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Notícias
22
abr
2010
(ECONOMIA)
Economia mundial, para aonde vai?
Depois de uma profunda e extensa contração na atividade econômica, os políticos e os economistas parecem estar convencidos de que o pior passou. No médio prazo, as esperanças para a economia global são de que se volte ao tipo de expansão rápida desfrutada durante os primeiros anos da década e até 2008 sem, no entanto, as fragilidades financeiras e os desequilíbrios comerciais que as acompanharam.
Este otimista cenário depende, em grande parte, de um comedido equilíbrio das economias dos Estados Unidos e da China, respectivamente os países com o maior déficit e o maior superávit. Diante do predominante papel do dólar no sistema internacional de reservas, a estabilidade mundial depende decisivamente de os Estados Unidos ajustarem seus gastos em relação à sua renda e mantenham em equilíbrio sua balança de pagamentos.
Porém, Washington deveria não apenas conter o consumo doméstico como também se voltar para um crescimento orientado pelas exportações. Isso também exigiria que Pequim modificasse seu modelo de crescimento baseado nas exportações por um vínculo ao consumo e que valorize o renminbi, a moeda nacional, em relação ao dólar. Deste modo, podem melhorar as perspectivas para uma estabilidade global sem sacrificar o crescimento.
No entanto, embora este reequilíbrio ocorra suavemente, a maior parte das economias em desenvolvimento e emergentes (DEE) seriam vítimas de um dilema: acabariam prejudicadas se os Estados Unidos fizessem o ajuste e também se não o fizerem. A falta de mudanças as exporia a uma recorrente instabilidade monetária e financeira, enquanto o ajuste norte-americano causaria problemas em várias frentes, como restrições financeiras prejudiciais, particularmente aos países com déficit estrutural externo.
Nenhum país pode substituir os Estados Unidos como locomotiva global. A China não pode fazê-lo, apesar de manter o crescimento de seu Produto Interno Bruto em cerca de 10%, voltado para o consumo doméstico porque seu PIB é cerca de um terço do norte-americano e o consumo familiar é proporcionalmente muito maior nos Estados Unidos. Além disso, enquanto na China a economia sobre a renda disponível é muito maior do que nos Estados Unidos, a porcentagem das importações no consumo familiar chinês é muito menor do que no norte-americano.
Uma reestruturação global não pode excluir os demais países com maior superávit, Japão e Alemanha, que estão sugando a demanda global sem agregar muito ao crescimento global e dependendo muito mais das exportações do que a China.
Porém, há mais problemas causadores dos desequilíbrios. A distribuição da renda também deveria ser parte da solução. A globalização conduzida pelo mercado sistematicamente inclinado à balança do poder econômico contra o trabalho e a favor do capital, como indica a constante redução da porcentagem dos salários no PIB de quase todos os países.
As consequências são o subconsumo nos principais países com superávit, especialmente China, Alemanha e Japão. Apesar desta depressão do consumo, o perigo de uma deflação global foi evitado graças à manutenção de um consumo elevado e do aumento da propriedade imobiliária financiados pelo endividamento e pelos ganhos de capital originados pela rápida expansão do crédito e da inflação de ativos em outros países, especialmente nos Estados Unidos, e em outras economias avançadas e nas DEE.
A economia mundial agora enfrenta um sério dilema: a consolidação financeira nos países com déficit poderia elevar o espectro do estancamento econômico, enquanto um retorno às bolhas financeiras e à expansão impulsionada pelo endividamento poderia significar que a próxima crise seja pior do que a atual. Em um ou outro caso, os ajustes existem apenas na aparência, pois sem restaurar o equilíbrio entre trabalho e capital, nem a estabilidade nem o crescimento podem ser sustentados durante um longo tempo.
Existe, portanto, a necessidade de um ajuste nas quatro maiores economias mundiais (Estados Unidos, China, Japão e Alemanha) para remover os desequilíbrios e garantir uma adequada demanda global sem retornar às bolhas financeiras e ao endividamento. Os Estados Unidos precisam viver com seus próprios meios. China, Alemanha e Japão devem estimular o consumo doméstico aumentando a proporção dos salários no PIB. Todas essas necessidades devem ser complementadas com uma reforma da arquitetura financeira global que inclua a afirmação das nações em desenvolvimento com déficit e endividamento.
Contudo, não há sinais de que este desígnio esteja na agenda dos principais países da comunidade internacional. Assim, a economia mundial, no geral, e das DEE, em particular, podem enfrentar nos próximos anos desafios mais sérios do que os causados pela recente crise global: crescimento fraco, desigual e errático, uma continuada e inclusive mais profunda instabilidade nos mercados monetários e de capital, aumento do protecionismo e do nacionalismo econômico, escalada dos conflitos no sistema comercial internacional e reações antiglobalização. IPS/Envolverde
* Yylmaz Akyuz é assessor econômico especial do Centro do Sul de Genebra e ex-diretor da Divisão sobre Desenvolvimento e Globalização da Unctad. Esta coluna é um resumo do Research Paper 26, apresentado ao Centro do Sul (http://www.southcentre.org).
