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Notícias

15
ago
2007
(MADEIRA E PRODUTOS)
Madeira sustentável americana respalda fábrica de móveis no Brasil
Apesar de serem maiores poluidores, os americanos acordaram para o mundo antes de nós. A afirmação, que se refere ao manejo florestal sustentável adotado pelos Estados Unidos, é do gerente de marketing da Fábrica de Móveis Florense Ltda., Mateus Corradi. A empresa, sediada em Flores da Cunha – RS, utiliza lâminas de madeira de lei americana reflorestada para o acabamento dos seus produtos, que são comercializados no Brasil e exportados para a América do Norte e Europa, entre outros países. A madeira de lei americana (hardwood) tem despertado interesse por todo o mundo pela sua sustentabilidade. Surpreendentemente, desde 1953, as florestas de madeira de lei americana já aumentaram de tamanho em 97% e seu crescimento supera a própria extração. A utilização desse tipo de madeira tem contribuído para diminuir a pressão sobre as florestas ameaçadas, inclusive a amazônica.

“A nossa grande vantagem em usar madeira de lei americana não é um ganho competitivo ou marketeiro e sim uma política da empresa”, afirmou Corradi. “Temos a certificação ISO 14.000, que exige que todos as nossas matérias-primas e processos tenham fontes ecológicas e sustentáveis, como as madeiras dos Estados Unidos”, explicou o gerente de marketing. Segundo ele, o mercado brasileiro não disponibiliza lâminas de madeira dentro da conformidade ambiental. Os produtores norte-americanos geralmente obtêm os selos do Forest Stewardship Council (FSC) e do Sustainable Forestry Iniciative (SFI), dois dos sistemas de certificação mais conhecidos do mundo. Outro item que favorece indústrias que usam laminados estadunidenses é o fornecimento constante e regular o ano inteiro. No Brasil, a época das chuvas faz interromper ou diminuir as entregas às indústrias, o que atrapalha o planejamento da empresa.

Mateus Corradi não nega que Florense já tenha ganho muitas concorrências e fechado vários contratos por usar madeira sustentável, mas afirma que a escolha dos materiais na hora de fabricar móveis nunca foi apenas uma questão de ser “bonzinho”. “Desde 1994 temos uma preocupação verdadeira com a questão e, além do mais, naquele tempo usar isso para fazer propaganda não tinha valor algum. Preferimos usar tintas à base d’água e madeira certificada simplesmente porque é o mais correto”, explicou.

Design consciente

Juliana Gatti, organizadora do Núcleo de Design de Móveis na Associação dos Designers de Produto, com sede em São Paulo, diz que o fato de as madeiras de lei (ou madeiras duras) americanas possuírem certificação e serem extraídas de forma equilibrada da natureza a deixa mais interessada em utilizá-las. “Hoje em dia, creio que o fator da extração sustentável da madeira é essencial para o designer, mas nem tanto para o empresário por questões de custo”, entende a designer, que desenvolve um projeto voltado a produtos de madeira que tragam referências das árvores vivas.

Para o designer e pesquisador de madeiras nativas amazônicas, Christian Ullman, o consumidor que gosta de madeira não se importa com a origem dela, mas quem trabalha com o material gosta de descobrir novas qualidades ou possibilidades. “Vai haver muita gente querendo trabalhar com madeira de lei americana e, se virar moda, será um bom negócio para todos, dependendo das certificações e reconhecimentos que tenham”, avaliou o pesquisador, que foi um dos criadores da categoria Desenvolvimento Sustentável no Prêmio Brasil Faz Design, evento apoiado pelo SEBRAE.

Sem concorrência

A indústria madeireira brasileira, que tem sofrido com as recentes desvalorizações da moeda americana, não correria risco de perder espaço para a madeira de lei estadunidense. É o que garante o diretor do Conselho Estadunidense de Exportação de Madeiras de Lei para a América Latina, Roberto Torres. “As madeiras duras norte-americanas possuem características específicas, provêem de florestas sustentáveis nativas e não competem com as espécies brasileiras. Sua aplicação pode se destacar especialmente em móveis de alto padrão, destinados à exportação”, ressaltou o diretor. Em relação à madeira laminada, Mateus Corradi, da Florense, tem opinião parecida. “Acho que a indústria madeireira não se importaria muito com um eventual aumento das importações de madeira americana já que preferem trabalhar, na maioria das vezes, com toras em vez de madeira laminada”, afirmou.

“Sinto que o mercado brasileiro sofre de baixa auto-estima e estimular o consumo de matéria-prima estrangeira não deveria tomar a frente dos produtos nativos”, acautelou-se Juliana Gatti, que fez uma ressalva: “quando a identidade e alma brasileira são solicitadas, creio que a madeira brasileira seja essencial. Porém, podemos estabelecer projetos que promovam a aproximação de culturas e valores e acredito que isso seja muito válido e rico como inspiração”, declara a profissional. “Na questão estética, pelo que pude pesquisar, creio que a madeira de lei americana possui desenhos, veios e cores muito bonitas e com certeza bem aceitáveis”, observou.

Embora não seja fácil precisar dados dessa natureza, a ONG Amigos da Terra estima que, em 2000, 80% da madeira produzida só na Amazônia era ilegal e que nas regiões de fronteira o índice pode chegar a 95%.

Fabio Riesemberg
Porthus Comunicação
41 3072-3111 ou 9225-5230

Fonte: Fabio Riesemberg

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