Voltar
Notícias
08
ago
2009
(CARBONO)
Lei inclui agricultura no comércio de carbono nos EUA
Os produtores rurais dos Estados Unidos poderão aumentar sua renda vendendo créditos de carbono se o Senado aprovar o projeto de lei que instaura um sistema de redução nas emissões no país. Estudo preparado pela Agência de Proteção Ambiental (EPA) estima que a receita bruta anual com a venda de créditos de carbono pelos produtores alcançaria US$ 2,1 bilhões no cenário de curto prazo (2012-2018), US$ 7,6 bilhões no de médio prazo (2027-2033) e US$ 28,4 bilhões na projeção de longo prazo (2042-2048). Projetos de redução nas emissões das fazendas gerariam 70 milhões de toneladas em créditos em 2020 e 465 milhões de toneladas em 2050 (cada crédito equivale a uma tonelada).
A opção de comprar créditos gerados por atividades não reguladas (sem obrigação de diminuir emissões), como a agricultura, é prevista na proposta norte-americana e poderia ser utilizada pelas empresas para cumprir parte de suas metas. Anualmente, as empresas poderiam comprar um total de 2 bilhões de toneladas em créditos de atividades não reguladas, inclusive gerados no exterior, como em programas de desmatamento evitado nas florestas tropicais.
Trata-se de um instrumento similar ao Mecanismo de Desenvolvimento Limpo do Protocolo de Kyoto (MDL), que permite a empresas de países desenvolvidos realizar parte de suas metas comprando créditos de carbono de projetos de nações em desenvolvimento.
Seria a primeira vez no mundo que um sistema compulsório de cortes nas emissões incluiria a agricultura com um peso significativo nos esforços de mitigação dos gases de efeito estufa. Se aprovado pelo Senado, o Ato de Segurança e Energia Limpa dos EUA fortalecerá os argumentos de governos, setor privado e segmentos importantes do ambientalismo em defesa de mecanismos de mercado na implementação do REDD (Redução das Emissões do Desmatamento e da Degradação) e da inclusão de projetos agropecuários no cumprimento das metas. Emissões associadas ao uso da terra representam quase um terço dos gases de efeito estufa liberados na atmosfera: a agricultura responde por quase 14% das emissões globais e o desmatamento por outros 17%.
No sistema proposto nos EUA, a receita dos produtores rurais aumentaria gradativamente à medida que as metas se tornassem mais severas, com efeito direto no preço do carbono, que subiria de US$ 13 a tonelada (2012) para US$ 16 (2020), US$ 27 (2030) e US$ 70 (2050), de acordo com as projeções da EPA. A proposta da nova legislação de clima e energia dos EUA, que começaria a vigorar em 2012, prevê redução de 17% nas emissões de gases de efeito estufa medidas em CO2 equivalente em 2020 na comparação com o patamar de 2005 e de 83% em 2050. Quanto menos emissões, mais escasso será o volume de permissões (direitos de emitir carbono), causando alta nos preços do gás.(1)
Ganho líquido seria significativo
Mesmo subtraindo da receita bruta gastos com a implementação de atividades de redução de carbono para a geração de créditos, ainda sobraria muito dinheiro nas mãos de agricultores e pecuaristas.
Na fase inicial do sistema de redução nas emissões, entre 2012 e 2018, a EPA projeta receita líquida anual de US$ 1 bilhão a US$ 2 bilhões. O valor subiria ano a ano até alcançar US$ 20 bilhões em 2050. Para gerar créditos de carbono, os agricultores desenvolveriam inúmeros projetos tais como o plantio direto (2) e práticas de conservação para fixar carbono no solo, o plantio de florestas e atividades que diminuam a produção de metano em lavouras e criações animais e de óxido nitroso na aplicação de fertilizantes.
O Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) ainda não efetuou seus próprios cálculos relativos à receita com créditos de carbono no setor rural. Por isso, está utilizando os números da EPA, que agrega em suas estimativas a redução de carbono no manejo florestal, atividade que normalmente não entra nas projeções do USDA. De qualquer forma, nos números da EPA usados na análise sobre a nova legislação que o USDA publicou no final de julho, a venda de créditos de atividades agrícolas representa cerca de 70% da receita bruta total de US$ 28 bilhões em 2050 (que inclui o manejo florestal).
“Parece que a médio e longo prazo a receita líquida das compensações (créditos de carbono) provavelmente ultrapassará os custos de implementação da nova legislação climática, talvez substancialmente”, prevê o USDA. Os gastos de agricultores e pecuaristas com eletricidade, combustíveis e fertilizantes aumentariam anualmente em US$ 700 milhões no cenário de curto prazo e US$ 5,6 bilhões na projeção de longo prazo, segundo os cálculos do órgão. Até 2025, o principal impacto no bolso do produtor viria do consumo de combustíveis e eletricidade. Até lá, as vendas de fertilizantes seriam subsidiadas para atenuar os impactos da lei nos custos agrícolas.
