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Notícias

31
jul
2008
(CARBONO)
Mercado de carbono está reduzindo ou apenas se aquecendo?

Primeiro os preços das permissões de carbono da União Européia caíram. Agora, são as ações das empresas que negociam no mercado de carbono que estão despencando. Especialistas acreditam que fazer com que os poluidores modifiquem os seus processos será um caminho de tentativas e erros.

Ainda há discordâncias se o mercado de carbono pode ser considerado um sucesso ou não. Ao olhar para os preços das ações das empresas envolvidas na geração de créditos de carbono, a conclusão é de que se deve manter distância desse negócio.

Em maio, analistas da New Energy Finance anunciaram que as ações dos grupos de créditos de carbono EcoSecurities, Camco International e Trading Emissions caíram 75%, 50% e 20% respectivamente em comparação com os períodos mais altos do ano passado; enquanto a AgeCert – que era líder no mercado de créditos provenientes do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) – viu suas ações despencarem 99% até serem suspensas em fevereiro. A EcoSecurities presenciou mais queda na última semana com a notícia de que há atrasos para se conseguir os créditos de carbono certificados pela ONU.

Apesar disso, nos seis primeiros meses de 2008, o mercado global de carbono estava valendo 38 bilhões de euros – quase o total de todo o ano de 2007, que foi de 40 bilhões de euros.

Solto demais

Há uma percepção de que o mercado de carbono está fracassado por um único motivo: a queda nos preços das permissões da União Européia (UE) em 2006. Ainda assim, em muitos casos, a baixa dos preços é considerada um passo vital na evolução do mercado. O que ocorreu foi que quase todos os estados membros da UE receberam muitas permissões de emissões devido a um intenso lobby feito pelas indústrias durante o primeiro período de obrigações. Isso significa que as empresas altamente poluidoras incluídas no esquema não foram incentivadas a cortar o uso de carbono e também não precisaram comprar permissões.

Mas a lição serviu para a Comissão Européia apertar mais os planos de alocação nacionais e criar um preço significativo para o carbono no mercado durante a atual segunda fase do esquema, entre 2008 e 2012. Como resultado, o preço está razoavelmente forte a 24 euros a tonelada; e a previsão é de que haja falta de permissões no mercado – o que obrigará as companhias a cortar emissões ou comprar permissões de empresas que as têm sobrando.

“A super-alocação seria desastrosa se continuasse, mas isso foi uma questão da fase 1”, afirma Sam Fankhauser, diretor do IdeaCarbon, que lançou recentemente um serviço de cotação de créditos. “A primeira fase foi um período de aprendizado, quando não sabíamos nem mesmo por quais emissões as instalações eram responsáveis. Nós sabemos disso agora e a segunda fase parece muito mais robusta”, conclui.

Na terceira fase do esquema – a partir de 2013 – a Comissão Européia planeja centralizar mais o processo ao invés de deixar que os 27 estados membros decidam sobre suas alocações individuais.

Diferentes ângulos

“Como um produto financeiro puro, o mercado de carbono funciona bem”, defende Lionel Fretz, presidente da Carbon Capital Markets, que evitou a queda dos preços das suas ações apenas pelo fato de não estarem listadas. “No entanto, é na geração de créditos que estão os problemas – e parecem estar piorando, não melhorando”, analisa.

O MDL é uma vítima do próprio sucesso, afirma Fankhauser. O mecanismo não é capaz de liberar crédito em curto prazo desejável porque não possui equipe suficientemente treinada. Além disso, restringiu os critérios, fazendo com que os esenvolvedores não recebam todos os créditos que esperavam receber e que, em alguns casos, já os haviam até comercializado. As empresas responsáveis por validar projetos – que asseguram os cortes de emissões – também sofrem com a falta de pessoal qualificado. Como conseqüência, os projetos sofrem atrasos.

Este é um problema real, diz Bruce Usher, presidente da EcoSecurities. “É bom que os processos de verificação e certificação sejam rígidos, mas estas etapas estão levando muito tempo – projetos ficam presos à espera de aprovação por um, dois anos; e nós temos apenas mais quatros anos e meio até que o Protocolo de Quioto expire”.

