Voltar
Notícias
07
mar
2012
(SETOR FLORESTAL)
A manufatura cresce à sombra da floresta
No imaginário, inclusive dos brasileiros, a Amazônia até pode ser um mosaico de várias situações, onde prevalece o exótico. Floresta, índios, rios, animais ameaçados de extinção, garimpo e violência são referências da região. Mas uma faceta praticamente desconhecida até mesmo da população local é a indústria de transformação das riquezas naturais. Canteiros de obras (hidrelétricas) e a expansão da exploração mineral, principalmente, estão cada vez mais presentes na cena de um dos territórios mais cobiçados do mundo. Diversificam a forma de ocupação e uso da terra, dando continuidade ao processo iniciado algumas décadas atrás nos nove estados que compõem a Amazônia Legal.
“Indústria da Transformação” é uma parte da exposição “Amazônia – Estradas da Última Fronteira”, que reúne 100 fotografias do paraense Paulo Santos, 46 anos, e que ficará aberta ao público até o próximo dia 17, no Museu Nacional, em Brasília (DF). Compõem o retrato visual multifacetado da Amazônia outros dois módulos: “Povos da Mata” e “Estradas da Última Fronteira”. São parte de um acervo de cerca de 700 mil imagens acumuladas em quase trinta anos de andanças pela região, e captadas com a observação subjetiva de “dentro para fora” – de quem nasceu e vive este universo sem deixar de estar conectado ao mundo globalizado.
Com a experiência adquirida no fotojornalismo – trabalhou em vários jornais, criou a Agência Interfoto e há sete anos é correspondente da agência inglesa Reuters –, Santos documenta as transformações no cenário da região e cria um acervo peculiar. “É o ponto de vista de quem vive no lugar, se aventurou nas matas, atravessou rios, lagos e igarapés, perdeu-se nas curvas e desvios para revelar as várias faces de uma realidade pouco conhecida em suas entranhas”, como observa Ernani Chaves, doutor em Filosofia e autor de um ensaio sobre a obra de Santos que será publicado no livro em elaboração, que levará o mesmo nome da mostra.
Em “Povos da Mata”, se sobressai um olhar mais autoral sobre a Amazônia, suas paisagens e seus habitantes. Já “Estradas da Última Fronteira” refere-se ao testemunho da tensão e conflitos, o avesso da paisagem paradisíaca, a realidade dura que remete às fronteiras nas quais se evidenciam interesses econômicos e políticos, nacionais e internacionais, que fragilizam as potenciais riquezas naturais e culturais. “Ao invés de tornarem sustentáveis esses bens, os múltiplos interesses conduzem essas riquezas às condições adversas que geram lutas e violência”, diz a curadora da mostra, Marisa Mokarzel, doutora em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará e mestre em História da Arte pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.
O inusitado salta das imagens do módulo “Indústria de Transformação”, referentes às empresas instaladas na região, algumas ex-estatais que inauguraram o ciclo de grandes projetos industriais na Amazônia – caso da Vale, a maior produtora de minério de ferro e pelotas no mundo, cuja maior operação localiza-se em Carajás, no Pará. Embora responsáveis por parte relevante do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, os grandes processos da indústria pesada – como a Alunorte, maior refinaria de alumina do planeta –, Albras – uma das maiores fábricas de alumínio do mundo e a maior produtora do Brasil – fazem parte de um lado desconhecido da Amazônia. Em 2020, a Região Norte representará 85% da expansão da potência instalada de energia elétrica, usando usinas movidas pela força dos rios.
“As imagens desses grandes empreendimentos, na maioria das vezes, realizados por encomenda, conjugam a especificidade do assunto com predominância de uma estética de caráter futurística, como se o fotógrafo acreditasse que, em situações ideais, a Amazônia tem condições de conjugar a exuberância de sua beleza com o desenvolvimento industrial”, analisa a curadora da exposição. No fundo, é a expressão do desejo de Santos que, de maneira responsável, essa indústria longe do Brasil industrializado e embrenhada na mata seja capaz de possibilitar o crescimento econômico de uma região que necessita urgente de ações adequadas e justas, fornecendo à sua população uma vida digna.
“Infelizmente, as políticas públicas, inclusive os projetos e obras faraônicos não evitaram a crescente violência pela posse da terra, o desmatamento irracional, a exploração ilegal de madeira, a permanência de condições subumanas nos garimpos, a impunidade dos crimes que tira a vida de lideranças comunitárias defensoras dos povos nativos e das florestas”, enfatiza Santos. Seu raciocínio é reforçado pelos pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Especiais (Inpe), Phillippe Léna e Roberto Araújo – irmão de Paulo Santos –, autores de um dos textos do livro “Desenvolvimento Sustentável e Sociedades na Amazônia”.
Durante os últimos anos, a multiplicação dos atores, das políticas públicas e das iniciativas da sociedade civil tornou o cenário amazônico mais diversificado e complexo, mais difícil de interpretar, avaliam Araújo e Léna. “Podemos observar tanto a permanência de antigos conflitos quanto o surgimento de novas configurações sociais e políticas”, diz Araújo e Léna.
O gigantismo das indústrias de base que impulsionam a produção e exportação de commodities brasileiras é um desses novos elementos do cenário amazônico. E criam mais um paradoxo, evidenciando ao mesmo tempo a proximidade física e a distância entre as máquinas, a paisagem e seus habitantes. “Essa ampla abordagem é uma tentativa de interpretar, mas também de instigar a reflexão, o debate e formulação de um pensamento crítico”, destaca o autor. Neste sentido, o projeto embute uma proposta educativa, com a capacitação de mediadores, visitas orientadas, trabalhos com comunidades, escolas e universidades, além de palestras e edição de três livros sobre os três eixos da exposição.
Um dos textos do livro, assinado pelo professor da Universidade Federal do Pará (UFPA), Maurílio de Abreu Monteiro, – doutor em Desenvolvimento Sustentável do Trópico Úmido – afirma que “a industrialização na Amazônia tem sido um processo tão penoso quanto sua conversão em desenvolvimento socialmente enraizado”. A quase totalidade dos municípios não dispõe de estruturas industriais capazes de transformar, de forma qualificada, as riquezas naturais em mercadorias, acrescenta Maurílio. Como consequência, a Amazônia se ressente dos piores índices de desenvolvimento humano (IDH) do Brasil e de entraves históricos que estão longe de serem equacionados.
