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Investir em design e novos mercados serão a melhor estratégia para os produtores de móveis em 2009 atravessarem a crise econômica mundial gerando oportunidades de negócios. A recomendação é do presidente da Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário (Abimóvel), José Luiz Diaz Fernandez, e foi feita durante entrevista à Agência Sebrae de Notícias. Demissões no setor não estão previstas. A mão-de-obra para a indústria moveleira é considerada escassa.
As reformas tributárias e trabalhistas continuam a ser desejadas pelos empresários. A proposta de redução do IPI para os produtos do setor, que já passou pela Câmara dos Deputados e pelo Senado, mas foi vetada pelo presidente Lula, ainda mobiliza os moveleiros.
O primeiro trimestre de 2009 será um período especial para o setor moveleiro, prevê Diaz Fernandez. Entre janeiro e março, o mercado brasileiro vai revelar, com maior objetividade e precisão, o grau do impacto da crise econômica mundial nos negócios da cadeia produtiva de madeira e móveis.
O acesso ao crédito é o grande desafio para empresários nesse início de ano. É um recurso fundamental para o capital de giro das empresas. Os resultados alcançados pelo setor no ano passado ainda estão sendo apurados e analisados pela Abimóvel.
O dólar valorizado e estabilizado entre R$ 2,10 e R$ 2,20 vai beneficiar os negócios, favorecendo as exportações este ano. No período de 10 a 15 de fevereiro, será realizado em Las Vegas (EUA) o evento Brazilian Forniture, que será um importante indicador de como anda o mercado norte-americano, principal comprador dos móveis brasileiros. Em agosto, será realizado o Primeiro Salão Abimóvel na capital paulista para impulsionar os negócios do setor, como nunca ocorreu antes.
José Luiz Diaz Fernandez falou à Agência Sebrae de Notícias sobre o impacto, até o momento, da crise econômica mundial na cadeia produtiva de madeira e móveis. O setor moveleiro é composto por 16,5 mil empresas, sendo a maioria de micro e pequeno porte. A atividade gera 232 mil empregos diretos e cerca de 460 mil indiretos no País.
ASN - Os efeitos da crise estão chegando ao Brasil. Isso assusta o setor moveleiro?
Fernandez - Tudo depende do primeiro trimestre. Não estou mais tão assustado, mas confiante de que será só mais uma crise. Não será tão grave para o Brasil.
ASN - Como estão os negócios do setor, neste início de ano?
Fernandez - Tem muito empresário com pedidos em compasso de espera. Em setembro passado, tínhamos estoque razoável de matéria-prima. Por este motivo, a crise não chegou a afetar tanto o nosso setor.
ASN - Em outubro, o senhor disse à ASN que os preços das matérias-primas e insumos do setor estavam aumentando muito. Apesar disso, a formação de estoques não foi comprometida?
Fernandez - Quando a crise estourou, em setembro passado, estávamos exatamente no período em que os estoques de matéria-prima e insumos estavam sendo abastecidos. Geralmente os pedidos para o final do ano começam a chegar ao setor em agosto, para entregar os produtos em dezembro. A crise comprometeu o número de pedidos, mas em compensação não tivemos preocupação com a reposição de estoque.
ASN - Há possibilidade de ocorrer redução da mão-de-obra no setor moveleiro?
Fernandez - Se houver demissão, ela será mínima, pois a mão-de-obra moveleira é escassa.
ASN - As medidas já anunciadas pelo governo melhoraram o acesso ao crédito?
Fernandez - O cenário do primeiro trimestre será o grande desafio de 2009, pois vai mostrar como ficará o acesso ao crédito, principalmente para o capital de giro. Para a indústria que transforma, o capital de giro é importantíssimo e depende de crédito. Entre o pedido e a entrega dos produtos correm praticamente seis meses. O capital de giro é crucial para nosso setor. O crédito ainda é muito caro e as garantias exigidas são absurdas, em torno de 120%. O bem avaliado pelo banco, que oferecemos como garantia do financiamento, geralmente vale muito mais. Os juros estão muito altos. O governo tem facilitado o acesso ao crédito, mas ainda não solucionou o problema. Continua muito difícil, especialmente para empresários de pequeno porte.
ASN - Quais são as perspectivas de negócios em 2009?
