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(GERAL)
China já supera Brasil na América Latina
Domingos Rigoni, presidente da Movelar, tomou um susto quando um grupo varejista do Equador, seu maior cliente no mercado externo, avisou que pretendia parar de comprar móveis do Brasil.
O importador equatoriano disse que visitou feiras de móveis na China e os produtos estavam bem mais baratos que os brasileiros.
A conversa ocorreu em um momento delicado. Prejudicada pela valorização do real, a Movelar, fábrica de móveis com sede no Espírito Santo, reajustou os preços entre 5% e 15% e perdeu competitividade. O cliente equatoriano ainda não cumpriu a ameaça de interromper as importações, mas, em sinal de alerta, reduziu um pouco as compras em julho.
É sem alarde, ao estilo oriental, que a China ganha espaço na América Latina, tradicional cliente do Brasil. O governo brasileiro comemorou o fato de os latino-americanos se tornarem os maiores compradores do país, absorvendo perto de 25% das exportações, acima de Estados Unidos e União Européia. A performance é boa, mas insuficiente para vencer o dragão.
A China já supera o Brasil como maior fornecedor de produtos manufaturados para os outros países da América Latina. Em 1990, os chineses respondiam por fatia irrisória das importações desses bens na região: 0,7%. Em 2004, último dado disponível, a China ficou com quase oito vezes mais, 7,8%. O Brasil também cresceu a participação, mas foi ultrapassado, já que sua velocidade está longe de ser chinesa. A fatia dos brasileiros subiu de 5,3% em 1990 para 6,5% em 2004, segundo o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
Tendência inevitável
"A tendência de crescimento da China é inevitável", constata Maurício Moreira Mesquisa, economista do BID. "Há uma forte complementariedade entre as economias chinesa e latino-americana", completa Júlio Callegari, do banco J.P. Morgan. A China é hoje uma importante consumidora de commodities que a América Latina oferece com fartura. Por outro lado, os chineses vendem manufaturados, que os países latino-americanos, com exceção do Brasil e do México, praticamente não têm condições de produzir. E a competitividade da China - baseada em mão-de-obra barata e baixa carga tributária - deixa o jogo muito difícil para brasileiros e mexicanos.
A partir de 2003, ocorreu um "boom" de exportações de commodities da América Latina para a China. O país asiático se tornou importante comprador do minério de ferro do Brasil, do cobre do Chile e da soja da Argentina. Esse "boom" tem dois efeitos que, aos poucos, vão invertendo a balança a favor dos chineses.
O primeiro efeito é a valorização do câmbio. Com o crescimento das vendas de commodities para a China, aumenta o fluxo de dólares que ingressa nos países da América Latina, valorizando suas moedas. Esse fenômeno favorece a importação de manufaturados chineses. Para o Brasil, que possui um parque industrial estruturado, a perda é dupla, atingindo mercado interno e exportação.
O segundo efeito é o custo do frete. A exportação de commodities praticamente fez surgir uma nova rota de navios, que vão da América do Sul para a China. É natural que empresas e armadores busquem reduzir seus custos, carregando os navios de produtos chineses na viagem de volta.
Obedecendo padrão já conhecido em outras regiões do planeta, a invasão chinesa na América Latina também começou por produtos intensivos em mão-de-obra, como têxteis e calçados, e por eletroeletrônicos. Os chineses ainda engatinham em produtos mais elaborados, como automóveis, um importante item da pauta do Brasil. Mas a indústria automotiva não esconde sua apreensão. Parece ser questão de tempo.
Almir Biejing, diretor de exportação da Teka, relata que alguns clientes do Mercosul reduziram os pedidos em até 50%. Desde o início do ano, a fabricante de roupas de cama, mesa e banho está notando um acirramento da concorrência nos mercados de Argentina, Uruguai e Paraguai. O movimento começou por toalhas de banho e cobertores - produtos que não dependem de reposição rápida.
Alta do real
Biejing atribui a competição com chineses na região à alta do real, que provocou um reajuste de 15% a 25% nos preços. "O Brasil está forçando esses países a procurar novos fornecedores", diz. O faturamento da Teka com as vendas no exterior caiu 4,4% em reais no primeiro semestre do ano, para R$ 31 milhões. A América Latina responde por 45% do total. Biejing acrescenta que o câmbio minimiza a grande vantagem do Brasil em relação à China nos mercados da América do Sul: tempo. Segundo ele, uma toalha brasileira leva uma semana para chegar à Argentina, enquanto a chinesa gasta 50 dias.
As empresas brasileiras relatam uma concorrência feroz com a China nos Estados Unidos e na União Européia, economias abertas, onde vence o melhor preço. Prejudicadas pelo real forte, as exportações do Brasil para americanos e europeus cresceram míseros 6% e 7%, respectivamente, de janeiro a julho ante igual período de 2005.
Na América Latina, as tarifas de importação de produtos industriais ainda são altas e o Brasil conta com acordos comerciais vantajosos, que favorecem seus produtos em relação aos chineses. Com a ajuda do forte crescimento de economias como Argentina e Venezuela, as exportações do Brasil para a América Latina subiram 22% na mesma comparação.
