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Especialistas explicam como acontece a destruição da floresta. Serras, tratores e incêndios são as ferramentas da devastação.
Como agem os desmatadores ilegais da Amazônia? O Globo Amazônia ouviu profissionais especializados que apontam que os criminosos têm sistemática e técnica – ainda que primitiva – para devastar a maior floresta tropical do mundo.
Normalmente, a exploração de uma área de floresta ainda intocada começa com a chegada do chamado “mateiro”, pessoa que se embrenha na selva para encontrar madeira de maior valor, como ipê, massaranduba e jatobá. “O problema é que normalmente ele não marca as árvores e não usa mapa”, explica Marco Lentini, engenheiro florestal do Instituto Floresta Tropical (IFT).
O mateiro localiza as “presas” e passa referências vagas a um grupo que montará acampamento na região indicada. “É uma exploração predatória, uma garimpagem florestal”, compara Lentini.
Esses exploradores não estão preocupados com a conservação da mata. Assim, a partir do acampamento, eles entram na floresta com um trator, derrubando o que for necessário para encontrar a madeira de valor, que é cortada e arrastada para fora da mata.
“Os tratoristas geralmente também não têm veículo adaptado para diminuir o impacto ambiental. São tratores de esteira que detonam tudo”, conta Lentini. “Essas áreas vão sofrer duas ou três explorações. Aí tem duas opções: botar fogo em tudo diretamente durante a época seca ou passar o correntão”, explica.
Por ser muito úmida, a floresta só queima na época de seca. E, ainda assim, é necessário atear fogo a ela repetidas vezes para conseguir eliminá-la por completo. “Para plantar soja, por exemplo, é preciso limpar e queimar por vários anos”, observa o engenheiro agrônomo do IFT.
O analista ambiental do Ibama do Pará Alessandro Queiroz, explica que, à medida que a floresta vai sendo queimada, sua recuperação fica mais difícil por causa do solo pobre. “Quando a camada de nutrientes é pequena, o capim entra rapidamente e impede espécies nativas de crescerem”, detalha. Segundo ele, é comum que, na intenção de formar pastos, se atirem sementes de capim nas áreas desmatadas, acelerando o processo de destruição.
A outra opção citada por Lentini – a passagem de correntão – é um sistema que consiste em dois tratores ligados por uma longa e pesada corrente, que é esticada e vai derrubando tudo que encontra pela frente.
“Aqui no Pará as árvores são muito grandes, por isso não é tão comum, mas no Mato Grosso já apreendi correntões que tinham elos maiores que minha bota”, conta Queiroz. Após a derrubada com o correntão, é comum o “enleiramento” – a colocação de todas as árvores derrubadas em fileiras, para serem queimadas e liberarem o terreno para a atividade agrícola.
A derrubada massiva da floresta, com máquinas, torna possível que grandes áreas sejam devastadas com pouca mão-de-obra. Portanto, de acordo com Lentini, não é verdade o argumento de que a repressão ao desmatamento implique em desemprego em massa.
“O manejo florestal (extração seletiva, controlada e planejada de madeira) emprega em média 64% mais trabalhadores”, cita. A exploração predatória oferece trabalho apenas enquanto a floresta ainda não foi completamente destruída. “Você gera emprego no começo. Depois de 20 anos, só sobra pobreza e desemprego”, conclui.
Fonte: Globo Amazônia
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