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Após quase dois anos vendo a lucratividade sumir com a valorização do real, os empresários do setor madeireiro têm pouco a comemorar com a recente virada no câmbio. Os produtores que ainda se mantiveram no mercado internacional não vão embolsar ganhos maiores em reais porque os preços estão em queda. Quem apostou no mercado interno, puxado pelo setor da construção, também deve enfrentar o mesmo problema. Sem bons preços, esse segmento da economia deve continuar no caminho da estagnação.
Até 2006, o mercado americano absorvia 60% dos mais de US$ 1 bilhão exportados por ano pelo setor madeireiro do Paraná. Quando a construção de casas nos Estados Unidos passou a cair, os embarques também recuaram. Nos primeiros dez meses deste ano, foram US$ 760 milhões exportados, US$ 200 milhões a menos do que no mesmo período de 2006, sendo apenas 30% para os EUA. A primeira alternativa foi diversificar os destinos. Países europeus, em especial Inglaterra, Alemanha e Espanha, passaram a comprar mais do Brasil. Agora, eles estão em recessão e os compradores pedem redução de preço.
“Quando você olha o câmbio, parece que tudo ficou melhor para o setor. Mas quem exporta está com dificuldade de conseguir crédito e, na hora de fechar os contratos, tem que aceitar preços mais baixos”, resume o presidente da Associação Brasileira da Indústria da Madeira Processada Mecanicamente (Abimci), Antônio Rubens Camilotti. Segundo ele, o custo para se tomar um empréstimo ligado a um contrato de câmbio saltou de uma faixa de 6% a 8% ao ano para 14% a 18% ao ano. Isso quando a empresa consegue o dinheiro.
O preço da madeira compensada mais vendida pela indústria paranaense ao exterior recuou quase 30%. Antes de setembro, quando estourou a crise, o metro cúbico do material tinha cotações entre US$ 290 e US$ 300. O problema, então, era o câmbio desfavorável na conversão para o real. Agora, o preço do metro cúbico caiu para menos de US$ 220. “Podemos bancar nossos custos com um preço na faixa de US$ 225 e dólar cotado a R$ 2,30. O problema é que está difícil segurar esse preço”, analisa o gerente de vendas da Guararapes, Luiz Carlos Reis de Toledo Barros. Ele conta que a empresa já chegou a produzir 160 mil metros cúbicos por mês e agora não passa de 110 mil metros cúbicos.
A fábrica de compensados LFPP desistiu de exportar quando viu os preços caírem. A produção hoje é restrita a 3 mil metros cúbicos por mês, exclusivamente para o mercado brasileiro. No auge do boom imobiliário americano, a empresa chegou a fabricar 12 mil metros cúbicos. “Não estamos fechando contrato nenhum para exportação porque traria prejuízo”, diz o gerente administrativo da empresa, José Geraldo Coimbra Filho. O executivo reclama que o crédito para exportação sumiu. A LFPP investiu quase R$ 4 milhões no meio do ano, com a expectativa de que as exportações aumentariam no fim de 2008. As obras ficaram pela metade.
“As madeireiras passaram a depender mais do mercado interno. O consumo de compensado pela construção aumentou 15%, por exemplo,”, lembra o engenheiro florestal Ivan Tomaselli, diretor da consultoria STCP e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR). “Agora a melhor opção é buscar novos mercados, principalmente na Ásia e na África, que estão fora do centro dessa crise.”
Com preços baixos e mercados fracos, a recuperação do setor foi interrompida. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a indústria da madeira passou por uma expansão muito acelerarada de 2003 a 2004, algo em torno de 30%. Esse crescimento foi comido pela fase de valorização do real, em 2006. Hoje, o segmento produz 10% a menos do que em 2002.
Fonte: Gazeta do Povo
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