A Polícia Federal desarticulou nesta quarta-feira (28) com a operação Caipora, uma quadrilha acusada de extração ilegal de madeira na reserva indígena Vale do Guaporé, no Mato Grosso. Integrada por fazendeiros, madeireiros, servidores da Fundação Nacional do Índio (Funai) e policiais rodoviários e militares, a quadrilha contava com a colaboração de índios cooptados com presentes como carros, motos, ferramentas e alimentos.

Ao longo do dia, foram efetuadas 45 prisões e cumpridos 54 mandados de buscas em madeireiras, fazendas, escritórios e também em repartições da Funai e das polícias Rodoviária Federal e Militar do Mato Grosso. Foram mobilizados 230 policiais em ações simultâneas, desencadeadas desde as primeiras horas, nas cidades de Cuiabá, Cáceres, Pontes e Lacerda, Nova Lacerda, Conquista Doeste e Comodoro. A operação atingiu também Vilhena, no estado de Rondônia.

Os dois Estados são os atuais campeões de desmatamento e estão entre os principais alvos da operação Arco de Fogo, desencadeadas em fevereiro para conter a escalada da devastação na Amazônia, que voltou a recrudescer desde o ano passado. A operação de ontem é um prolongamento da Arco de Fogo, cujo nome é uma alusão ao arco do desmatamento, uma faixa que corta a Amazônia de Leste a Oeste com alto índice de devastação ambiental.

Segundo a PF, a atividade criminosa começava com o aliciamento de índios - aos quais eram oferecidas várias formas de suborno, principalmente carros e motos. Servidores públicos corruptos ajudavam no aliciamento. A investigação constatou que funcionários da Funai recebiam pagamentos mensais para permitir a livre atuação dos membros da quadrilha dentro da reserva indígena. Eles também alertavam sobre eventuais fiscalizações da própria Funai e de outros órgãos.

Foi constatado também, conforme a PF, o envolvimento de policiais militares e da Polícia Rodoviária Federal, além de servidores da Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema) do Mato Grosso. Entre os presos estão proprietários, gerentes e empregados de fazendas vizinhas à reserva.

O nome da operação evoca o caipora, figura lendária de um espírito protetor das florestas. Diz a lenda que quando homens violam a floresta o caipora persegue furiosamente os caçadores, que largam as armas e fogem, espavoridos. Mas o caipora permite a atividade dos caçadores que lhe oferecem presentes, principalmente fumo.

Fonte: Estadão Online