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Notícias

18
jun
2010
(SUSTENTABILIDADE)
Sustentabilidade ambiental é fator competitivo ao setor moveleiro
Com o tema “Quem inova e respeita a natureza cresce no mercado”, o I Salão de Madeira e Móveis da Região Centro-Oeste, realizado de 9 a 11 de junho pelas unidades do Sebrae em MS, MT, GO e DF, em Brasília, mostrou que as empresas do segmento moveleiro estão atentas às oportunidades e riscos à atividade diretamente relacionadas à sustentabilidade ambiental.

Durante o evento, a programação de palestras, cursos e painéis abordaram temas relacionados aos principais desafios destas indústrias de micro, pequeno e médio portes, como a inovação, o design, a redução de desperdícios e o acesso a mercados.

Dentre eles, segundo o diretor técnico do Sebrae Nacional, Carlos Alberto dos Santos, a questão da harmonia entre processo produtivo e meio ambiente, tem sido indicado como um dos mais importantes valores corporativos para elevar o crescimento econômico e abrir novos mercados.

“No centro da estratégia empresarial está a preocupação com o mercado, que nada mais é que o consumidor, e este exige saber a forma como as coisas são produzidas, se compra, por exemplo, para preservação ou destruição da floresta nativa”, destaca. Para ele, os produtores de móveis devem focar a estratégia no tripé qualidade, inovação e sustentabilidade.

Como é o caso de empresas como a sul-mato-grossense Depósito Aroeira e a goiana U.S.E Móveis Corporativos – União dos Sócios Empreendedores, participantes como expositoras no evento, que conquistaram a atenção do mercado nacional pelo respeito ao meio ambiente.

Sobras viram utilidades

O empresário de Campo Grande (MS), José Carlos Nascimento, tem se destacado no Brasil e em países como Itália, Bélgica e Alemanha pelo negócio ecologicamente correto. Segundo ele, os móveis do Depósito Aroeira são 90% feitos de madeira de demolição e o restante de reflorestamento. “Toda sobra tem utilidade. Cruzetas, dormentes, casas velhas, mangueiros, carroceria de caminhão, tudo que antigamente era lixo, hoje é aproveitado”, afirma.

Quanto ao nome da empresa, ele explica que tem a ver com o início do seu negócio, há 30 anos, a partir da utilização da madeira de uma árvore que aprendeu a respeitar desde a semente. “Comecei como serralheiro. Aprendi sozinho a extrair a semente da Aroeira, espécie difícil, e plantar no tempo certo. Plantei mais de 150 mil e doei milhares para todo o País”, lembra José Carlos, que já foi presidente do Clube da Semente do Brasil, ONG sediada na capital federal.

Na época, fabricava com a Aroeira produtos em geral para fazendas e residências, mas teve que mudar o rumo dos negócios no ano de 2000, com a implantação, envolvendo parte de sua propriedade, do Parque Nacional da Serra da Bodoquena, área de preservação da mata nativa, em Mato Grosso do Sul.

“Meu principal produto era a aroeira. Tive que buscar alternativas. Comecei a fazer móveis de demolição, mas tinham pouca aceitação no mercado local”, lembra. Foi participando de feiras do setor fora do Estado que veio o sucesso. “Um incentivo grande para continuar a fabricar foi o prêmio nacional que ganhamos na EXPOTCHE [Feira da cultura gaúcha no Distrito Federal], em Brasília. Entre mais de 300 expositores fomos os únicos com móveis de reaproveitamento”.

Durante o Mademóvel, o empresário participou da rodada de negócios e, apenas no primeiro dia vendeu R$ 50 mil, e espera outros R$ 100 mil em negociações futuras. Para ele o principal desafio à indústria moveleira no Estado é sair do isolamento. “Sempre busquei o individualismo. De uns tempos pra cá tenho percebido que o trabalho em conjunto com outros empresários e o fator regional agrega mais valor aos nossos produtos”.

Mais recentemente, o empresário passou a aliar o artesanato regional à exposição dos móveis. “Consigo melhorar ainda mais a apresentação dos meus produtos e levo o artesanato sul-mato-grossense para o Brasil todo. Quero participar mais em grupo”.

Empresa de Goiânia quintuplica lucros com adesão à sustentabilidade

O respeito ao meio ambiente também mudou a realidade da U.S.E Móveis Corporativos – União dos Sócios Empreendedores. A indústria, que fica no bairro Goianira, na cidade de Goiânia (GO), adotou medidas ambientais e conseguiu acessar novos mercados, passando seu faturamento anual dos R$ 5 milhões, em 2006, para 52 milhões, em 2009.

