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Notícias

17
out
2008
(MEIO AMBIENTE)
Rio Grande do Sul seria pólo distribuidor de castanheira para Europa

O Rio Grande do Sul virou um centro de distribuição para países vizinhos e a Europa de madeira extraída ilegalmente da Amazônia. A principal espécie é a castanheira, uma árvore que atinge até 50 metros de altura. Com corte proibido desde 1994, tornou-se a preferida dos fabricantes de carrocerias de caminhões e de esquadrias usadas pela construção civil, por ser longa, macia e durável.

A descoberta aparece em um relatório da Operação Guardiões da Amazônia, do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). Colocada em prática em abril, a ação inverteu a lógica da fiscalização, que até então concentrava foco naquele que fazia o corte da madeira, geralmente um peão a serviço de madeireiras ilegais.

Agora, a investigação se iniciou pelo consumidor. A apuração é feita pela avaliação de notas fiscais, dos depoimentos dos autuados e do Documento de Origem Florestal (DOF), uma guia que acompanha a madeira. Ainda não existem números nacionais da operação, mas já oferece informações valiosas.

- A ação nos permitiu conhecer toda a cadeia de ilegalidade: o comprador, o transportador, o beneficiado e o dono do corte da madeira - avalia o superintendente do IBAMA no Estado, Fernando da Costa Marques.

No Rio Grande do Sul, a operação já apreendeu 3,3 mil metros cúbicos de madeira - 70% de castanheira. Mas a maior parte da carga não fica no Estado. O principal destino é Buenos Aires, de onde embarca para a Europa.

A longa viagem de caminhão desde o norte do país até o Estado pode não fazer sentido do ponto de vista logístico, mas foi a estratégia encontrada para driblar a fiscalização, que é mais especializada na região amazônica.

Os fraudadores, segundo as investigações, apostam que, quanto mais afastado for o posto fiscal da selva amazônica, maior será o desconhecimento sobre as madeiras. Para dificultar a identificação do crime, eles falsificam o conteúdo do DOF, adotando o nome de árvores com corte permitido.

- Não é fácil identificar a origem de uma tábua. Na maior parte dos casos, é necessário enviar a amostra para o laboratório - diz Fernando Falcão, chefe da Divisão de Controle e Fiscalização do IBAMA no Estado.

Nas contas do chefe substituto do IBAMA em Uruguaiana, Silvino Edder da Silva, há alguns anos, uma média de quatro carretas de madeira passava por dia pelo município e por Santana do Livramento. Hoje, a média diminuiu para duas. Se conseguem cruzar a fronteira, a carga cai nas mãos de um atacadista em Buenos Aires ou Montevidéu. Lá, ganham documentos novos. Assim, confirma-se um segundo crime: evasão de divisas.

Guardiões

A ação já aplicou R$ 3 milhões em multas

- Porto Alegre, Caxias do Sul, Rio Grande, Santa Maria, Uruguaiana, Itaqui, Bagé, Passo Fundo, Três Cachoeiras e Iraí já registraram apreensões

“Há bônus à espera de quem passa com a bronca”

Entrevista: caminhoneiro que transporta madeira ilegal

Em posto de combustível às margens da BR-101, no Litoral Norte, ZH conversou com um caminhoneiro que, há uma década, traz madeira para o Estado na volta das viagens em que leva arroz e adubo para o Mato Grosso e o Pará:

Zero Hora - Ao sofrerem as apreensões de madeira, os caminhoneiros costumam afirmar que não sabiam da ilegalidade. Isso é verdadeiro?

Caminhoneiro - Todo caminhoneiro sabe o que transporta porque há bônus à espera de quem consegue passar com bronca.

ZH - De quanto é o bônus?

Caminhoneiro - Geralmente é de R$ 500. Um bom dinheiro.

ZH - O senhor já foi parado em barreira do IBAMA?

Caminhoneiro - Várias vezes, mas nunca tive problemas. Sempre segui em frente com a carga.

ZH - Quando foi parado, o senhor transportava madeira proibida com documentação falsa?

Caminhoneiro - Em várias ocasiões. Só que a grande preocupação deles é saber se estamos trazendo drogas no meio das tábuas. Eles não estão nem aí para as tábuas, a não ser que falte documentação. Tendo papel, passa.

Fonte: Zero Hora/EcoDebate

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