“É nesse cenário de riqueza natural e penúria humana, de belezas deslumbrantes e desesperada esperança que se move a lente de Paulo Santos, tanto mais ampla quanto é humana, tanto mais documentarista quanto se voltou, igualmente, para os processos (ou tentativa) de desenvolvimento e para o homem que, em vez de agente, segue a reboque de decisões políticas e econômicas tomadas longe da região”, sublinha.
“Indústria da Transformação” é uma parte da exposição “Amazônia – Estradas da Última Fronteira”, que reúne 100 fotografias do paraense Paulo Santos, 46 anos, e que ficará aberta ao público até o próximo dia 17, no Museu Nacional, em Brasília (DF). Compõem o retrato visual multifacetado da Amazônia outros dois módulos: “Povos da Mata” e “Estradas da Última Fronteira”. São parte de um acervo de cerca de 700 mil imagens acumuladas em quase trinta anos de andanças pela região, e captadas com a observação subjetiva de “dentro para fora” – de quem nasceu e vive este universo sem deixar de estar conectado ao mundo globalizado.
Com a experiência adquirida no fotojornalismo – trabalhou em vários jornais, criou a Agência Interfoto e há sete anos é correspondente da agência inglesa Reuters –, Santos documenta as transformações no cenário da região e cria um acervo peculiar. “É o ponto de vista de quem vive no lugar, se aventurou nas matas, atravessou rios, lagos e igarapés, perdeu-se nas curvas e desvios para revelar as várias faces de uma realidade pouco conhecida em suas entranhas”, como observa Ernani Chaves, doutor em Filosofia e autor de um ensaio sobre a obra de Santos que será publicado no livro em elaboração, que levará o mesmo nome da mostra.
Em “Povos da Mata”, se sobressai um olhar mais autoral sobre a Amazônia, suas paisagens e seus habitantes. Já “Estradas da Última Fronteira” refere-se ao testemunho da tensão e conflitos, o avesso da paisagem paradisíaca, a realidade dura que remete às fronteiras nas quais se evidenciam interesses econômicos e políticos, nacionais e internacionais, que fragilizam as potenciais riquezas naturais e culturais. “Ao invés de tornarem sustentáveis esses bens, os múltiplos interesses conduzem essas riquezas às condições adversas que geram lutas e violência”, diz a curadora da mostra, Marisa Mokarzel, doutora em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará e mestre em História da Arte pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.
O inusitado salta das imagens do módulo “Indústria de Transformação”, referentes às empresas instaladas na região, algumas ex-estatais que inauguraram o ciclo de grandes projetos industriais na Amazônia – caso da Vale, a maior produtora de minério de ferro e pelotas no mundo, cuja maior operação localiza-se em Carajás, no Pará. Embora responsáveis por parte relevante do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, os grandes processos da indústria pesada – como a Alunorte, maior refinaria de alumina do planeta –, Albras – uma das maiores fábricas de alumínio do mundo e a maior produtora do Brasil – fazem parte de um lado desconhecido da Amazônia. Em 2020, a Região Norte representará 85% da expansão da potência instalada de energia elétrica, usando usinas movidas pela força dos rios.
“As imagens desses grandes empreendimentos, na maioria das vezes, realizados por encomenda, conjugam a especificidade do assunto com predominância de uma estética de caráter futurística, como se o fotógrafo acreditasse que, em situações ideais, a Amazônia tem condições de conjugar a exuberância de sua beleza com o desenvolvimento industrial”, analisa a curadora da exposição. No fundo, é a expressão do desejo de Santos que, de maneira responsável, essa indústria longe do Brasil industrializado e embrenhada na mata seja capaz de possibilitar o crescimento econômico de uma região que necessita urgente de ações adequadas e justas, fornecendo à sua população uma vida digna.
“Infelizmente, as políticas públicas, inclusive os projetos e obras faraônicos não evitaram a crescente violência pela posse da terra, o desmatamento irracional, a exploração ilegal de madeira, a permanência de condições subumanas nos garimpos, a impunidade dos crimes que tira a vida de lideranças comunitárias defensoras dos povos nativos e das florestas”, enfatiza Santos. Seu raciocínio é reforçado pelos pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Especiais (Inpe), Phillippe Léna e Roberto Araújo – irmão de Paulo Santos –, autores de um dos textos do livro “Desenvolvimento Sustentável e Sociedades na Amazônia”.
Durante os últimos anos, a multiplicação dos atores, das políticas públicas e das iniciativas da sociedade civil tornou o cenário amazônico mais diversificado e complexo, mais difícil de interpretar, avaliam Araújo e Léna. “Podemos observar tanto a permanência de antigos conflitos quanto o surgimento de novas configurações sociais e políticas”, diz Araújo e Léna.
O gigantismo das indústrias de base que impulsionam a produção e exportação de commodities brasileiras é um desses novos elementos do cenário amazônico. E criam mais um paradoxo, evidenciando ao mesmo tempo a proximidade física e a distância entre as máquinas, a paisagem e seus habitantes. “Essa ampla abordagem é uma tentativa de interpretar, mas também de instigar a reflexão, o debate e formulação de um pensamento crítico”, destaca o autor. Neste sentido, o projeto embute uma proposta educativa, com a capacitação de mediadores, visitas orientadas, trabalhos com comunidades, escolas e universidades, além de palestras e edição de três livros sobre os três eixos da exposição.
Um dos textos do livro, assinado pelo professor da Universidade Federal do Pará (UFPA), Maurílio de Abreu Monteiro, – doutor em Desenvolvimento Sustentável do Trópico Úmido – afirma que “a industrialização na Amazônia tem sido um processo tão penoso quanto sua conversão em desenvolvimento socialmente enraizado”. A quase totalidade dos municípios não dispõe de estruturas industriais capazes de transformar, de forma qualificada, as riquezas naturais em mercadorias, acrescenta Maurílio. Como consequência, a Amazônia se ressente dos piores índices de desenvolvimento humano (IDH) do Brasil e de entraves históricos que estão longe de serem equacionados.
“É nesse cenário de riqueza natural e penúria humana, de belezas deslumbrantes e desesperada esperança que se move a lente de Paulo Santos, tanto mais ampla quanto é humana, tanto mais documentarista quanto se voltou, igualmente, para os processos (ou tentativa) de desenvolvimento e para o homem que, em vez de agente, segue a reboque de decisões políticas e econômicas tomadas longe da região”, sublinha.
Fonte: Liliana Lavoratti
Notícias em destaque

