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Notícias

13
fev
2007
(GERAL)
Florestas e etanol, saídas para a pobreza no Piauí
Um dos Estados menos desenvolvidos do Brasil, o Piauí tem pressa em romper esse estigma.

Nesse sentido, o governo estadual pediu à Codevasf projetos para identificar as possibilidades de exploração de recursos florestais e de implantação de um pólo alcooleiro na região do Vale do Parnaíba, que com 250,5 mil quilômetros quadrados cobre quase todo o território piauiense.

Em outubro de 2004, a Fundação de Pesquisas Florestais do Paraná (Fupef) foi contratada para dar números ao programa de desenvolvimento florestal previsto para a região pelo Plano de Ação para o Desenvolvimento Integrado do Vale do Parnaíba (Planap), elaborado pela Codevasf em parceria com governos estaduais do Piauí e Maranhão e instituições públicas e privadas. Segundo Adriano Lopes Pereira de Melo, gerente de Meio Ambiente da área de revitalização de bacias hidrográficas da Codevasf, o programa foi desenvolvido a pedido do governo do Piauí e envolve plantio florestal (com uso de espécimes de rápido crescimento, como o eucalipto), manejo de variedades nativas e a criação de unidades de proteção, com recuperação e conservação de áreas de interesse para a biodiversidade.

Uma das propostas do programa, defendido por Melo e Joésio Siqueira, consultor da Fupef e diretor da STCP Engenharia de Projetos Ltda - encarregada de realizar estudos de campo e avaliar o potencial da região para a produção de madeira a partir de áreas cultivadas e do manejo controlado de espécies nativas -, é reduzir as pressões sobre os recursos naturais e evitar o desmatamento. Com base em dados do Planap, entre 2001 e 2003 o Piauí perdeu 6,34% de suas matas ciliares, derrubadas para abrir espaço à agropecuária e abastecer siderúrgicas e gusarias do Maranhão, que são grandes consumidoras de carvão.

O modelo sugerido pela STCP e Fupef contempla a instalação de empresas âncoras, especializadas em empreendimentos florestais, que liderariam a implantação de clusters, com a inclusão de pequenos e médios produtores e emprego de mão-de-obra local. Foram selecionadas duas sub-regiões (Teresina e Uruçuí), atingindo 73 municípios. A princípio, os estudos envolveram a província de Teresina, que engloba 48 municípios e abriga quase 1,3 milhão de habitantes, numa área total de 4,8 milhões de hectares. Ali, as análises de viabilidade identificaram 635,4 mil hectares propícios ao plantio efetivo de eucalipto.

Apenas na área florestal, diz Siqueira, será necessário investir cerca de R$ 2 bilhões. A instalação de indústrias, seja para a produção de madeira processada, fabricação de celulose ou mesmo móveis e acessórios, exigirá aportes superiores a R$ 9 bilhões. Incluindo-se os quase R$ 1,6 bilhão previstos para a instalação de quatro usinas de álcool na região do Platô de Guadalupe, o investimento projetado para o Vale do Parnaíba chega a quase R$ 13 bilhões. As empresas- âncoras, conforme o projeto de viabilidade, deverão responder por metade dos investimentos e da área de florestas a ser implantada, participando com 52% da produção projetada de madeira. O restante deverá ser aportado por médios e pequenos produtores. A província de Teresina registra 49 mil proprietários rurais de pequeno porte - 93% do total de propriedades na região, com terras de até 99 hectares e uma participação de 46% na área total.

Ao mesmo tempo, a Codevasf contratou a FGV Projetos, braço da Fundação Getúlio Vargas (FGV), para identificar áreas propícias ao plantio de cana no Vale do Parnaíba. Após percorrer 1,7 mil quilômetros na região, a equipe da FGV Projetos, coordenada pelo consultor Antônio Bogado, fixou-se no Platô de Guadalupe, na porção mediana do vale, cerca de 300 quilômetros ao sul de, Teresina, perto da barragem da Usina de Boa Esperança. "Escolhemos o platô por sua topografia e solo favoráveis, garantia de abastecimento de água e um clima que não é totalmente árido", detalha Bogado. A área disponível para plantio soma de 90 mil a 110 mil hectares, com potencial para a produção de 8 milhões de toneladas de cana e 720 milhões de litros de álcool por safra.

O modelo sugerido pela FGV Projetos prevê a instalação de quatro módulos, cada um com 28 mil hectares e capacidade inicial para 2 milhões de toneladas, num investimento total de R$ 1,6 bilhão ao longo de 12 anos - prazo estimado para a entrada em operação da quarta e última unidade. "Mas será possível começar a produção em três ou quatro anos", afirma Bogado. A onda de investimentos no segmento parece dar razão a Bogado, especialmente diante das expectativas criadas a partir do avanço dos veículos bicombustível no país. "Projetando um crescimento anual de 6% para a frota apenas no Piauí, em 12 anos haverá demanda de 500 milhões de litros de álcool, o que representará 55% da produção própria do Estado, estimada em 900 milhões de litros. Isso sem mencionar Estados vizinhos".

O pólo canavieiro do Vale do Parnaíba demandará um suprimento complementar de água equivalente a 600 milímetros por ano, que serão bombeados desde a barragem de Boa Esperança - já que o platô situa-se 200 metros acima do nível do reservatório. Como a barragem chega a acumular, nas fases de baixa, perto de 1,9 bilhão de m³ de água, só o projeto consumirá o correspondente 28% da capacidade mínima do reservatório. O sistema permitirá a utilização de técnicas de gotejamento para complementar a necessidade hídrica das lavouras, alimentado pela energia que será co-gerada pelas usinas a partir do bagaço da cana.

Com a irrigação, que vem sendo utilizada com bons resultados pela Itajubara S/A Açúcar e Álcool, do grupo João Santos, em Coelho Neto (MA), afirma Bogado, a produtividade média esperada no Vale do Parnaíba deverá girar em torno de 100 a 110 toneladas de cana por hectare, com previsão de 10 cortes antes do replantio. O pólo deverá criar 1,2 mil empregos diretos nas usinas e mais 1,6 mil na lavoura, além de outros 4 mil postos sazonais durante os sete meses de colheita. A idéia é que seja utilizada mão-de-obra local, inclusive para os setores de administração e financeiro. "Por isso, será realizado um esforço para capacitação técnica e formação de quadros na região". O projeto, que exigirá a abertura de 500 quilômetros de estradas vicinais e 50 quilômetros de canais de irrigação apenas na rede principal, tem prazo de retorno para o capital investido projetado para nove anos.

Fonte: Valor Econômico

ITTO Sindimadeira_rs