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Notícias
11
fev
2008
(MADEIRA E PRODUTOS)
Falta madeira para viabilizar pólo siderúrgico em MS
Os esforços do Mato Grosso do Sul em diversificar sua economia com a criação de um complexo de mineração e siderurgia - liderado pela MMX (do empresário Eike Batista), Rio Tinto Brasil e Vale do Rio Doce - podem sofrer um forte revés. E ele virá, mais uma vez, por razões ambientais.
Um estudo inédito aponta que o Estado não tem o estoque de madeira legal necessário para alimentar os altos-fornos de ferro-gusa previstos para sair do papel. Movidas em grande parte a carvão vegetal, essas unidades pressionarão ainda mais uma já realidade conhecida na região: o desmatamento do Pantanal e Cerrado e o contrabando de madeira do Paraguai e (suspeita-se) da Bolívia.
Elaborado pelo Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas (GVces), de São Paulo, a pedido da organização ambiental Conservação Internacional (CI), o documento alerta para um cenário de insustentabilidade ambiental - com impactos sociais e econômicos negativos - caso o governo local não se aparelhe e estruture.
Há motivos para preocupação. Segundo o estudo, a MMX, que iniciou no ano passado a produção de ferro-gusa (a matéria-prima do aço) em Corumbá, planeja atingir a partir de 2009 a marca anual de 452 mil toneladas. A Vale, que produz ferro-ligas, e as siderúrgicas não-integradas Vetorial, WMD/Siderúrgica MS e Sideruna deverão responder por outras 373 mil toneladas no mesmo período. Será um aumento de nada menos que 191,5%, passando de 283 mil toneladas em 2007 para 825 mil já no ano que vem, considerando que todas as unidades funcionem como o esperado.
Para alimentar esses fornos, no entanto, será necessário pelo menos o dobro de área de floresta plantada disponível no Estado. "Já não há hoje árvores plantadas suficientes para atender ao mercado. A implementação do complexo minero-siderúrgico aumentará ainda mais a pressão sobre as áreas nativas, impactando de forma considerável a manutenção da biodiversidade", afirma André Carvalho, do Gvces.
Segundo o estudo, havia em 2007 cerca de 148 mil hectares de florestas plantadas no Mato Grosso do Sul - quase nada se comparados com os 490 mil hectares de pinus e eucaliptos dos anos 70. Desse volume, 80 mil estão vinculados à operação da VCP (Votorantim Celulose e Papel) no Estado. Outros 39 mil são destinados a diversos setores da economia de consumo local, como serrarias e agroindústria, e a Minas Gerais, maior produtor de gusa do país. Sobram, portanto, menos de 30 mil hectares de florestas plantadas no Estado, com árvores em diferentes estágios de crescimento.
Apenas a produção anual de ferros-primários precisa de uma área anual de cerca de 9 mil hectares de florestas plantadas em ponto de corte, afirma o pesquisador. Para 2014, estima-se serem necessários 63 mil hectares de florestas plantadas em nome da preservação de espécies nativas do Pantanal e do Cerrado.
"E não haverá essa área", alerta Carvalho. Após dois anos de estudo e entrevistas in loco, o pesquisador da Gvces chegou à conclusão: as contas não fecham. "A menos que o governo crie um modelo de produção sustentável de carvão". Segundo a Reflore, a associação dos produtores de árvores, seis mil hectares de árvores para corte são plantadas por ano no Estado. Isso representará apenas 42 mil hectares em 2014 - e, ainda assim, nem todas as árvores estarão prontas para o corte.
Todos esses números poderiam ser muito maiores se, em um exercício hipotético, a produção prevista de 4 milhões de toneladas de ferro-gusa de siderúrgicas associadas à mineradora Rio Tinto se baseasse também em carvão vegetal. Neste caso, seriam precisos estoques de 392 mil hectares de floresta plantada para atender o setor siderúrgico instalado no Estado, dado o ciclo de sete anos de exploração do eucalipto.
O número é hipotético porque a Rio Tinto afirma que, se aderisse ao complexo siderúrgico via associadas, seria utilizado apenas carvão mineral nos fornos. Além disso, a empresa aguarda decisão sobre sua operação em Corumbá - a lei brasileira não permite a atuação de mineradoras estrangeiras em região de fronteira. De qualquer forma, dá a dimensão dos desafios do governo para alavancar o complexo no Estado.
Há alguns anos, o Mato Grosso do Sul tenta criar um novo modelo de desenvolvimento econômico para o Estado, hoje marcado pelo binômio soja-pecuária. A idéia é de agregar valor à produção industrial, perfazendo o ciclo completo da mineração ao aço.
A aposta está em Corumbá, e não à toa. A região tem alta concentração de minério de ferro - Morraria de Santa Cruz, explorada pela Mineração Corumbaense Reunida (MCR), subsidiária do Rio Tinto; Urucum, da Vale; e Mutún, ainda inexplorada e localizada no lado boliviano da fronteira.
Mas o desmatamento para produção de carvão persiste como uma sombra para os negócios. De janeiro a agosto de 2007, a Polícia Militar Ambiental do Estado divulgou ter fechado 104 carvoarias sem autorização em Bonito, Aquidauana, Jardim e Bodoquena. No Paraguai, atribui-se a contrabandistas brasileiros, associados a produtores de carvão vegetal, a responsabilidade por parte da devastação. No ano passado, a Polícia Federal e o Ibama fizeram quatro operações conjuntas na fronteira. E pegaram muito carvão sem origem comprovada. "O Paraguai tem florestas e as siderúrgicas vão comer tudo", diz Inácio Santos, agente do Ibama.
