Voltar

Notícias

03
ago
2011
(CARBONO)
Pequenos agricultores entram no mercado de carbono
Quando o projeto mexicano Bosque Sustentable AC vendeu os primeiros créditos de carbono voluntários da Reserva da Biosfera Sierra Gorda, o padrão Verified Carbon Standard (VCS) ainda nem existia e a Climate, Community & Biodiversity Alliance (CCBA) não tinha aprovado sequer um projeto florestal.

Entretanto, desde então, os padrões viraram uma tendência, e os compradores têm desconfiado cada vez mais de projetos que não estão de acordo com um deles. Isto faz com que pioneiros como o Sierra Gorda, corram o risco de serem deixados para trás justamente pelos mercados que eles ajudaram a criar.

Para evitar esta armadilha e também para aprontar o caminho para projetos similares, a Sierra Gorda encerrou este mês um processo de três anos de validação para se tornar o primeiro projeto mexicano de carbono a ser reconhecido sob o VCS, um padrão muito bem aceito por compradores na determinação da quantidade de carbono estocado nas florestas que pode ser atribuído à ação humana.

O projeto também ganhou a validação “ouro” sob o padrão CCB, que foca nos benefícios além do carbono, como a criação de empregos e a conservação de habitats.

“A validação sob estes padrões demonstra a integridade das compensações geradas pela Sierra Gorda e o valor geral dos esforços para restauração dos ecossistemas, preservação da biodiversidade, redução da pobreza e seqüestro de carbono na Reserva”, comentou o presidente da Fundação das Nações unidas, que comprou a primeira fatia de créditos em 2006, Timothy E. Wirth.

A validação é especialmente significativa, pois o México provavelmente será o primeiro país a ter suas compensações aceitas sob qualquer sistema norte-americano de carbono. Além disso, há um crescente interesse no uso dos créditos de carbono como parte dos compromissos climáticos do próprio país e do mercado voluntário doméstico mexicano.

“Nosso sucesso é um passo na direção certa, mas ainda há um longo caminho a percorrer”, comentou a diretora geral do Grupo Ecológico Sierra Gorda IAP Martha Isabel “Pati” Ruiz Corzo

Pequenos agricultores unidos
Ruiz fundou o Grupo Ecológico Sierra Gorda IAP em 1989 visando incentivar a conservação na região. Como resultado dos esforços da organização, o governo mexicano designou Sierra Gorda como Reserva da Biosfera em 1997, e agora a reserva faz parte da rede mundial da UNESCO além de ser a área protegida com maior diversidade ecossistêmica no México, sendo a segunda em termos de biodiversidade.

Em 1997 o Protocolo de Quioto foi assinado, e não coincidentemente, foi o ano que Ruiz recorreu pela primeira vez aos recursos financeiros do carbono. Inicialmente, ela esperava que o Protocolo tornasse possível que pequenos agricultores recebessem créditos de carbono pelo plantio de árvores.

E então ela percebeu que o processo de Quioto era muito complicado e custoso para dar apoio a este tipo de projetos, se voltando para os mercados voluntários.

Oficialmente nomeado de “Seqüestro de carbono em comunidades de extrema pobreza na Sierra Gorda, México”, o projeto deve incluir 289 pequenos reflorestamentos até 2013, alguns tão pequenos quando meio hectare, em 53 comunidades espalhadas em montanhas, vales e canyons, num total de 305,7 hectares.

“Este é o tipo de gente que você precisa trazer para o mercado se for para ter sucesso”, disse Ruiz. “Infelizmente, o Protocolo de Quioto, e até mesmo o mercado voluntário, estão voltados para projetos maiores, e o resultado é que a população local não pode se beneficiar desta oportunidade”.

A reserva Sierra Gorda também age como um massivo filtro de água para áreas a jusante e abriga uma rica biodiversidade, então um ano após vender a primeira fatia de créditos de carbono, Ruiz decidiu investigar a possibilidade de conseguir a certificação CCB para as áreas de reflorestamento no topo das montanhas, expandindo para abranger outros serviços ecossistêmicos.

A incubadora Katoomba
Em 2007, ela entrou em contato com o diretor da incubadora Katoomba Jacob Olander, buscando conselhos.