Os projetos não começam a gerar créditos de carbono até que sejam registrados pela ONU, de modo que esses grandes atrasos podem custar caro, principalmente para empresas que vendem os créditos (conhecidos como RCEs – Reduções Certificadas de Emissões) a compradores que precisam deles para cumprir as metas de Quioto.

Como se isso não fosse ruim o bastante, há problemas em outro lado do processo, que representa uma parte-chave da infra-estrutura do mercado de carbono: a ligação entre o registro da ONU (ITL - International Transaction Log) e o registro para o esquema de negociação de emissões da UE (CITL - Community Independent Transaction Log). Este elo é fundamental para o mercado de carbono porque a atual fase do esquema de emissões coincide com o período de obrigações do Protocolo de Quioto. Sem essa relação, negociantes que necessitam comprar créditos para cumprir metas não poderiam usar o MDL – cujos créditos são mais baratos do que as permissões da UE.

A Comissão Européia informa que está testando esse link agora e que ele “estará definitivamente pronto e em funcionamento até o final do ano” – declaração que não inspira muita confiança, sendo que o mesmo foi afirmado sobre os prazos finais de abril e dezembro de 2007. Há muito mais em risco desta vez, entretanto, já que os contatos para conclusão em 2008 devem ser entregues em dezembro.

Riscos

Se a ligação não estiver estabelecida, as empresas que venderam contratos antecipadamente não poderão entregar os créditos prometidos – o que faz um observador sugerir que o “mercado irá desmanchar”. No entanto, esse é um problema para empresas que falharam ao gerenciar adequadamente os seus riscos, diz Matthew Whittell, diretor financeiro da Climate Exchange. “Em qualquer mercado livre e de rápido crescimento há vencedores e perdedores. O mercado é maior do que qualquer participante individual”, acrescenta.

O mercado de crédito de carbono é arriscado, enfatiza David Metcalfe, presidente da empresa de pesquisa Verdantix. E, se companhias como a EcoSecurities não apresentam bom desempenho, é apenas parte do processo de aprendizado para se chegar ao modelo certo de negócio. “Este é um mercado novo, inteiramente regulado e cujas regras mudam constantemente”, avalia. “Para completar, você tem que operar em países que não necessariamente possuem uma boa estrutura própria de mercado”.

Usher reconhece que as dificuldades enfrentadas pela EcoSecurities são problemas relacionados com os primeiros estágios da atividade. “Este é um mercado recente e nós faremos algumas coisas certas e outras erradas. Eu não vejo nada errado nisso, como também não vejo outra saída. Qualquer um que pense que podemos fazer isso perfeitamente está enganado; e quem diz que não podemos fazer nada até que esteja perfeito, está errado”.

Por outro lado, ele afirma que as projeções de longo prazo para o mercado de carbono em nível global são boas. A maioria dos observadores do mercado acredita que os Estados Unidos terão um esquema de captura e comércio de carbono nos próximos anos. Se isso ocorrer, irá reduzir o mercado europeu. A previsão da New Energy Finance é de que esse mercado poderá valer 1 trilhão de dólares até 2020.

A Austrália acaba de anunciar planos para seu próprio esquema de negociação de emissões e a UE diz que seu esquema continuará independentemente do que acontecer nas negociações para criação de um acordo pós-Quioto. Os movimentos ainda são lentos, mas tendem a acelerar com a eleição do novo presidente americano.

“Finalmente, o julgamento do mercado se dará pelo fato de se fornecer ou não benefícios ambientais a um custo relativamente baixo”, afirma Whittell. “O preço do carbono está mudando a maneira como os poluidores fazem negócios. Nenhum de nós é esperto o suficiente para determinar qual a melhor maneira de atacar as mudanças climáticas, mas se tivermos um preço global do carbono, o mercado resolve isso. Mesmo com as super-alocações na primeira fase, o esquema europeu conseguiu poupar cerca de 100 milhões de toneladas de carbono. A segunda fase deverá ser ainda mais efetiva.

Fonte: Independent/Carbono Brasil

Sindimadeira_rs ITTO