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Notícias

11
mar
2009
(ECONOMIA)
A crise é o início de um mundo novo

Com novos abalos no mercado financeiro, como o prejuízo anunciado pela Seguradora AIG e previsões de que ainda estamos longe do fundo da crise, como preconizou o megainvestidor George Sörös, é necessário ampliar a visão sobre o que está ocorrendo.

Assim, o Notícias da Semana inicia nesta edição uma série de entrevistas exclusivas com empreendedores pioneiros em formar modelos mais sustentáveis de negócios, para que eles avaliem os desafios atuais e indiquem segundo sua experiência, saídas capazes de construir uma sociedade mais justa e social, ambiental e economicamente equilibrada.

Esperamos com isso contribuir para a reflexão dos associados do Instituto Ethos diante de tomadas de decisão num momento tão conturbado.

O primeiro entrevistado desta série é Tamas Makray, empresário da área de engenharia que presidiu o Grupo Promon por 30 anos e há quatro décadas se envolve com iniciativas de proteção ambiental e transformação social.

“A crise é o início de um mundo novo”, avalia Makray. “O planeta já não pode suportar o ritmo com que usamos seus recursos. O que precisa mudar é, sobretudo, a forma de pensar que predomina hoje, o mindset”, continua.

Makray explica que, conheceu estudos no início dos anos 1960 que apontavam um uso de 49% dos recursos ofertados pelo planeta. Na ocasião, esse dado já o motivava a pensar em modelos sustentáveis para as atividades econômicas, considerando as futuras gerações.

Assim, ele começou a testar formas mais benéficas de interagir com a natureza. Essas experiências se davam em terras de sua família na cidade de Lorena (SP), no Vale do Paraíba. O reflorestamento de áreas junto a cursos-d’água foi eleito como prioridade. A mudança de uma produção agropecuária convencional para o plantio agroecológico e o manejo pautado no bem-estar animal juntaram-se à recuperação das matas, sempre visando restaurar o máximo de biodiversidade nos 80 hectares da então chamada Fazenda da Conceição.

Os benefícios foram visíveis em ganhos de produção e no retorno de fauna e flora silvestre, além do aumento da oferta de água doce e de nascentes. O projeto se formalizou com a fazenda sendo transformada, em 1991, no Instituto Oikos de Agroecologia, uma referência em ecoeficiência na região.

“Quando, há 20 anos, o senhor Tamas começou a falar em reflorestar, todo mundo pensou: ‘Esse homem está louco. Ele quer acabar com as fazendas’. Então o que ele fez? Provou que isso funcionava, que dava certo”, conta Adriano Barbosa, presidente da Associação dos Produtores Rurais do Ribeirão dos Macacos, rio que corta as terras do Instituto Oikos e é foco de um trabalho constante de conscientização e preservação por parte da organização.

Barbosa explica que antes ele tinha problemas com as capivaras, que vinham comer a cana que plantava. “O Instituto Oikos veio e esclareceu que as capivaras estavam atacando a lavoura porque não havia mais mata às margens do ribeirão. Eles nos aconselharam a replantar mata nativa naquela área e deu certo. Hoje, já não tenho nenhum problema com as capivaras”, declara o agricultor.

Trabalho integrado

Uma das premissas da organização fundada por Makray é o trabalho integrado com toda a vizinhança. Não poderia ser diferente para um ex-dirigente da Promon, empresa pioneira na utilização da gestão participativa, que desde 1961 já fazia um planejamento conjunto com todos os seus funcionários e lhes dava acesso integral à contabilidade.

Vencer as resistências e gerar união e cooperação em seu entorno não foi fácil. Mesmo assim, a iniciativa avançou a tal ponto que hoje o Oikos está liderando estudos para ligar os altos da Mantiqueira à Serra do Mar, por meio de corredores ecológicos.

"Conectar fragmentos florestais serve para ampliar os benefícios das florestas. As florestas nos prestam diversos serviços ambientais, como manutenção da água, conservação do solo. controle climático e proteção da biodiversidade”, detalha a geóloga Alexandra Andrade, contratada para gerenciar esse projeto.

“Todos esperam que os outros tomem medidas, mas ninguém se mexe. É preciso cada um fazer agora aquilo de que é capaz. Nós somos pequenos e estamos fazendo a nossa parte. Os governos e as grandes corporações têm de fazer a parte delas também”, destaca Makray.

Quanto à crise em si, ele diz: “Existe, atualmente, uma cultura de endividamento. Por que isso? Como um sistema pode funcionar se as pessoas ou empresas gastam mais do que ganham, continuamente?”

E conclui: “Hoje, temo pelos meus netos, pois estamos usando 130% dos recursos naturais deste pequeno planeta. Passamos da hora de reagir e é preciso adotar mudanças imediatamente”. Na sua visão, se as mudanças necessárias não forem feitas de forma voluntária, serão impostas por cataclismas, fome e escassez de água potável, bem como pelas convulsões sociais que esses fatores causarão.

Saiba mais sobre agroecologia no vídeo do Instituto Oikos - http://vimeo.com/2497404

Fonte: Envolverde/Instituto Ethos

ITTO Sindimadeira_rs