Fernandez - Vamos nos voltar bastante para a exportação, que está favorecida pela valorização do dólar. A meta da Abimóvel até 2010 é alcançar, no mínimo, 10% de participação das micro e pequenas empresas no mercado exportador de móveis. Viagens de prospecção de negócios, este ano, já estão agendadas para o Canadá, África, Índia e Rússia. Vamos buscar com mais ênfase novos mercados para os móveis brasileiros.
ASN - Negócios em dólar são a aposta dos produtores de móveis?
Fernandez - A valorização do dólar foi abrupta e aguda, no primeiro momento da crise, causando muita apreensão. No momento atual, negócios em dólar são vantajosos para nosso setor. Acreditamos que o câmbio deverá se estabilizar entre R$ 2,10 e R$ 2,20, e vai favorecer muito as exportações de agora em diante, apesar dos mercados lá fora estarem muito recessivos. Vamos participar do evento Brazilian Forniture em Las Vegas (EUA), no período de 10 a 15 de fevereiro. Vamos sentir o mercado norte-americano, o principal comprador dos nossos produtos.
ASN - Qual é a expectativa em relação ao mercado interno em 2009?
Fernandez: Esperamos crescer entre 5% e 7% no mercado interno este ano; na exportação, o crescimento deve ficar ser de 3% a 5%, apesar dos mercados retraídos lá fora e aqui. Segundo estudo da CNI, de novembro pra cá o consumo interno caiu em torno de 16% no setor de móveis.
ASN – Como o senhor está vendo o posicionamento do Brasil frente à crise? O País está se saindo bem?
Fernandez - Estamos mais preparados do que anteriormente. Essa crise está sendo pior no mundo do que aqui. O Brasil está acostumado com crises. Sempre convivemos e sobrevivemos com crises de vários tipos: econômica, institucional, política etc. Estamos mais escolados do que o resto do mundo para lidar com elas.
ASN - O que sugere aos empresários?
Fernandez - Muita atenção e cautela, muito profissionalismo e bom senso neste momento. Ter as contas à mão, saber priorizar os investimentos. Acredito que o período de acomodação do mercado à nova realidade será curto e deverá ocorrer em mais três ou quatro meses. Acho que até lá, o que tinha que acontecer já terá acontecido. No segundo semestre, o mercado deverá estar estabilizado.
ASN - Além das viagens de prospecção ao exterior, como está a agenda da Abimóvel para este ano?
Fernandez - Em agosto, vamos realizar o Primeiro Salão Abimóvel em São Paulo, com a participação da maior diversidade de fabricantes de móveis já reunidas em todo o País. Será a também a maior rodada de negócios nacionais e internacionais já ocorridas no setor moveleiro. Esse evento vai gerar pedidos para o final do ano. O Primeiro Salão Abimovel será a grande alavancagem do nosso setor.
ASN - Como o governo poderia apoiar melhor o setor moveleiro?
Fernandez - Agilizando as reformas tributária e trabalhista. Do jeito que está é um tiro no pé. O governo só aumenta gastos e está na contramão da iniciativa privada. O Congresso Nacional, por outro lado, aprova coisas totalmente descabidas para o momento atual. O acesso ao crédito tem de se tornar mais fácil. Toda economia precisa de crédito. Também estamos brigando pela redução ou equalização do IPI. Alguns itens do setor moveleiro ainda são tributados em 10%.
ASN - Qual é a reivindicação dos produtores de móveis em relação ao IPI?
Fernandez - Nossa proposta é equalizar o IPI, com redução para 5%, especialmente para móveis estofados e de metal. Essa proposta foi aprovada pela Câmara dos Deputados e pelo Senado, mas foi vetada pelo presidente da República. Estamos trabalhando junto à Receita Federal, mas as coisas não acontecem. Esse assunto devia ter sido resolvido há dois anos. A arrecadação de IPI deverá aumentar, se a redução desse imposto entrar em vigor. Quem paga IPI é o consumidor final e não representa muito em relação ao faturamento. O aumento do prazo para pagar ICMS em dez dias, anunciado pelo governo federal por causa da crise mundial, ajuda, mas não é o bastante. Assim como alguns impostos federais que foram postergados. A liberação dos créditos referentes à Lei Kandir ainda não aconteceu. Esse crédito não chega ao empresário, que precisa dele.
Fonte: Agência Sebrae de Notícias
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