Este otimista cenário depende, em grande parte, de um comedido equilíbrio das economias dos Estados Unidos e da China, respectivamente os países com o maior déficit e o maior superávit. Diante do predominante papel do dólar no sistema internacional de reservas, a estabilidade mundial depende decisivamente de os Estados Unidos ajustarem seus gastos em relação à sua renda e mantenham em equilíbrio sua balança de pagamentos.
Porém, Washington deveria não apenas conter o consumo doméstico como também se voltar para um crescimento orientado pelas exportações. Isso também exigiria que Pequim modificasse seu modelo de crescimento baseado nas exportações por um vínculo ao consumo e que valorize o renminbi, a moeda nacional, em relação ao dólar. Deste modo, podem melhorar as perspectivas para uma estabilidade global sem sacrificar o crescimento.
No entanto, embora este reequilíbrio ocorra suavemente, a maior parte das economias em desenvolvimento e emergentes (DEE) seriam vítimas de um dilema: acabariam prejudicadas se os Estados Unidos fizessem o ajuste e também se não o fizerem. A falta de mudanças as exporia a uma recorrente instabilidade monetária e financeira, enquanto o ajuste norte-americano causaria problemas em várias frentes, como restrições financeiras prejudiciais, particularmente aos países com déficit estrutural externo.
Nenhum país pode substituir os Estados Unidos como locomotiva global. A China não pode fazê-lo, apesar de manter o crescimento de seu Produto Interno Bruto em cerca de 10%, voltado para o consumo doméstico porque seu PIB é cerca de um terço do norte-americano e o consumo familiar é proporcionalmente muito maior nos Estados Unidos. Além disso, enquanto na China a economia sobre a renda disponível é muito maior do que nos Estados Unidos, a porcentagem das importações no consumo familiar chinês é muito menor do que no norte-americano.
Uma reestruturação global não pode excluir os demais países com maior superávit, Japão e Alemanha, que estão sugando a demanda global sem agregar muito ao crescimento global e dependendo muito mais das exportações do que a China.
Porém, há mais problemas causadores dos desequilíbrios. A distribuição da renda também deveria ser parte da solução. A globalização conduzida pelo mercado sistematicamente inclinado à balança do poder econômico contra o trabalho e a favor do capital, como indica a constante redução da porcentagem dos salários no PIB de quase todos os países.
As consequências são o subconsumo nos principais países com superávit, especialmente China, Alemanha e Japão. Apesar desta depressão do consumo, o perigo de uma deflação global foi evitado graças à manutenção de um consumo elevado e do aumento da propriedade imobiliária financiados pelo endividamento e pelos ganhos de capital originados pela rápida expansão do crédito e da inflação de ativos em outros países, especialmente nos Estados Unidos, e em outras economias avançadas e nas DEE.
A economia mundial agora enfrenta um sério dilema: a consolidação financeira nos países com déficit poderia elevar o espectro do estancamento econômico, enquanto um retorno às bolhas financeiras e à expansão impulsionada pelo endividamento poderia significar que a próxima crise seja pior do que a atual. Em um ou outro caso, os ajustes existem apenas na aparência, pois sem restaurar o equilíbrio entre trabalho e capital, nem a estabilidade nem o crescimento podem ser sustentados durante um longo tempo.
Existe, portanto, a necessidade de um ajuste nas quatro maiores economias mundiais (Estados Unidos, China, Japão e Alemanha) para remover os desequilíbrios e garantir uma adequada demanda global sem retornar às bolhas financeiras e ao endividamento. Os Estados Unidos precisam viver com seus próprios meios. China, Alemanha e Japão devem estimular o consumo doméstico aumentando a proporção dos salários no PIB. Todas essas necessidades devem ser complementadas com uma reforma da arquitetura financeira global que inclua a afirmação das nações em desenvolvimento com déficit e endividamento.
Contudo, não há sinais de que este desígnio esteja na agenda dos principais países da comunidade internacional. Assim, a economia mundial, no geral, e das DEE, em particular, podem enfrentar nos próximos anos desafios mais sérios do que os causados pela recente crise global: crescimento fraco, desigual e errático, uma continuada e inclusive mais profunda instabilidade nos mercados monetários e de capital, aumento do protecionismo e do nacionalismo econômico, escalada dos conflitos no sistema comercial internacional e reações antiglobalização. IPS/Envolverde
* Yylmaz Akyuz é assessor econômico especial do Centro do Sul de Genebra e ex-diretor da Divisão sobre Desenvolvimento e Globalização da Unctad. Esta coluna é um resumo do Research Paper 26, apresentado ao Centro do Sul (http://www.southcentre.org).
Fonte: IPS/Envolverde
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