Poucas opções
Até hoje, o MDL tem sido a única opção para o setor agrícola vender créditos de carbono a fontes reguladas (com obrigação de reduzir emissões). Mesmo assim, a maior parte dos projetos do setor registrados no MDL relaciona-se à co-geração elétrica por biomassa, sobretudo o bagaço de cana-de-açúcar, e à queima de metano resultante da decomposição de dejetos suínos.
Apenas em meados de julho, o Conselho Executivo do MDL aprovou a primeira metodologia estritamente agrícola, que permitirá o desenvolvimento de atividades de fixação biológica de nitrogênio em leguminosas, tais como a soja. A tecnologia vai eliminar o uso de fertilizantes sintéticos, que são fabricados a partir de derivados de petróleo e liberam gás carbônico. A metodologia foi desenvolvida pela Amson Technology LC, uma consultoria especializada em reduções nas emissões de gases-estufa, a Becker Underwood Inc., empresa de bioagronomia, e a Point Carbon, líder em soluções de mercado para diminuir as emissões.
Projetos mais associados ao cultivo, com boas práticas como o plantio direto, apresentam inúmeros desafios metodológicos. Isso explica em boa parte a ausência no MDL de propostas associadas ao manejo do solo. Uma das dificuldades é medir a quantidade de carbono, que varia em função da lavoura, do tipo de solo e do manejo nele efetuado.
“Outro desafio é o de assegurar que uma boa prática agrícola como o plantio direto continuará sendo realizada ao longo de todo o período de validade do crédito de carbono”, assinala Laura Antoniazzi, pesquisadora do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Ícone), de São Paulo. O Icone iniciou este ano estudo sobre impactos e oportunidades para a agricultura brasileira no tema das mudanças climáticas.
Enquanto os órgãos federais de agricultura e meio ambiente dos EUA já fazem análises sobre a futura legislação climática, no Brasil, outra potência agrícola, o Ministério da Agricultura (MAPA) permanece distante das negociações do regime climático pós-2012. Há, contudo, movimentação interna de alguns técnicos no ministério para que a pasta execute uma plataforma da agricultura para as mudanças climáticas.
Também na área agrícola brasileira, mais uma vez a ciência segue bem à frente dos tomadores de decisão e do setor privado no tema climático. Um destaque no assunto é a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que conta com algumas dezenas de pesquisadores dedicados a estudar os impactos das mudanças climáticas na agricultura. O problema, porém, é a falta de operação do MAPA na arena da política do clima, ainda monopolizada no governo federal pelos ministérios de Ciência e Tecnologia (MCT) e Meio Ambiente (MCT). Oxalá o crescente envolvimento dos EUA com a questão desperte seu principal concorrente no mercado agrícola, o Brasil, para o potencial econômico do tema das mudanças climáticas no setor rural.
Serviço
(1) O Ato de Segurança e Energia Limpa, que conta com apoio da administração Obama, prevê a distribuição de uma cota de permissões (direitos de emitir carbono) para cada empresa. Cada permissão equivale a uma tonelada de carbono. Quem emitir carbono acima de sua cota, precisará cobrir a diferença comprando permissões de empresas que possuírem sobras de carbono por terem emitido gases abaixo do limite máximo de sua cota. O sistema proposto, conhecido pela expressão inglesa “cap and trade”, inspira-se no bem-sucedido programa estadunidense de redução nas emissões de dióxido de enxofre e óxidos de nitrogênio, gases responsáveis pela chuva ácida. O mecanismo também foi adotado pela União Européia na implementação de seu esquema de comércio de carbono, criado para os países do bloco cumprirem suas metas no Protocolo de Kyoto.
(2) O plantio direto é um sistema de manejo em que a palha e os restos vegetais da safra colhida são deixados na superfície do solo. Evita-se, assim, que o solo seja revolvido, além do estritamente necessário (apenas nos sulcos onde as sementes são depositadas), e se diminui o uso de fertilizantes. O sistema fixa carbono no solo e reduz emissões de óxido nitroso e dióxido de carbono oriundas do ciclo de produção e consumo dos adubos nitrogenados.
A opção de comprar créditos gerados por atividades não reguladas (sem obrigação de diminuir emissões), como a agricultura, é prevista na proposta norte-americana e poderia ser utilizada pelas empresas para cumprir parte de suas metas. Anualmente, as empresas poderiam comprar um total de 2 bilhões de toneladas em créditos de atividades não reguladas, inclusive gerados no exterior, como em programas de desmatamento evitado nas florestas tropicais.
