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A silvicultura brasileira entra em um novo e decisivo capítulo.
Depois de se consolidar em diferentes regiões e após o ousado e bem-sucedido avanço no Mato Grosso do Sul, que transformou o estado em um dos maiores polos florestais do país, o setor precisa agora encarar um desafio de grandes proporções: expandir-se para novas regiões, atender a novos usos e responder a novas demandas que estão surgindo no coração do agronegócio brasileiro.
As atenções se voltam para as novas fronteiras produtivas — MATOPIBA (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), Goiás, norte de Minas Gerais e o Mato Grosso. Nessas áreas, a agropecuária se expande com força, atraindo agroindústrias e, especialmente, usinas de etanol de milho, que se consolidam como importantes vetores de desenvolvimento.
Contudo, paira uma questão crucial e ainda pouco debatida: haverá madeira suficiente para sustentar energeticamente essas novas cadeias industriais?
A realidade é preocupante. Nessas regiões, praticamente não houve programas significativos de reflorestamento. A tradição silvicultural é incipiente e o plantio de florestas comerciais ainda é tímido. A madeira — insumo essencial para geração de energia térmica e secagem de grãos — pode simplesmente faltar.
Esse é o ponto sensível que define o futuro da bioeconomia em expansão. E, mais do que um alerta, trata-se de um chamado à ação e à cooperação nacional.
Ignorar o problema seria aceitar o risco de um erro estratégico grave: permitir que grandes investimentos industriais sejam limitados por falta de insumo básico para energia. Não se trata de alarmismo, mas de lucidez técnica. O sucesso das usinas e da economia regional dependerá de políticas e ações imediatas para estruturar a base florestal.
O caminho é claro: prospectar as regiões, instalar ensaios experimentais, desenvolver materiais genéticos adaptados ao clima e solo locais e oferecer suporte técnico qualificado para que novas florestas sejam implantadas com base científica e planejamento de longo prazo.
A resposta deve vir de um esforço conjunto entre empresas, instituições de pesquisa, governos estaduais e profissionais da engenharia florestal — articulados e conscientes da urgência dessa nova fronteira.
O momento exige ousadia com responsabilidade. Acreditar que a oferta de madeira surgirá espontaneamente é apostar no improviso — e a história já mostrou que o sucesso florestal se constrói com base em ciência, cooperação e visão estratégica.
A madeira, “insumo esquecido”, é hoje a peça-chave — e ainda indefinida — do tabuleiro energético das novas fronteiras agrícolas. Enfrentar esse desafio com seriedade e esperança é garantir o futuro da silvicultura brasileira como aliada indispensável da bioeconomia, da sustentabilidade e da competitividade nacional.
Nelson Barboza Leite – Agrônomo – Silvicultor – nbleite@uol.com.br
Fonte: Comunidade de Silvicultura
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