É por isso que a invasão chinesa é mais intensa nos países mais abertos da América Latina: México e Chile. As duas nações possuem acordos de livre comércio com muitas regiões, o que intensifica a competição. Não por acaso o Chile é, na definição de empresários brasileiros, a "porta da Ásia" na América do Sul. Os empresários do setor têxtil contam que tecidos e roupas asiáticas dominam o mercado chileno há muito tempo. E as montadoras dizem que é difícil concorrer com os carros coreanos por lá.
O Brasil fornecia 10% das importações de manufaturados do Chile em 1990 e 15 anos depois ficou com 13% do total. Os chineses passaram de 1% para 12% no mesmo período. Em 1990, Brasil e China forneciam cada um pouco mais de 1% do que o México comprava no exterior em bens industriais. Em 2005, a participação do Brasil ficou em 2,4% e a da China foi a 9,1%.
No Mercosul, os manufaturados brasileiros são beneficiados porque não pagam tarifa de importação. Com essa vantagem, o domínio nos mercados de Argentina, Uruguai e Paraguai ainda é muito expressivo. O Brasil respondeu por 23% das importações desses países em 2004. Lentamente, a China ganha espaço. Sua fatia nas importações do Mercosul, incluindo o Brasil, subiu de 1% para 7%.
Sem competitividade
Sem a proteção dos acordos comerciais, a competitividade brasileira começa a ruir. Apesar das regras do Mercosul, a Argentina limitou as importações brasileiras de calçados a uma cota anual de cerca de 13 milhões de pares nos últimos dois anos. E para garantir que esse volume fosse cumprido, impôs licenças não-automáticas de importação.
Foi o bastante para os chineses avançarem sobre esse mercado, apesar da tarifa de 35% aplicada pelo Mercosul para a importação de sapatos de fora do bloco. O Brasil viu sua participação encolher de 90% para 50% no mercado calçadista argentino em dois anos. Agora disputa palmo-a-palmo o mercado da Argentina com a China.
Milton Cardoso, diretor-superintendente da Vulcabras, conta que está com 150 mil pares retidos nos portos da Argentina à espera de licença, mas classifica o problema como "costumeiro". Ele diz que a rentabilidade das operações na Argentina está comprometida. A Vulcabras produz e comercializa tênis com a marca Reebok. Devido aos problemas no câmbio e à valorização do real, o empresário conta que fechou uma parceria com a Alpargatas Argentina para produzir os modelos mais simples no país. Ele pretende, inclusive, trazer os calçados produzidos no país vizinho para vender no Brasil. "O primeiro embarque deve ocorrer em setembro", diz Cardoso.
Valor Econômico
O importador equatoriano disse que visitou feiras de móveis na China e os produtos estavam bem mais baratos que os brasileiros.
A conversa ocorreu em um momento delicado. Prejudicada pela valorização do real, a Movelar, fábrica de móveis com sede no Espírito Santo, reajustou os preços entre 5% e 15% e perdeu competitividade. O cliente equatoriano ainda não cumpriu a ameaça de interromper as importações, mas, em sinal de alerta, reduziu um pouco as compras em julho.
É sem alarde, ao estilo oriental, que a China ganha espaço na América Latina, tradicional cliente do Brasil. O governo brasileiro comemorou o fato de os latino-americanos se tornarem os maiores compradores do país, absorvendo perto de 25% das exportações, acima de Estados Unidos e União Européia. A performance é boa, mas insuficiente para vencer o dragão.
A China já supera o Brasil como maior fornecedor de produtos manufaturados para os outros países da América Latina. Em 1990, os chineses respondiam por fatia irrisória das importações desses bens na região: 0,7%. Em 2004, último dado disponível, a China ficou com quase oito vezes mais, 7,8%. O Brasil também cresceu a participação, mas foi ultrapassado, já que sua velocidade está longe de ser chinesa. A fatia dos brasileiros subiu de 5,3% em 1990 para 6,5% em 2004, segundo o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
Tendência inevitável
"A tendência de crescimento da China é inevitável", constata Maurício Moreira Mesquisa, economista do BID. "Há uma forte complementariedade entre as economias chinesa e latino-americana", completa Júlio Callegari, do banco J.P. Morgan. A China é hoje uma importante consumidora de commodities que a América Latina oferece com fartura. Por outro lado, os chineses vendem manufaturados, que os países latino-americanos, com exceção do Brasil e do México, praticamente não têm condições de produzir. E a competitividade da China - baseada em mão-de-obra barata e baixa carga tributária - deixa o jogo muito difícil para brasileiros e mexicanos.
A partir de 2003, ocorreu um "boom" de exportações de commodities da América Latina para a China. O país asiático se tornou importante comprador do minério de ferro do Brasil, do cobre do Chile e da soja da Argentina. Esse "boom" tem dois efeitos que, aos poucos, vão invertendo a balança a favor dos chineses.
O primeiro efeito é a valorização do câmbio. Com o crescimento das vendas de commodities para a China, aumenta o fluxo de dólares que ingressa nos países da América Latina, valorizando suas moedas. Esse fenômeno favorece a importação de manufaturados chineses. Para o Brasil, que possui um parque industrial estruturado, a perda é dupla, atingindo mercado interno e exportação.