Com aumento da demanda, a empresa dos sócios Ricardo Cordeiro de Moraes, Eduardo Alves de Deus, Rodrigo Alves e Francisco de Deus, aumentou, neste primeiro semestre, de 150 para mais de 500 funcionários. A conquista mais recente, há menos de um mês, foi o selo ISO 14001 – Proteção ao Meio Ambiente, que lhe confere ainda estatus competitivo em todo o Brasil.

Mas nem sempre foi assim. “Há 15 anos fazíamos o móvel com o que havia na mata, nem se falava em florestas plantadas”, conta o supervisor regional da U.S.E, Ney Borges. “Hoje, o consumidor valoriza a preocupação ambiental. Conseguimos melhorar nossa posição no mercado quando passamos, há três anos, a adotar 100% de matéria-prima de reflorestamento”. E justifica: “muitos órgãos só compram móveis em licitações se a empresa comprovar que não degrada o meio ambiente”.

Para assumir esta nova posição no mercado, a empresa também implantou um Sistema de Gestão Ambiental. “Foi um processo lento e gradativo. Tivemos que mudar a cultura organizacional”. A engenheira ambiental, Thauana Pessoa, conduz há dois anos na empresa um processo de conscientização dos funcionários, que envolve treinamentos. “Conseguimos que todos contribuíssem fazendo a própria parte e dando sugestões para o novo sistema”, relata.

Ela explica que, com a certificação, dentre as responsabilidades que cumprem estão a destinação adequada dos resíduos gerados, ações de educação ambiental com a comunidade entorno, fazer a coleta seletiva e qualificar fornecedores do ponto de vista ambiental.

Outro compromisso, de acordo com Thauana, é neutralizar os gases emitidos pela indústria. Em parceria com o Instituto Oksigeno, os gases são quantificados e os prejuízos calculados. “Como medida adotamos uma floresta vizinha à industria e vamos plantar em julho 1.200 mudas de árvores nativas do cerrado, respeitando o bioma de Goiás”, explica.

O técnico do Sebrae-DF, James Hilton Reeberg, que palestrou durante o I Mademóvel, diz que além da compra da madeira certificada e a reposição de mudas, a redução de desperdícios é outro aspecto a ser observado pelas indústrias moveleiras. “O mercado cada vez mais vai apertar quem não usa a madeira legal e prejudica o meio ambiente”, destaca. “Se o empresário fizer todo trabalho de reduzir o desperdício, no consumo de água, energia, e no reaproveitamento de resíduos, ele já começa a reduzir o impacto ambiental e seus custos de produção, tendo maior rentabilidade”, complementa.

O projeto da U.S.E, segundo o supervisor regional, Ney Borges, é montar um show room para atender o comércio varejista de Goiânia e só depois buscar mercados externos. “Por enquanto queremos consolidar o mercado interno. Nosso forte é o atacado, venda por licitações para órgãos corporativos, mas o varejo ainda é pequeno e queremos investir neste segmento”.

Ele destaca ainda: “É mais caro comprar madeira certificada, mas o valor agregado na venda é maior. Hoje, participando do Salão [Mademóvel], pudemos mostrar para o pequeno empresário da região que é possível ser uma empresa ecologicamente correta e que é maior o mercado para quem se comporta assim”.

O I Mademóvel ocorrido nos dias 9, 10 e 11 de junho buscou projetar o setor e a produção de móveis das indústrias de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e do Distrito Federal, colocando em contato compradores e produtores. “Esta regionalidade é um diferencial de mercado”, avalia Maristela França, diretora de Operações do Sebrae-MS.

De acordo com o gerente da Unidade de Atendimento Coletivo da Indústria do Sebrae no Distrito Federal, Aluízio Carlos Vilela, mais de 90% dos móveis comprados no DF vêm de outras regiões. Sendo que, desse montante, cerca de 60% são provenientes do sul do País.

Para Maristela, é momento de aproveitar as oportunidades da região em relação ao Brasil e aos países da América do sul. “Temos como fator favorável a proximidade com países de fronteira e a adequação ao meio ambiente. Pela lei ou pela consciência, hoje seguimos os padrões sustentáveis estabelecidos”.

Cerca de 140 empresários do setor moveleiro de Mato Grosso do Sul participaram do evento. “Isso demonstra que o setor está organizado, tem qualidade e está interessado em se manter competitivo”, conclui.

Fonte: Janaína Mansilha-ASN/Total Móveis

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