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Notícias
11
dez
2005
(GERAL)
Tribo abre reserva para extração ilegal de madeira
O envolvimento de uma aldeia indígena com a extração ilegal de madeira no Parque Indígena do Xingu, em Mato Grosso, deixou uma ferida aberta no meio ambiente e nas relações sociais das etnias que convivem dentro da unidade. Segundo relatos de autoridades e organizações não-governamentais, cerca de 800 hectares de floresta protegida já foram explorados por madeireiros com a conivência de índios trumais da aldeia Terra Nova. A atitude é condenada pelas outras etnias.
Uma operação lançada no fim do mês passado pelo Ibama já resultou na prisão de dois suspeitos de pistolagem e na autuação de pelo menos seis madeireiras nos municípios de Vera e Feliz Natal, vizinhos ao parque. Segundo o coordenador de Fiscalização do Ibama em Mato Grosso, Leslie Tavares, a quantidade de madeira retirada pode passar de 40 mil metros cúbicos - suficiente para carregar 1.100 carretas.
Estradas clandestinas - Imagens produzidas pelo satélite CBERS-2 e analisadas pelo Instituto Socioambiental (ISA) evidenciam a abertura de várias estradas clandestinas a partir da aldeia Terra Nova entre agosto de 2004 e julho de 2005. Segundo Tavares, as invasões chegaram a dez quilômetros no interior do parque e as estradas são usadas principalmente para a retirada de madeira nobre, como itaúba.
O líder da aldeia é o cacique Ararapan Trumai, personagem conhecida e de grande influência no Xingu. Segundo as denúncias, ele teria aberto a porta para os madeireiros em troca de dinheiro e produtos. ´A aldeia caiu totalmente na rota da marginalidade´, diz o coordenador do Programa Xingu do ISA, André Villas-Bôas. "Isso, é claro, só depois de muito assédio dos madeireiros. Toda vez que os madeireiros entram em contato com os índios acaba havendo aliciamento."
A aldeia, segundo VillasBôas, é pequena: cerca de 30 pessoas, organizadas sob a hierarquia de uma única família. O parque todo é ocupado por 4.500 índios, de 14 etnias. A intervenção das autoridades no negócio criou conflitos com a aldeia. Logo no início da operação do Ibama, cerca de 40 índios armados com arcos e armas de fogo bloquearam a entrada dos fiscais na reserva. Funcionários da Fundação Nacional do Índio (Funai) que foram ao local para negociar chegaram a ser mantidos reféns pelos trumais, mas não houve violência.
Tensão - "A Polícia Federal chegou a ser acionada, mas a intervenção acabou não sendo necessária", disse Tavares ao Estado, por telefone. "Como a totalidade das lideranças indígenas do Xingu é contrária à extração de madeira em suas reservas, uma equipe de representantes das outras aldeias conseguiu a liberação dos servidores." A operação deve terminar nesta semana.
"A situação está mais amena, mas ainda não temos condições para entrar na área. Tentaram até segurar nosso helicóptero no chão quando pousamos lá", conta Tavares.
O desafio é rastrear a madeira ilegal até as madeireiras, para que elas possam ser responsabilizadas. A madeira de terras indígenas, segundo Tavares, é considerada um bem da União, o que classifica a extração como crime federal.
Já os índios não deverão sofrer nenhuma punição, segundo o administrador regional do Xingu pela Funai, Paiê Kayabi. "Chamamos o cacique Ararapan para conversar e ele prometeu que vai parar com isso." Segundo Villas-Bôas, há cerca de um ano, Ararapan solicitou à Funai e aos caciques do Xingu uma autorização de desmatamento para a construção de uma pista de pouso e de uma nova aldeia com pastagens. O pedido foi negado quando ficou constatado que a madeira derrubada seria vendida pela aldeia. Mas isso não impediu o negócio com os madeireiros.
Após a intervenção do Ibama, Ararapan chegou a pedir um prazo de 30 dias para comercializar a madeira já derrubada. O ´fascínio do consumo´, segundo Villas-Bôas, aprisiona os índios em um ciclo de endividamento constante.
Eles vendem a madeira por um preço muito pequeno, em troca de produtos, como carros e televisões, que acabam nunca conseguindo pagar. A não ser com mais madeira. "Sem saber, eles se tornam reféns dos madeireiros", afirma. O prejuízo não é apenas ambiental, mas social, com a prostituição das índias e perda de costumes pelo contato com os madeireiros.