O segundo efeito é o custo do frete. A exportação de commodities praticamente fez surgir uma nova rota de navios, que vão da América do Sul para a China. É natural que empresas e armadores busquem reduzir seus custos, carregando os navios de produtos chineses na viagem de volta.
Obedecendo padrão já conhecido em outras regiões do planeta, a invasão chinesa na América Latina também começou por produtos intensivos em mão-de-obra, como têxteis e calçados, e por eletroeletrônicos. Os chineses ainda engatinham em produtos mais elaborados, como automóveis, um importante item da pauta do Brasil. Mas a indústria automotiva não esconde sua apreensão. Parece ser questão de tempo.
Almir Biejing, diretor de exportação da Teka, relata que alguns clientes do Mercosul reduziram os pedidos em até 50%. Desde o início do ano, a fabricante de roupas de cama, mesa e banho está notando um acirramento da concorrência nos mercados de Argentina, Uruguai e Paraguai. O movimento começou por toalhas de banho e cobertores - produtos que não dependem de reposição rápida.
Alta do real
Biejing atribui a competição com chineses na região à alta do real, que provocou um reajuste de 15% a 25% nos preços. "O Brasil está forçando esses países a procurar novos fornecedores", diz. O faturamento da Teka com as vendas no exterior caiu 4,4% em reais no primeiro semestre do ano, para R$ 31 milhões. A América Latina responde por 45% do total. Biejing acrescenta que o câmbio minimiza a grande vantagem do Brasil em relação à China nos mercados da América do Sul: tempo. Segundo ele, uma toalha brasileira leva uma semana para chegar à Argentina, enquanto a chinesa gasta 50 dias.
As empresas brasileiras relatam uma concorrência feroz com a China nos Estados Unidos e na União Européia, economias abertas, onde vence o melhor preço. Prejudicadas pelo real forte, as exportações do Brasil para americanos e europeus cresceram míseros 6% e 7%, respectivamente, de janeiro a julho ante igual período de 2005.
Na América Latina, as tarifas de importação de produtos industriais ainda são altas e o Brasil conta com acordos comerciais vantajosos, que favorecem seus produtos em relação aos chineses. Com a ajuda do forte crescimento de economias como Argentina e Venezuela, as exportações do Brasil para a América Latina subiram 22% na mesma comparação.
É por isso que a invasão chinesa é mais intensa nos países mais abertos da América Latina: México e Chile. As duas nações possuem acordos de livre comércio com muitas regiões, o que intensifica a competição. Não por acaso o Chile é, na definição de empresários brasileiros, a "porta da Ásia" na América do Sul. Os empresários do setor têxtil contam que tecidos e roupas asiáticas dominam o mercado chileno há muito tempo. E as montadoras dizem que é difícil concorrer com os carros coreanos por lá.
O Brasil fornecia 10% das importações de manufaturados do Chile em 1990 e 15 anos depois ficou com 13% do total. Os chineses passaram de 1% para 12% no mesmo período. Em 1990, Brasil e China forneciam cada um pouco mais de 1% do que o México comprava no exterior em bens industriais. Em 2005, a participação do Brasil ficou em 2,4% e a da China foi a 9,1%.
No Mercosul, os manufaturados brasileiros são beneficiados porque não pagam tarifa de importação. Com essa vantagem, o domínio nos mercados de Argentina, Uruguai e Paraguai ainda é muito expressivo. O Brasil respondeu por 23% das importações desses países em 2004. Lentamente, a China ganha espaço. Sua fatia nas importações do Mercosul, incluindo o Brasil, subiu de 1% para 7%.
Sem competitividade
Sem a proteção dos acordos comerciais, a competitividade brasileira começa a ruir. Apesar das regras do Mercosul, a Argentina limitou as importações brasileiras de calçados a uma cota anual de cerca de 13 milhões de pares nos últimos dois anos. E para garantir que esse volume fosse cumprido, impôs licenças não-automáticas de importação.
Foi o bastante para os chineses avançarem sobre esse mercado, apesar da tarifa de 35% aplicada pelo Mercosul para a importação de sapatos de fora do bloco. O Brasil viu sua participação encolher de 90% para 50% no mercado calçadista argentino em dois anos. Agora disputa palmo-a-palmo o mercado da Argentina com a China.
Milton Cardoso, diretor-superintendente da Vulcabras, conta que está com 150 mil pares retidos nos portos da Argentina à espera de licença, mas classifica o problema como "costumeiro". Ele diz que a rentabilidade das operações na Argentina está comprometida. A Vulcabras produz e comercializa tênis com a marca Reebok. Devido aos problemas no câmbio e à valorização do real, o empresário conta que fechou uma parceria com a Alpargatas Argentina para produzir os modelos mais simples no país. Ele pretende, inclusive, trazer os calçados produzidos no país vizinho para vender no Brasil. "O primeiro embarque deve ocorrer em setembro", diz Cardoso.
Valor Econômico
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