Um projeto da organização sem fins lucrativos Forest Trends (editora do Ecosystem Marketplace), a incubadora dá suporte a projetos de carbono que acredita poderem contribuir para a base de conhecimento disponível aos interessados locais, o que também faz parte da missão de Ruiz.
“Revisando as atividades da Sierra Gorda, vimos que a principal oportunidade a curto prazo era agregar valor ao reflorestamento que eles já estavam conduzindo, em parcelas de escala muito pequena com pinheiros nativos em comunidades extremamente pobres, através da certificação VCS e CCB”, comentou Olander.

Virando o jogo
Inicialmente, Ruiz recusou a proposta, em parte por acreditar (e ainda acredita) que padrões globais são burocráticos e caros demais para preencher as necessidades de agricultores de pequena escala. No fim, ela resolveu aceitar as tendências atuais e direcionar o padrão para um caminho mais aceitável para o tipo de gente que ela acredita que mais precisa.

“Estávamos lendo no relatório anual Estado dos Mercados Voluntários de Carbono como cada vez mais compradores queriam o VCS e também escutávamos que a CCBA recomendava combinar a sua validação com outra de algum padrão de contabilização do carbono”, explicou o consultor do projeto Sierra Gorda David Ross. “No fim, simplesmente havia mais argumentos a favor do que contra”.

Replicação – Local e Global
Segundo Ruiz, o valor real virá quando o projeto for replicado, algo que a Sierra Gorda consegue fazer localmente, porém que ela acredita que será difícil a curto prazo.

“Aprendemos muito, mas foi um aprendizado realmente caro e ainda levará tempo até que isto possa ser replicado usando a capacidade local”, pondera. “Sem o apoio do grupo Katoomba, por exemplo, não poderíamos fazer isto acontecer e isto significa que outros não conseguirão o mesmo até que operadores locais aprendam como facilitar o trabalho com tantos proprietários privados”.

Ela acredita que mais projetos piloto são necessários antes que outros projetos locais possam proliferar nos países em desenvolvimento com os padrões existentes. Entretanto, Ruiz enfatiza que os governos locais podem conduzir o processo elaborando seus próprios protocolos, mais adequados às condições locais.

Por exemplo, a Sierra Gorda está comercializando uma série de créditos. Aqueles certificados sob o VCS e CCB são listados como Premium, podendo ser vendidos tanto internacionalmente como domésticamente. Porém, a “cesta” também contem créditos “solidários”, que seguem diretrizes mais flexíveis e são estruturados para venda doméstica. Estes créditos devem ser validados sob a Comissão Nacional de Florestas (CONAFOR).

Como funciona
Apesar de ter sido lançado pelo grupo Ecológico Sierra Gorda em 1997, o projeto tem sido formalmente gerenciado desde 2001 pela Bosque Sustentable. A organização monitora os reflorestamentos para quantificar o dióxido de carbono capturado pelos processos naturais de crescimento das árvores. Posteriormente, a Bosque Sustentable oferece as compensações de carbono nos mercados voluntários nacional e internacional.

Organizações, empresas e indivíduos que desejam contribuir para a luta contra as mudanças climáticas podem calcular a quantidade de gases do efeito estufa que emitem como resultado dos processos produtivos, transporte e eletricidade.

Após reduzir suas emissões ao máximo possível, eles podem escolher “compensar” as emissões remanescentes fazendo uma doação para a Bosque Sustentable, que paga os agricultores para plantar e manejar as árvores que capturam a quantidade correspondente de carbono.

“A Bosque Sustentable representa um projeto de carbono florestal da mais alta qualidade”, comentou o diretor do programa climático da Rainforest Alliance, que fez a validação externa do projeto, Jeff Hayward.

“Ele oferece benefícios significativos tanto para as comunidades locais quanto para a biodiversidade, além da mitigação das mudanças climáticas através do seqüestro de carbono no crescimento das árvores plantadas. Este projeto servirá de modelo para o desenvolvimento de outros projetos de carbono florestal de pequena escala”.

Tradução: Fernanda B. Muller

Fonte: Instituto CarbonoBrasil

Sindimadeira_rs ITTO