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Notícias

01
jul
2009
(MÓVEIS)
Moveleiros buscam mercados emergentes
A indústria gaúcha de móveis tubulares e de madeira Telasul, de Garibaldi, colhe desde 2008 os frutos de trocar mercados tradicionais em baixa por outros emergentes, como os países africanos. Foi o remédio ante a concorrência chinesa que tomou corpo desde 2006 nos Estados Unidos, maiores clientes da marca há três anos. O comportamento da Telasul se repete em outras empresas do polo moveleiro da região de Bento Gonçalves, segundo do País e o maior do Estado. A diversificação e mesmo vendas para regiões como Europa ajudam a amenizar o recuo geral dos negócios desde outubro de 2008.

As exportações de janeiro a maio, que somaram US$ 75,5 milhões, foram 32,9% menores que as do mesmo período de 2008, quando o setor faturou US$ 112,6 milhões. Maiores compradores como EUA e Argentina ostentam queda de 33% a 38% no período. A presidente da Associação das Indústrias do Estado (Movergs), Maristela Longhi, reforça que a ampliação das regiões compradoras é hoje melhor alternativa para compensar as perdas. Para Maristela, a tática deve impedir maior queda no encerramento das vendas em 2009.

A Telasul, que mandava 30% das exportações para os EUA até 2006, sentiu o impacto da valorização do real frente ao dólar, que acabou beneficiando o produto chinês. A busca de importadores onde ninguém ainda tinha chegado é a aposta do fabricante. O gerente de exportações da empresa, Cassiano Baccin, aponta o resultado como efeito de um trabalho de dois anos de prospecção e estudos. Hoje, a região africana responde por 60% dos negócios e impulsiona a meta de crescimento de 20% da empresa na área externa este ano. Mesmo em países como Angola, Baccin admite que já enfrenta a disputa com os chineses. "Mas apostamos em bom atendimento e produto que pode ser entregue em menor quantidade e adequado ao gosto dos clientes", projeta o gerente da Telasul.

A Carraro, de Bento Gonçalves, também deixou de lado vendas para a clientela norte-americana desde 2006. A atuação na África, onde a marca já está há dez anos, faz parte da ação para ampliar vendas e depender menos dos tradicionais mercados. Das vendas brasileiras para a Namíbia, a Carraro responde por 90%. A gerente de exportações da Carraro, Frances Regina Miorelli, comenta surpresas em meio à desaceleração da demanda. A Inglaterra voltou a comprar em 2009. Segundo Frances, dá resultado investir para abrir clientes em mercados onde a marca já está com trabalho consolidado. "Temos de usar uma vantagem competitiva como essa", comenta a gerente.

Calçadistas querem ação antidumping

Os calçadistas brasileiros, vítimas do avanço chinês em mercados tradicionais, projetam retomada de espaço com ações em duas frentes: adoção de medidas antidumping pela Argentina e redução das exportações do concorrente asiático nos próximos três a cinco anos. Segundo o diretor-executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Heitor Klein, o setor tem feito a lição de casa e buscado compensar perdas com Estados Unidos, Reino Unido e Argentina com outros destinos. "Se não fosse isso, as exportações tinham despencado", conclui Klein.

De janeiro a maio deste ano, as vendas recuaram 28,6% frente ao mesmo período de 2008, com faturamento de US$ 560,2 milhões. As quedas de vendas para os norte-americanos, ingleses e argentinos foram, respectivamente, de 34,8%, 28,8% e 35,9%. O efeito da diversificação é que hoje 153 países compram o calçado brasileiro. Isso explica o avanço no comércio para destinos como Filipinas (aumento de 84,5%) e Angola (69,3%), que até 2008 pouco apareciam na balança externa. Mas Klein previne que a ampliação de importadores tem limite. Segundo ele, a redução de impostos que incidem na produção também ajudaria na disputa externa.

Sobre o recuo das exportações chinesas, o diretor-executivo cita analistas que vislumbram alteração na política do país. Klein explica que a aposta é de um deslocamento de maior parte da produção para o consumo dos chineses. O que reforça a tese, segundo o executivo da Abicalçados, é que o segmento calçadista chinês teria ficado fora de incentivos recentes para ampliar as vendas externas. "O governo deve priorizar setores que importam menos componentes e têm menor impacto ambiental", exemplifica, esclarecendo que a indústria chinesa de calçado importa maior parte de matérias-primas e precisa melhorar processos para reduzir dano ao ambiente. "Isso abriria espaço para nossos produtos".

Mas a atenção maior se volta para a imposição de sobretaxas à importação do produto chinês pela Argentina e pelo Brasil, que instalaram processos de investigação de dumping dos fabricantes asiáticos. "Esperamos medidas a qualquer momento", acredita Klein. Na semana passada, entidades e parlamentares ligados ao setor se reuniram com o governo federal. O processo da Secretaria de Comércio Exterior já ultrapassa 30 mil páginas. Recente acordo com a Argentina estipulou cota de 15 milhões de pares para exportação em 2009, abaixo dos 18,5 milhões de 2008. O país vizinho também se comprometeu a agilizar a liberação de licenças de importação, que tinham atrasos de até 160 dias quando não deveriam ultrapassar 60 dias. Da meta de liberar 800 mil pares em junho, Klein diz que 400 mil haviam sido embarcados para o país até 15 de junho. A entidade faz levantamento esta semana para ver se o volume será cumprido.

Fonte: Patrícia Comunello | Jornal do Comércio

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