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A exposição de várias empresas brasileiras a contratos derivativos cambiais provocou uma situação inusitada no mercado. As ações de empresas exportadoras, que costumavam sofrer com a queda do dólar, agora tendem a subir quando a moeda norte-americana se desvaloriza.
No pregão desta terça-feira, os papéis de Aracruz, Sadia e Votorantim Celulose e Papel (VCP), que anunciaram prejuízos em meio à crise que levou a moeda norte-americana a superar os R$ 2,30, ficaram entre as maiores altas entre os papéis que compõem o Ibovespa. O índice que reúne os papéis com maior liquidez da bolsa encerrou o dia em alta de 1,81%, aos 41.569 pontos.
Além de aproveitar a forte queda nas últimas semanas, os investidores voltaram a se posicionar nas ações em conseqüência do comportamento do dólar, que ontem recuou mais 1,96%, para R$ 2,102. O raciocínio é que o declínio da moeda reduzirá as perdas das companhias, o que justifica uma redução do forte desconto que o mercado aplicou aos papéis.
Em situações "normais", a análise seria a contrária, ou seja, a valorização do real levaria a uma redução das receitas com exportações e a uma piora nas projeções para o desempenho das ações. É justamente para neutralizar o efeito do câmbio sobre as operações que as empresas contratam derivativos. O problema, no caso das companhias que tiveram problemas recentemente, foi uma exposição exagerada, bem acima do valor das receitas em dólar, nesse tipo de instrumento.
Analistas afirmam, no entanto, que a alta do dólar atingiu também as companhias que usaram os derivativos apenas como forma de proteção. Isso porque boa parte dos contratos é feita na BM&F, onde existe o chamado ajuste diário, em que as empresas se comprometem a depositar o valor referente à perda com a oscilação do dólar a cada dia.
Como a valorização da moeda norte-americana foi muito grande, algumas empresas acabaram enfrentando dificuldades de fluxo de caixa. Um alívio do câmbio, portanto, vem em boa hora também para essas companhias. Para se ter uma idéia, o total de contratos cambiais em aberto na bolsa era de R$ 258 bilhões.
A perda ou ganho efetivo, contudo, é baseado apenas na variação da moeda sobre esse valor. Perda menor A VCP veio a mercado anunciar que a exposição em derivativos fará com que a empresa tenha uma despesa financeira de R$ 145 milhões no terceiro trimestre. O que seria motivo para a queda das ações nos momentos mais delicados da crise, ontem não impediu a alta de 13,99% dos papéis da empresa.
O mercado respirou aliviado com a informação de que a exposição cambial da companhia é menor do que as apresentadas por Sadia e Aracruz - além do próprio Grupo Votorantim, do qual a empresa faz parte e que na semana passada reconheceu um prejuízo de R$ 2,2 bilhões com derivativos. Como a VCP mantém as posições em aberto, a queda do dólar acabou contribuindo para a alta dos papéis.
A Aracruz também anunciou uma notícia potencialmente negativa: o cancelamento do pagamento de juros sobre o capital próprio aos acionistas, no valor de R$ 84 milhões. Contrariando as expectativas, os papéis da companhia dispararam 15,34%, a maior alta do Ibovespa. "O mercado aparentemente ignorou a notícia e se apegou à questão cambial", avalia o analista Pedro Galdi, da SLW Corretora. Ele credita a trajetória de ontem do papel a um movimento especulativo. "Os papéis da empresa devem continuar oscilando conforme a variação do dólar”.
Fonte: Gazeta Mercantil/Celulose Online
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