Os índios, diz ele, estão em busca de alternativas econômicas para suprir suas necessidades de consumo. A solução, portanto, seria o investimento em alternativas econômicas sustentáveis, como artesanato, apicultura e óleos vegetais. A exploração de madeira também é possível, mas muito complicada do ponto de vista legal e cultural. "Estamos falando de sociedades baseadas tradicionalmente numa economia de subsistência. Você não pode jogá-las do dia para a noite num projeto industrial de exploração de madeira."
Herton Escobar
Folha online
Uma operação lançada no fim do mês passado pelo Ibama já resultou na prisão de dois suspeitos de pistolagem e na autuação de pelo menos seis madeireiras nos municípios de Vera e Feliz Natal, vizinhos ao parque. Segundo o coordenador de Fiscalização do Ibama em Mato Grosso, Leslie Tavares, a quantidade de madeira retirada pode passar de 40 mil metros cúbicos - suficiente para carregar 1.100 carretas.
Estradas clandestinas - Imagens produzidas pelo satélite CBERS-2 e analisadas pelo Instituto Socioambiental (ISA) evidenciam a abertura de várias estradas clandestinas a partir da aldeia Terra Nova entre agosto de 2004 e julho de 2005. Segundo Tavares, as invasões chegaram a dez quilômetros no interior do parque e as estradas são usadas principalmente para a retirada de madeira nobre, como itaúba.
O líder da aldeia é o cacique Ararapan Trumai, personagem conhecida e de grande influência no Xingu. Segundo as denúncias, ele teria aberto a porta para os madeireiros em troca de dinheiro e produtos. ´A aldeia caiu totalmente na rota da marginalidade´, diz o coordenador do Programa Xingu do ISA, André Villas-Bôas. "Isso, é claro, só depois de muito assédio dos madeireiros. Toda vez que os madeireiros entram em contato com os índios acaba havendo aliciamento."
A aldeia, segundo VillasBôas, é pequena: cerca de 30 pessoas, organizadas sob a hierarquia de uma única família. O parque todo é ocupado por 4.500 índios, de 14 etnias. A intervenção das autoridades no negócio criou conflitos com a aldeia. Logo no início da operação do Ibama, cerca de 40 índios armados com arcos e armas de fogo bloquearam a entrada dos fiscais na reserva. Funcionários da Fundação Nacional do Índio (Funai) que foram ao local para negociar chegaram a ser mantidos reféns pelos trumais, mas não houve violência.
Tensão - "A Polícia Federal chegou a ser acionada, mas a intervenção acabou não sendo necessária", disse Tavares ao Estado, por telefone. "Como a totalidade das lideranças indígenas do Xingu é contrária à extração de madeira em suas reservas, uma equipe de representantes das outras aldeias conseguiu a liberação dos servidores." A operação deve terminar nesta semana.
"A situação está mais amena, mas ainda não temos condições para entrar na área. Tentaram até segurar nosso helicóptero no chão quando pousamos lá", conta Tavares.
O desafio é rastrear a madeira ilegal até as madeireiras, para que elas possam ser responsabilizadas. A madeira de terras indígenas, segundo Tavares, é considerada um bem da União, o que classifica a extração como crime federal.
Já os índios não deverão sofrer nenhuma punição, segundo o administrador regional do Xingu pela Funai, Paiê Kayabi. "Chamamos o cacique Ararapan para conversar e ele prometeu que vai parar com isso." Segundo Villas-Bôas, há cerca de um ano, Ararapan solicitou à Funai e aos caciques do Xingu uma autorização de desmatamento para a construção de uma pista de pouso e de uma nova aldeia com pastagens. O pedido foi negado quando ficou constatado que a madeira derrubada seria vendida pela aldeia. Mas isso não impediu o negócio com os madeireiros.
Após a intervenção do Ibama, Ararapan chegou a pedir um prazo de 30 dias para comercializar a madeira já derrubada. O ´fascínio do consumo´, segundo Villas-Bôas, aprisiona os índios em um ciclo de endividamento constante.
Eles vendem a madeira por um preço muito pequeno, em troca de produtos, como carros e televisões, que acabam nunca conseguindo pagar. A não ser com mais madeira. "Sem saber, eles se tornam reféns dos madeireiros", afirma. O prejuízo não é apenas ambiental, mas social, com a prostituição das índias e perda de costumes pelo contato com os madeireiros.
Os índios, diz ele, estão em busca de alternativas econômicas para suprir suas necessidades de consumo. A solução, portanto, seria o investimento em alternativas econômicas sustentáveis, como artesanato, apicultura e óleos vegetais. A exploração de madeira também é possível, mas muito complicada do ponto de vista legal e cultural. "Estamos falando de sociedades baseadas tradicionalmente numa economia de subsistência. Você não pode jogá-las do dia para a noite num projeto industrial de exploração de madeira."
Herton Escobar
Folha online
Fonte:
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