Voltar

Notícias

04
set
2008
(BIOENERGIA)
Tecnologia arcaica usada para produção de carvão desperdiça entre 60% a 80% da matéria-prima

Dois grandes e fundamentais problemas afetam o atual modelo de produção de carvão vegetal no Brasil. O sinal do atraso tecnológico bate à porta das carvoarias que se utilizam do extrativismo predatório, derrubando e queimando madeira de florestas nativas. Mais da metade dos 10 milhões de toneladas de carvão vegetal produzidos por ano no País é proveniente do extrativismo predatório, principalmente no Estado do Pará. Para piorar, a tecnologia utilizada para produção do carvão vegetal é a mesma desde os tempos do Brasil Colônia. São desperdiçados de 60% a 80% da matéria prima, tornando o processo insustentável.

Por isso, o objetivo do Instituto Nacional de Eficiência Energética (INEE) ao organizar o I Seminário Madeira Energética – MADEN 2008 é provocar a discussão sobre os principais aspectos relacionados ao uso da madeira como biomassa energética, as questões social e ambiental que envolvem o cenário de produção deste insumo, as diferentes tecnologias que podem ser aplicadas para a melhoria e menor desperdício desta fonte energética e a proposta de regulamentação governamental do uso da madeira energética.

O evento será realizado no Rio de Janeiro, durante os dias 2 e 3 setembro, das 8h30 às 18h, na Academia Brasileira de Ciências (Rua Anfilófio de Carvalho, 29 - 3º andar). O programa conta com os mais conceituados especialistas do setor, além de palestras, painéis e mesas redondas que visam à troca de idéias sobre a necessidade de racionalizar a cadeia de utilização da energia proveniente da madeira, tornando-a mais eficiência e encarando-a como uma indústria.

Como o carvão vegetal é produzido atualmente

Atualmente, na maioria das carvoarias, a origem da matéria-prima é insustentável devido à utilização da madeira oriunda da floresta nativa, que em grande parte é ilegal. O processo tradicional de produção do carvão vegetal é feito com fornos que parecem iglus, os chamados fornos rabo-quente. Eles não recuperam os voláteis, fumaça que sai do forno com a queima da madeira, e a liberam na atmosfera como poluentes. São equipamentos ineficientes e poluidores, que desperdiçam aproximadamente 70% da energia total que produzem durante o processo de fabricação do carvão.

“Desta forma o carvão é muito barato, porém ineficiente e com muitas perdas. Neste modelo, a matéria-prima está pronta e é de graça. O único custo é o do transporte do carvão até as siderúrgicas. Além disso, a mão-de-obra também é barata. Quando não se trata de sub-emprego, é trabalho escravo. A realidade não precisa ser esta. É necessário transformar esse processo em uma agroindústria. É neste aspecto que temos trabalhado, em uma mudança tecnológica no setor”, afirma José Dilcio da Rocha, Pesquisador da EMBRAPA Agroenergia que apresentará a palestra “Carvoejamento e Pirólise” durante o segundo dia de atividades do MADEN 2008.

Recuperação da poluição em forma de produto

A adoção de fornos mais eficientes no processo de produção do carvão vegetal possibilitará que toda a matéria-prima que hoje é jogada na atmosfera se transforme em produtos que têm valor agregado e que atualmente não são comercializados. Um exemplo é o bio-óleo, que é combustível chamado alcatrão e que pode ser utilizado para diversos fins, desde energéticos até alimentícios. “Pegamos a fumaça, que era uma energia desperdiçada, e a condensamos para transformá-la em óleo. Para isso, precisamos de equipamentos industriais que recuperem este material”, explica Dilcio da Rocha.

Outro co-produto é o extrato ácido, que é um fertilizante orgânico, além do próprio carvão vegetal, que pode ser usado para queima direta e tem valor agregado, já que com ele se produz um aço de excelente qualidade, com elevado valor de mercado. Neste novo modelo, o custo de produção terá outra estrutura, provavelmente com um aumento no custo porque parte de uma tecnologia diferente, com mão-de-obra remunerada e matéria prima com custo de produção.

“Transformar setor sem tecnologia em uma indústria é custoso, porém é muito mais caro continuarmos produzindo da maneira atual. Esse investimento, de alguns milhões de reais, é pago em pouco tempo porque se ganha através dos co-produtos. Além disso, geramos emprego e renda, economizamos matéria-prima e diminuímos a emissão de poluentes”, esclarece o pesquisador.

Necessidade de política industrial para o setor

José Dilcio da Rocha defende a necessidade de uma política industrial para o setor que produzir carvão vegetal, insumo utilizado nas siderúrgicas, área de grande mercado e tecnologia de ponta no Brasil. Segundo ele, é preciso uma clara definição do setor industrial para o carvão vegetal porque é preciso alcançar a sustentabilidade da matéria-prima, com o fim do desmatamento de queima de florestas, e a mudança tecnológica na área industrial, transformando as carvoarias em agroindústrias.

“Estamos falando do setor siderúrgico, que tem grande capacidade de investimento. Ele não emprega tecnologia na área do setor de insumo de carvão vegetal, mas há investimento na área do ferro gusa. Precisamos de uma decisão política para a área industrial aliada ao investimento. Ou investimos em novas tecnologias ou o setor tem dias contados. Futuramente, não há horizonte para matéria-prima de graça e também não há possibilidade de continuar poluindo o meio ambiente. Afinal de contas, temos tecnologia agronômica para plantar florestas”.

Serviço
MADEN 2008 – 1º Seminário Madeira Energética
Data: 2 e 3 de setembro
Horário: 8h30 às 18h
Local: Rua Anfilófio de Carvalho, 29, 3º andar – Rio de Janeiro
Outras informações: telefone (21) 2532-1389 ou e-mail bruna@inee.org.br

Fonte: INEE

ITTO Sindimadeira_rs