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Notícias

17
nov
2008
(MADEIRA E PRODUTOS)
Novas pragas ameaçam a cultura do eucalipto

Nos últimos anos, as plantações de eucaliptos no Brasil têm enfrentado problemas com pragas exóticas, como o psilídeo de concha, identificado em 2003 e que até hoje vem dando dor de cabeça aos produtores.

No final de 2007, outra praga foi encontrada em plantações brasileiras de eucaliptos: a vespa-de-galha. Trata-se de outra espécie da praga chamada Leptocybe invasa, que ataca especificamente Eucalyptus camaldulensis, mais usado para a produção de madeira e carvão vegetal e também o principal alvo do psilídeo de concha.

A vespa de galha mede cerca de meio milímetro, é difícil de ser visualizada a olho nu e tem preferência por atacar as partes novas da planta, principalmente a gema apical e as folhas em início de desenvolvimento. Sua reprodução ocorre por partenogênese, ou seja, todos os insetos que nascem são fêmeas que vão continuar a atacar a planta e a se reproduzir.

Seu potencial de ataque é muito grande. Ela põe os ovos dentro da planta que, com o passar do tempo, começam a formar o que se chama da galha, uma espécie de tumor que deforma as folhas e ramos, prejudica a circulação da seiva e leva a queda de folhas e secamento de ponteiras. Toda a parte apical da planta pode secar, impedindo o crescimento e reduzindo significativamente a produtividade.

Somente em 2008 foi feita a identificação e a confirmação da ocorrência pelo professor Evoneo Berti Filho, da Esalq. “É uma das pragas do eucalipto de mais rápida disseminação no mundo”, afirma o professor Carlos Frederico Wilcken, da área de Defesa Fitossanitária da Faculdade de Ciências Agronômicas da Unesp, campus de Botucatu.

O inseto é originário da Austrália e se disseminou pela Ásia. Atualmente, gera problemas na Índia e na China, dois países que têm se destacado na produção de eucalipto. A praga também chegou ao Oriente Médio, em Israel, subiu até a Europa e já é encontrada na Espanha, no norte da África, em Marrocos e, de maneira bastante intensa, na África do Sul.

A ocorrência da vespa de galha no Brasil, mais especificamente no nordeste da Bahia, é o primeiro registro feito no continente americano. Apesar de haver outros meios os especialistas entendem que há uma probabilidade alta de essa introdução ter ocorrido de modo acidental por estrangeiros que visitam as culturas.

Como a detecção foi restrita a uma área experimental, foi recomendada a erradicação das plantas. Todas as árvores e mudas, independentemente do valor do experimento, foram cortadas e a queimadas. Atualmente, estão sendo feitas as avaliações para saber se a medida foi suficiente e monitoramentos na região para investigar a possibilidade da disseminação para outras áreas.

Existe a suspeita de que a vespa de galha esteja presente na região de Piracicaba. O professor Evoneo Berti Filho da Esalq/ USP estuda diretamente o problema, em busca da confirmação da ocorrência.

Percevejo Bronzeado

Também da Austrália vem o mais novo inimigo das florestas brasileiras de eucalipto: o percevejo bronzeado. O inseto foi encontrado na África em 2004 e só agora estão acontecendo os problemas mais sérios de desfolha e clorose nas árvores. Em 2005, o inseto foi encontrado na Argentina e depois no Uruguai. Em fevereiro deste ano um alerta fitossanitário foi encaminhado para várias empresas sobre um possível risco de introdução nas plantações localizadas em regiões fronteiriças.

O percevejo bronzeado mede cerca de três milímetros e coloca seus ovos sobre as folhas. Quando eles eclodem as ninfas passam a sugar a seiva da planta. Inicialmente, as folhas atingidas ficam esbranquiçadas. Com o tempo, a planta passa a ficar com tons marrons ou avermelhados. Daí o nome do inseto de percevejo “bronzeado”. Finalmente, ocorre a queda de folhas, que pode ser total nas plantas mais suscetíveis.

A espécie mais suscetível é o Eucalyptus camaldulensis, mas o percevejo se adaptou muito bem aos clones híbridos como o urograndis, muito plantado no Brasil. Responsável pela detecção do psilídeo de concha em 2003, o professor Wilcken detectou o percevejo em dois municípios do Rio Grande do Sul. “Durante o inverno a praga foi vista, ainda sem provocar danos às plantas. Mas a tendência é que ela se espalhe durante o verão”, alerta o professor.

A preocupação aumenta em razão da comprovação da ocorrência da praga também no Estado de São Paulo. “O ponto zero da ocorrência foi em Jaguariúna. Hoje, depois de dois meses de detecção, as árvores daquela região estão inteiramente desfolhadas. O dano é muito rápido”, relata o professor Wilcken.

Uma vistoria detectou árvores com presença do inseto em Campinas, na região do Aeroporto de Viracopos, no entorno de São Paulo, principalmente a região de Barueri, e em outros 15 municípios do Estado, entre eles Itu, Sorocaba, Piracicaba, Santa Bárbara do Oeste, Limeira, Anhembi, Botucatu e Avaí.

Como a disseminação do inseto parece seguir o traçado das rodovias, a tendência é que se espalhe pelo oeste paulista, além de poder atingir os estados do Paraná, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul. Já foram realizadas vistorias em alguns municípios mineiros sem que o inseto fosse encontrado até o momento

Combate

No momento da detecção de cada uma das pragas foi feito um comunicado oficial para a divisão de sanidade vegetal do Ministério da Agricultura. “Temos mantido contato freqüente com os técnicos do Ministério”, conta o professor. “Estamos elaborando programas para treinamento dos fiscais do Ministério da Agricultura para a detecção da praga”.

Certamente, as medidas deverão envolver ações de fiscalização nas rodovias, consideradas os melhores canais para a disseminação do percevejo bronzeado. O inseto se instala nas folhas e nas cascas da madeira e seus ovos podem permanecer vivos durante um tempo considerável e serem transportados juntamente com a madeira.

Fonte: Agrolink

ITTO Sindimadeira_rs