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Notícias

29
abr
2011
(EXPORTAÇÃO)
O rebaixamento dos EUA e o setor florestal brasileiro
Nesta semana uma conceituada agência internacional de avaliação de risco afirmou que pôs em perspectiva negativa a avaliação de risco da dívida soberana dos EUA. Apesar de não significar uma avaliação em si, mas sim uma potencial avaliação negativa e de já ser esperada pelo mercado financeiro internacional, resultou em uma queda de mais de 2% nos principais indicadores da Bolsa de Valores de Nova York a mais importante do mundo.

Este impacto pode parecer pequeno aos olhos brasileiros, mas não é. Basta lembrarmos que os retornos anuais médios dos investimentos naquele país são por volta de 6%. Para qualquer outro país do mundo isto significaria uma coisa: aumento do custo de manutenção da dívida, ou seja, dos juros pagos pelo governo no financiamento de seus déficits – equivalente no Brasil à nossa SELIC.

Entretanto isto não se aplica à maior economia do mundo e, em apenas 2 dias, os mercados já recuperaram as perdas do dia do anúncio, uma vez que na realidade pouquíssimos agentes têm dúvidas na capacidade dos EUA em honrar seus compromissos com credores, ou de que o país continuará sendo um porto seguro para o capital internacional.

Porém, nas entrelinhas do que parece ser um assunto meramente monetário, despontam aspectos que atingem diretamente o setor florestal Brasileiro, o câmbio e o custo de capital para as empresas.

O endividamento do governo americano deverá superar os U$14 trilhões no próximo mês sem uma resposta proporcional da economia. Além de ser o fator chave para um possível rebaixamento dos EUA, é também um indicador do provável comportamento do Dólar, o qual tende a desvalorizar-se ainda mais em relação a outras moedas, aumentando a competitividade das empresas estadunidenses no exterior e principalmente em seu mercado interno.

O próprio Ministro da Fazenda Guido Mantega afirma que não fossem as intervenções do atual governo o Dólar poderia estar agora na casa dos R$1,35.

Este não é um bom cenário para alguns segmentos do setor florestal Brasileiro, que apesar de tradicional fornecedor de produtos industrializados como compensados, serrados e móveis, dentre outros, vem desde 2005 perdendo espaço em termos de produtos exportados para os Estados Unidos.

Uma possível solução seria redirecionar a produção para outros países, especialmente a Europa que mesmo em crise possui elevado poder aquisitivo, não fosse a concorrência com os países do leste europeu os quais, além de benefícios tributários, possuem ainda ampla infraestrutura logística para abastecimento do continente.

Não é raro encontrar indústrias cortadas por ferrovias que as abastecem de toras e levam sua produção até os grandes consumidores do continente, minimizando o custo de transporte.

Abastecer países em desenvolvimento também não é uma opção uma vez que estes são, na realidade, nossos concorrentes no mercado internacional possuindo mecanismos consistentes de proteção à sua indústria e interessados apenas em comprar matéria-prima para seu abastecimento, ou produtos de baixo valor agregado para reprocessamento interno.

Por outro lado, se a opinião de uma agência classificatória sobre o risco teórico na divida soberana dos EUA pouco afeta sua capacidade de captação de recursos, o mesmo não se pode dizer sobre o financiamento e/ou vendas de ativos florestais no Brasil. Há uma expectativa de que os agentes fiquem ainda mais avessos a riscos de ativos de longo prazo, exigindo maiores retornos de seus investimentos.

Isto se deve em parte à crença de que a taxa de juros dos EUA em algum momento será elevada, carregando com ela o parâmetro de comparação de todas as demais taxas ao redor do mundo.

Mesmo que esta elevação seja pequena e que a taxa se mantenha abaixo de 1% ao ano – atualmente encontra-se entre 0% e 0,25% ao ano, o impacto psicológico de uma movimentação da maior economia do mundo sobre os gestores de capital é muito forte para ser desconsiderado.

Somados, estes dois fatores (valorização cambial e possível alta na taxa de juros americana) inviabilizariam segmentos do setor florestal nacional não fosse o crescimento da chamada classe C que ao final do ano de 2010 era composta por nada menos de 101 milhões de brasileiros, aquecendo o mercado interno com sua demanda, antes reprimida, de aproximadamente R$ 900 bilhões no mesmo ano.

O potencial que o mercado interno representa, no entanto, é muito maior do que o visto neste ano.
Estima-se um consumo anual médio de madeira industrializada (excluso celulose e papel) da ordem
de 0,19m³ por habitante no Brasil, contra a média de 0,54m³ nos países desenvolvidos.

Atingir esta meta significa um crescimento da ordem de 180% no consumo futuro, amparado no crescimento da renda média da população e na tendência de uso de materiais sustentáveis pela mesma, em substituição a produtos derivados de petróleo e metais.

Se de um lado o cenário externo é ruim para o setor já sobrecarregado com o chamado custo Brasil e que tem que enfrentar barreiras cambiais e mercadológicas, o mercado interno proporciona um cenário favorável no curto e no longo prazo para os que estejam preparados para ele, ofertando produtos de qualidade e que venham ao encontro destes novos consumidores.

Mas não será uma simples substituição de mercado, o novo consumidor nacional é mais exigente, aceitando pagar um pouco a mais por um produto mais elaborado e de maior qualidade (tecnológica, social e ambiental) e aí vem a questão: O setor está preparado para isso? Mais do que nunca planejamento, gestão e estratégia de negócio adequados farão a diferença entre empresas bem sucedidas e as que sairão do mercado.

Eugenio Pitzahn, consultor associado da CONSUFOR
Economista, especialista em projetos e negócios florestais e industriais de base florestal.
consufor@consufor.com

Fonte: Consufor

ITTO Sindimadeira_rs