Notícias
A forte resistência dos lobistas do setor energético não foi suficiente para impedir o comitê ambiental do parlamento europeu a aprovar ontem uma legislação chave para o corte das emissões de gases do efeito estufa (GEE) em 20% em 2020, estabelecido pela União Européia.
A partir de 2013, as fornecedoras de energia terão que pagar por todas as emissões de dióxido de carbono (CO2) que emitirem, pois as permissões de emissões do Esquema de Comércio de Emissões da União Européia (EU ETS) passarão a ser leiloadas para este setor, segundo o projeto de lei. Nestas duas primeiras fases do esquema (2004-2008 e 2008-2012), as permissões eram entregues sem custo às empresas.
O comitê propôs ainda que outras indústrias poluentes, como a do aço, paguem 15% das permissões a partir de 2013, subindo para 100% em 2020. O funcionamento do EU ETS depois de 2012, contudo, continua indefinido.
Para entrar definitivamente em vigor, a lei precisa passar pela aprovação de todo o Parlamento Europeu em dezembro, quando a oposição deverá ser ainda maior por parte dos países fortemente dependentes de carvão, como a Polônia. A França, que preside a União Européia (UE) no momento, irá se esforçar para aprovar o projeto.
A votação, no entanto, acontece em meio a uma das piores crises econômicas, com diversos membros dando sinais de que desejam frear a rápida adoção das medidas.
Os oposicionistas dizem que a meta agressiva de corte de emissões da UE deveria ser reduzida por causa da crise financeira global. “De todos os problemas que nós temos, o maior desafio são as mudanças climáticas”, rebateu o membro irlandês do comitê, Avril Doyle.
Usinas poluentes X incentivos ao CCS
Todas as usinas de carvão que forem construídas depois de 2015 deverão utilizar tecnologias de captura e armazenamento de carbono (CCS), segundo a legislação, apelidado de “Cláusula Schwarzenegger” em referência ao governador da Califórnia, que impôs padrões para as usinas de carvão. O dinheiro arrecadado com a venda das permissões será utilizado para financiar as usinas de carvão com tecnologias de CCS.
Sob a proposta, as novas usinas energéticas com capacidade superior a 300MW poderão emitir no máximo 500g de dióxido de carbono por quilowatt hora, em uma média anual, depois de 2015. Isto proibiria novas usinas de queima de carvão que tipicamente emitem entre 700g e 850g de CO2 por quilowatt hora e novas usinas de queima de petróleo que emitem 590g por quilowatt hora, ao mesmo tempo em que permitiria usinas de queima de gás natural e aquelas com sistemas de CCS embutidos.
“Não ao carvão é igual a nenhuma luz. Nenhuma energia. Nenhum futuro”, disse no último mês o ex-secretário de negócios do Reino Unido, John Hutton.
O Comitê aprovou a oferta de €10 bilhões (US$13,6 bilhões) em créditos para financiar 12 projetos de demonstração de CCS e recomendou multas de €100 (US$136) por tonelada de dióxido de carbono para os países que não alcançaram os cortes de emissões estabelecidos para o bloco.
Apoios X críticas
Segundo o jornal britânico The Times, a decisão foi endossada pela indústria de energias renováveis. “Esta nova meta ressalta a urgência de ação para produzir energia limpa e sustentável agora se quisermos manter as temperaturas globais em um nível aceitável”, declarou Maria McCaffery, da Associação Britânica de Energia Eólica.
Os investimentos em CCS propostos, no entanto, deverão sofrer forte oposição dos partidos verdes até o final do ano, pois eles preferem gastar o dinheiro em energias renováveis, como a solar ou eólica. “Esta tecnologia tem um papel, mas também o tem muitas outras novas e empolgantes tecnologias de energias renováveis”, disse a membro do Parlamento, Caroline Lucas, do partido verde.
Na opinião dela, a tecnologia CCS não deve ser incentivada “artificialmente”, priorizando gastos com carvão como este. “Especialmente se tivermos em mente que o CCS não alcançará uma fase comercial antes de 2020 e a ciência nos diz que as emissões devem começar a cair em 2015”, afirmou.
Porém muitos cientistas dizem que os sistemas CCS, que consiste em capturar os GEE de usinas de carvão e injetá-los no subsolo, são uma espécie de bala de prata para lidar com as mudanças climáticas.
O setor energético ainda não se pronunciou sobre a decisão do comitê. “Precisamos de tempo para refletir antes de nos pronunciar sobre a decisão”, disse um porta-voz do grupo energético alemão E.ON, que depende da energia do carvão para alimentar usinas na Alemanha e Reino Unido.
Fonte: Carbono Brasil
Notícias em destaque