Trata-se de um instrumento similar ao Mecanismo de Desenvolvimento Limpo do Protocolo de Kyoto (MDL), que permite a empresas de países desenvolvidos realizar parte de suas metas comprando créditos de carbono de projetos de nações em desenvolvimento.
Seria a primeira vez no mundo que um sistema compulsório de cortes nas emissões incluiria a agricultura com um peso significativo nos esforços de mitigação dos gases de efeito estufa. Se aprovado pelo Senado, o Ato de Segurança e Energia Limpa dos EUA fortalecerá os argumentos de governos, setor privado e segmentos importantes do ambientalismo em defesa de mecanismos de mercado na implementação do REDD (Redução das Emissões do Desmatamento e da Degradação) e da inclusão de projetos agropecuários no cumprimento das metas. Emissões associadas ao uso da terra representam quase um terço dos gases de efeito estufa liberados na atmosfera: a agricultura responde por quase 14% das emissões globais e o desmatamento por outros 17%.
No sistema proposto nos EUA, a receita dos produtores rurais aumentaria gradativamente à medida que as metas se tornassem mais severas, com efeito direto no preço do carbono, que subiria de US$ 13 a tonelada (2012) para US$ 16 (2020), US$ 27 (2030) e US$ 70 (2050), de acordo com as projeções da EPA. A proposta da nova legislação de clima e energia dos EUA, que começaria a vigorar em 2012, prevê redução de 17% nas emissões de gases de efeito estufa medidas em CO2 equivalente em 2020 na comparação com o patamar de 2005 e de 83% em 2050. Quanto menos emissões, mais escasso será o volume de permissões (direitos de emitir carbono), causando alta nos preços do gás.(1)
Ganho líquido seria significativo
Mesmo subtraindo da receita bruta gastos com a implementação de atividades de redução de carbono para a geração de créditos, ainda sobraria muito dinheiro nas mãos de agricultores e pecuaristas.
Na fase inicial do sistema de redução nas emissões, entre 2012 e 2018, a EPA projeta receita líquida anual de US$ 1 bilhão a US$ 2 bilhões. O valor subiria ano a ano até alcançar US$ 20 bilhões em 2050. Para gerar créditos de carbono, os agricultores desenvolveriam inúmeros projetos tais como o plantio direto (2) e práticas de conservação para fixar carbono no solo, o plantio de florestas e atividades que diminuam a produção de metano em lavouras e criações animais e de óxido nitroso na aplicação de fertilizantes.
O Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) ainda não efetuou seus próprios cálculos relativos à receita com créditos de carbono no setor rural. Por isso, está utilizando os números da EPA, que agrega em suas estimativas a redução de carbono no manejo florestal, atividade que normalmente não entra nas projeções do USDA. De qualquer forma, nos números da EPA usados na análise sobre a nova legislação que o USDA publicou no final de julho, a venda de créditos de atividades agrícolas representa cerca de 70% da receita bruta total de US$ 28 bilhões em 2050 (que inclui o manejo florestal).
“Parece que a médio e longo prazo a receita líquida das compensações (créditos de carbono) provavelmente ultrapassará os custos de implementação da nova legislação climática, talvez substancialmente”, prevê o USDA. Os gastos de agricultores e pecuaristas com eletricidade, combustíveis e fertilizantes aumentariam anualmente em US$ 700 milhões no cenário de curto prazo e US$ 5,6 bilhões na projeção de longo prazo, segundo os cálculos do órgão. Até 2025, o principal impacto no bolso do produtor viria do consumo de combustíveis e eletricidade. Até lá, as vendas de fertilizantes seriam subsidiadas para atenuar os impactos da lei nos custos agrícolas.
Poucas opções
Até hoje, o MDL tem sido a única opção para o setor agrícola vender créditos de carbono a fontes reguladas (com obrigação de reduzir emissões). Mesmo assim, a maior parte dos projetos do setor registrados no MDL relaciona-se à co-geração elétrica por biomassa, sobretudo o bagaço de cana-de-açúcar, e à queima de metano resultante da decomposição de dejetos suínos.
Apenas em meados de julho, o Conselho Executivo do MDL aprovou a primeira metodologia estritamente agrícola, que permitirá o desenvolvimento de atividades de fixação biológica de nitrogênio em leguminosas, tais como a soja. A tecnologia vai eliminar o uso de fertilizantes sintéticos, que são fabricados a partir de derivados de petróleo e liberam gás carbônico. A metodologia foi desenvolvida pela Amson Technology LC, uma consultoria especializada em reduções nas emissões de gases-estufa, a Becker Underwood Inc., empresa de bioagronomia, e a Point Carbon, líder em soluções de mercado para diminuir as emissões.
