Controle à Vespa-da-Madeira (PNCVM).

Pulgões do Pinus

O gênero Cinara é constituído de indivíduos adultos que variam de 2 a 5 mm de comprimento, são de coloração escura, com longas patas e, é conhecido como o dos afideos gigantes das coníferas.

Algumas espécies do gênero Cinara que atacam coníferas nos Estados Unidos são bem grandes, levemente cobertos por uma camada de cera em pó, com patas compridas, alimentam-se sobre a casca, de ramos de plantas maiores e no caule de plantas pequenas .

As espécies de Cinara formam grandes colônias no caule de coníferas. Muitas vezes estão acompanhadas por formigas, as quais se alimentam sobre o "honeydew", uma substância açucarada produzida pelos afídeos. Freqüentemente as árvores afetadas ficam enegrecidas devido a fumagina que se desenvolve nesta substância. O primeiro problema observado em árvores próximas de cidades, parques ou casas, são as gotículas de "honeydew" sobre os carros, mesas de picnic e calçadas .

Na América do Sul, o gênero Cinara foi detectado pela primeira vez, em Cupressus lusitanica, na Colômbia, no ano de 1973. No Brasil as espécies mais importantes são C. atlantica e C. pinivora, introduzidas em 1998 e 1996, respectivamente.

Estes afideos ocorrem normalmente onde as coníferas são encontradas, eles são amplamente distribuídos na Ásia, Europa e América do Norte. Todas as espécies alimentam-se de ramos, brotos e ocasionalmente raízes de coníferas das famílias Cupressaceae e Pinaceae. A espécie mais importante que ataca os plantios de Pinus spp da região sul dos Estados Unidos é Cinara atlantica , espécie esta predominante também no Brasil.

Os danos podem ser causados pela extração dos nutrientes, por toxinas contidas nas secreções salivares ou através do aparecimento de fungos causadores do fenômeno conhecido como fumagina. Pode-se observar também, algumas modificações morfológicas próximas ao local de alimentação, como: afilamento irregular do tronco, dilatação nodal e rompimento da casca, todos eles contribuem para a redução do valor econômico da madeira.

Os adultos e as ninfas sugam a seiva da planta através dos tecidos do floema da planta hospedeira. A alimentação causa dissecação do tecido da planta. Altas populações de Cinara são capazes de causar queda dos ramos e morte da árvore. Os fungos associados às colônias causam descoloração da folhagem e interferem na troca de gases e na fotossíntese.

Face aos danos aparentes que estes insetos vêm provocando, principalmente em plantios jovens de Pinus spp., faz-se necessário o desenvolvimento de pesquisas a fim de caracterizá-los e quantificá-los para estabelecer-se estratégias de controle. São necessários também, estudos a respeito da flutuação populacional da praga, em diferentes regiões bioclimáticas, para conhecer-se a época de ocorrência dos picos populacionais das duas espécies e de seus inimigos naturais, para o fornecimento de dados básicos, para futuros programas de controle, com ênfase ao controle biológico e ao controle silvicultural.

Manejo Integrado

O controle efetivo dos afídeos, assim como, de qualquer outra praga é melhor conduzido dentro de um contexto de manejo integrado de praga. Este método consiste na aplicação de um número de medidas ecologicamente aceitáveis, como medidas biológicas, culturais, genéticas, mecânicas e químicas, usadas de forma individual, ou em combinação para reduzir a população de pragas a níveis toleráveis. O uso de químicos pode ser parte de um programa de manejo integrado de pragas utilizado esparsamente e como um último recurso.

O desenvolvimento de um programa de manejo integrado de praga requer um exame mais profundo das táticas de monitoramento e controle das espécies de afídeos, para determinar a combinação mais efetiva. Esta combinação com certeza irá variar de região para região. Por isso que o programa de manejo integrado deverá ser necessariamente flexível e adaptável. Deverá ocorrer também, um balanço entre soluções de curto e longo prazo, desde que ambas soluções se completem e sejam suficientes.

No caso da ocorrência de Cinara spp., no Brasil, com o aumento dos riscos ambientais, associados ao controle quimico, uma grande atenção deverá ser dada aos métodos biológicos e silviculturais para controlar estas pragas . Isto não quer dizer que deva-se esquecer das pesquisas visando a seleção de ingredientes ativos, para um uso emergencial de controle químico.O controle silvicultural de pragas poderá ser realizado de forma gradual ou repentinamente, usando-se espécies alternativas, plantios multiclonais ou uma mistura de espécies nas plantações e também a resistência genética de plantas à praga. Outras soluções, como a colheita antecipada para salvar a madeira, escolha de sítios para o plantio, ou para a realização de tratos silviculturais emergenciais, também poderão ser utilizadas.

A utilização destas táticas de controle de forma integrada tem como objetivos a obtenção de soluções que tenham uma vida longa, sejam menos custosas ao longo do tempo e tenham um mínimo de efeitos indesejáveis ao ambiente.

O método de controle biológico envolve a identificação e avaliação de inimigos naturais de Cinara atlantica e C. pinivora detectados no Brasil, além da introdução de parasitóides. Estes suplementarão o complexo de inimigos naturais já existentes, composto, principalmente por predadores das famílias Coccinelldae (joaninhas), Sirphidae (moscas) e Crisopidae (bichos lixeiros). Os parasitóides são uma importante parte do complexo de controle natural dos afídeos da família Lachnidae, oferecendo um grande potencial para o controle biológico. Vespas da família Braconidae, dos gêneros Pauesia e Xenostigmus atacam todas as espécies de afídeos Lachnidae.

Desta forma foi elaborado um projeto de cooperação entre Embrapa – Departamento de Zoologia da Universidade Federal do Paraná – FUNCEMA e Museu de História Natural de Illinois, para a introdução deste inimigos naturais no Brasil. A exploração (coleta) de inimigos naturais esta sendo realizado no sudeste dos Estados Unidos, principalmente na Georgia, Carolina do Sul, Kentucky e Flórida para coleta de parasitóides. Os primeiros exemplares destas vespinhas foram introduzidas no Brasil, em maio e junho de 2002, para serem estudadas quanto as suas as exigências biológicas, para otimização da sua criação em laboratório, para uma liberação futura, em campo.