Madeira natural x madeira sintética: quando usar cada uma
Saiba quando optar por madeira natural ou sintética em projetos de decoração. Entenda as vantagens e usos de cada tipo de...
(MADEIRA E PRODUTOS)

Portas tradicionais de madeira estão sendo substituídas por outras que ‘trazem luz’
Nos últimos anos, as tradicionais portas de madeira começaram a perder espaço nas casas. Quem está ocupando este lugar...
(GERAL)

Produção de móveis e colchões cresce 4,9 por cento no 1º quadrimestre
‘Conjuntura de Móveis’ passa a incluir dados de comércio exterior de 25 segmentos da indústria de componentes,...
(MÓVEIS)

Eucalyptus benthamii gera impacto econômico de R$ 6 milhões anuais no Sul do Brasil
A adoção do Eucalyptus benthamii, espécie de eucalipto tolerante a geadas severas, resultou em impactos econômicos...
(MADEIRA E PRODUTOS)

Importadores dos EUA cancelam os contratos de compra de móveis de SC com alíquota de 50 por cento
Empresário diz não ver luz no "fundo do poço" e que entidades cogitam solicitar ajuda ao ex-presidente Jair...
(MERCADO)

Cadastro Florestal tem página reformulada
O Cadastro Florestal teve sua página reformulada, com reestruturação do conteúdo, para facilitar a...
(GERAL)