Projetos mais associados ao cultivo, com boas práticas como o plantio direto, apresentam inúmeros desafios metodológicos. Isso explica em boa parte a ausência no MDL de propostas associadas ao manejo do solo. Uma das dificuldades é medir a quantidade de carbono, que varia em função da lavoura, do tipo de solo e do manejo nele efetuado.
“Outro desafio é o de assegurar que uma boa prática agrícola como o plantio direto continuará sendo realizada ao longo de todo o período de validade do crédito de carbono”, assinala Laura Antoniazzi, pesquisadora do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Ícone), de São Paulo. O Icone iniciou este ano estudo sobre impactos e oportunidades para a agricultura brasileira no tema das mudanças climáticas.
Enquanto os órgãos federais de agricultura e meio ambiente dos EUA já fazem análises sobre a futura legislação climática, no Brasil, outra potência agrícola, o Ministério da Agricultura (MAPA) permanece distante das negociações do regime climático pós-2012. Há, contudo, movimentação interna de alguns técnicos no ministério para que a pasta execute uma plataforma da agricultura para as mudanças climáticas.
Também na área agrícola brasileira, mais uma vez a ciência segue bem à frente dos tomadores de decisão e do setor privado no tema climático. Um destaque no assunto é a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que conta com algumas dezenas de pesquisadores dedicados a estudar os impactos das mudanças climáticas na agricultura. O problema, porém, é a falta de operação do MAPA na arena da política do clima, ainda monopolizada no governo federal pelos ministérios de Ciência e Tecnologia (MCT) e Meio Ambiente (MCT). Oxalá o crescente envolvimento dos EUA com a questão desperte seu principal concorrente no mercado agrícola, o Brasil, para o potencial econômico do tema das mudanças climáticas no setor rural.
Serviço
(1) O Ato de Segurança e Energia Limpa, que conta com apoio da administração Obama, prevê a distribuição de uma cota de permissões (direitos de emitir carbono) para cada empresa. Cada permissão equivale a uma tonelada de carbono. Quem emitir carbono acima de sua cota, precisará cobrir a diferença comprando permissões de empresas que possuírem sobras de carbono por terem emitido gases abaixo do limite máximo de sua cota. O sistema proposto, conhecido pela expressão inglesa “cap and trade”, inspira-se no bem-sucedido programa estadunidense de redução nas emissões de dióxido de enxofre e óxidos de nitrogênio, gases responsáveis pela chuva ácida. O mecanismo também foi adotado pela União Européia na implementação de seu esquema de comércio de carbono, criado para os países do bloco cumprirem suas metas no Protocolo de Kyoto.
(2) O plantio direto é um sistema de manejo em que a palha e os restos vegetais da safra colhida são deixados na superfície do solo. Evita-se, assim, que o solo seja revolvido, além do estritamente necessário (apenas nos sulcos onde as sementes são depositadas), e se diminui o uso de fertilizantes. O sistema fixa carbono no solo e reduz emissões de óxido nitroso e dióxido de carbono oriundas do ciclo de produção e consumo dos adubos nitrogenados.
Fonte: Observatório do Clima/Mercado Ético
Notícias em destaque

Veracel celebra uma década de transporte de celulose 100 por cento marítimo e a redução de mais de 100 mil toneladas de emissões de CO2
Veracel celebra uma década de transporte de celulose 100 por cento marítimo e a redução de mais de 100 mil toneladas...
(LOGÍSTICA)

AkzoNobel anuncia as Cores do Ano de 2026
As Cores do Ano de 2026 da AkzoNobel trazem o Ritmo do Blues para o mercado de acabamentos de madeira, com um trio de cores versáteis que...
(INTERNACIONAL)

Ibá relança Manual do Setor de Árvores Cultivadas na reta final do Prêmio de Jornalismo
Material tem por objetivo apresentar setor para jornalistas e auxiliar na apuração de pautas e reportagens; inscrições...
(EVENTOS)

Celulose brasileira fica totalmente isenta de tarifaço de Trump
Insumo usado na fabricação de papéis, fraldas e absorventes já estava na lista de exceções da sobretaxa...
(PAPEL E CELULOSE)

Com "Abrace este Projeto", Arauco e SENAI-MS transformam vidas e qualificam mão de obra para a indústria de celulose
Iniciativa visa capacitar mão de obra e fortalecer a economia regional com cursos técnicos em áreas estratégicas e...
(GERAL)

400 associações de produtos florestais assinam carta conjunta a Trump
Mais de 400 associações, empresas e proprietários de terras que representam o setor de produtos florestais assinaram...
(INTERNACIONAL)