"O Estado está mal-aparelhado, falta planejamento e fiscalização para novas demandas", completa Carvalho. "Só mudando isso o complexo siderúrgico será viável no Mato Grosso do Sul".
O estudo está disponível no site www.conservacao.org.
Um estudo inédito aponta que o Estado não tem o estoque de madeira legal necessário para alimentar os altos-fornos de ferro-gusa previstos para sair do papel. Movidas em grande parte a carvão vegetal, essas unidades pressionarão ainda mais uma já realidade conhecida na região: o desmatamento do Pantanal e Cerrado e o contrabando de madeira do Paraguai e (suspeita-se) da Bolívia.
Elaborado pelo Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas (GVces), de São Paulo, a pedido da organização ambiental Conservação Internacional (CI), o documento alerta para um cenário de insustentabilidade ambiental - com impactos sociais e econômicos negativos - caso o governo local não se aparelhe e estruture.
Há motivos para preocupação. Segundo o estudo, a MMX, que iniciou no ano passado a produção de ferro-gusa (a matéria-prima do aço) em Corumbá, planeja atingir a partir de 2009 a marca anual de 452 mil toneladas. A Vale, que produz ferro-ligas, e as siderúrgicas não-integradas Vetorial, WMD/Siderúrgica MS e Sideruna deverão responder por outras 373 mil toneladas no mesmo período. Será um aumento de nada menos que 191,5%, passando de 283 mil toneladas em 2007 para 825 mil já no ano que vem, considerando que todas as unidades funcionem como o esperado.
Para alimentar esses fornos, no entanto, será necessário pelo menos o dobro de área de floresta plantada disponível no Estado. "Já não há hoje árvores plantadas suficientes para atender ao mercado. A implementação do complexo minero-siderúrgico aumentará ainda mais a pressão sobre as áreas nativas, impactando de forma considerável a manutenção da biodiversidade", afirma André Carvalho, do Gvces.
Segundo o estudo, havia em 2007 cerca de 148 mil hectares de florestas plantadas no Mato Grosso do Sul - quase nada se comparados com os 490 mil hectares de pinus e eucaliptos dos anos 70. Desse volume, 80 mil estão vinculados à operação da VCP (Votorantim Celulose e Papel) no Estado. Outros 39 mil são destinados a diversos setores da economia de consumo local, como serrarias e agroindústria, e a Minas Gerais, maior produtor de gusa do país. Sobram, portanto, menos de 30 mil hectares de florestas plantadas no Estado, com árvores em diferentes estágios de crescimento.
Apenas a produção anual de ferros-primários precisa de uma área anual de cerca de 9 mil hectares de florestas plantadas em ponto de corte, afirma o pesquisador. Para 2014, estima-se serem necessários 63 mil hectares de florestas plantadas em nome da preservação de espécies nativas do Pantanal e do Cerrado.
"E não haverá essa área", alerta Carvalho. Após dois anos de estudo e entrevistas in loco, o pesquisador da Gvces chegou à conclusão: as contas não fecham. "A menos que o governo crie um modelo de produção sustentável de carvão". Segundo a Reflore, a associação dos produtores de árvores, seis mil hectares de árvores para corte são plantadas por ano no Estado. Isso representará apenas 42 mil hectares em 2014 - e, ainda assim, nem todas as árvores estarão prontas para o corte.
Todos esses números poderiam ser muito maiores se, em um exercício hipotético, a produção prevista de 4 milhões de toneladas de ferro-gusa de siderúrgicas associadas à mineradora Rio Tinto se baseasse também em carvão vegetal. Neste caso, seriam precisos estoques de 392 mil hectares de floresta plantada para atender o setor siderúrgico instalado no Estado, dado o ciclo de sete anos de exploração do eucalipto.
O número é hipotético porque a Rio Tinto afirma que, se aderisse ao complexo siderúrgico via associadas, seria utilizado apenas carvão mineral nos fornos. Além disso, a empresa aguarda decisão sobre sua operação em Corumbá - a lei brasileira não permite a atuação de mineradoras estrangeiras em região de fronteira. De qualquer forma, dá a dimensão dos desafios do governo para alavancar o complexo no Estado.
Há alguns anos, o Mato Grosso do Sul tenta criar um novo modelo de desenvolvimento econômico para o Estado, hoje marcado pelo binômio soja-pecuária. A idéia é de agregar valor à produção industrial, perfazendo o ciclo completo da mineração ao aço.
A aposta está em Corumbá, e não à toa. A região tem alta concentração de minério de ferro - Morraria de Santa Cruz, explorada pela Mineração Corumbaense Reunida (MCR), subsidiária do Rio Tinto; Urucum, da Vale; e Mutún, ainda inexplorada e localizada no lado boliviano da fronteira.
Mas o desmatamento para produção de carvão persiste como uma sombra para os negócios. De janeiro a agosto de 2007, a Polícia Militar Ambiental do Estado divulgou ter fechado 104 carvoarias sem autorização em Bonito, Aquidauana, Jardim e Bodoquena. No Paraguai, atribui-se a contrabandistas brasileiros, associados a produtores de carvão vegetal, a responsabilidade por parte da devastação. No ano passado, a Polícia Federal e o Ibama fizeram quatro operações conjuntas na fronteira. E pegaram muito carvão sem origem comprovada. "O Paraguai tem florestas e as siderúrgicas vão comer tudo", diz Inácio Santos, agente do Ibama.
"O Estado está mal-aparelhado, falta planejamento e fiscalização para novas demandas", completa Carvalho. "Só mudando isso o complexo siderúrgico será viável no Mato Grosso do Sul".
O estudo está disponível no site www.conservacao.org.
Fonte: Valor Econômico
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