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O PRODEPEF – Projeto de Desenvolvimento e Pesquisa Florestal, criado em 1971, foi uma das mais relevantes iniciativas da história florestal brasileira, resultado de um convênio firmado entre o IBDF (Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal) e a FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação).
O projeto surgiu em um momento decisivo para a silvicultura nacional, quando a política de incentivos fiscais ao reflorestamento, instituída pelo Governo Federal na década de 1960, exigia embasamento técnico e científico que garantisse sustentabilidade e eficiência aos empreendimentos florestais em rápida expansão. Era necessário compreender melhor as espécies, os solos, as técnicas de manejo e as condições regionais, a fim de assegurar produtividade e qualidade à madeira produzida.
Nesse contexto, o desenvolvimento de estudos e pesquisas básicas e aplicadas tornou-se prioridade, seguido da formação de profissionais especializados capazes de aplicar e expandir o conhecimento gerado.
O PRODEPEF foi estruturado em cinco centros regionais de pesquisa, estrategicamente localizados em Belo Horizonte (Sudeste), Belém e Santarém (Norte), Brasília (Centro-Oeste), Curitiba (Sul) e Natal (Nordeste). Contava com uma equipe de mais de quarenta pesquisadores — brasileiros e estrangeiros — distribuídos entre esses centros e dedicados à experimentação, levantamento de dados, intercâmbio técnico e capacitação.
Essa estrutura coordenava centenas de experimentos de campo, envolvendo espécies exóticas, como Eucalyptus e Pinus, e espécies nativas, além de culturas adaptadas a diferentes ecossistemas brasileiros.
No Nordeste, o projeto destacou-se por incluir espécies como caju, coco e algaroba, estabelecendo, em parceria com o IBDF, normas técnicas de preparo do solo, adubação, espaçamento e escolha de variedades. Essa ação foi impulsionada pela destinação de 30% dos incentivos fiscais para projetos na região, o que alavancou o plantio comercial e gerou bases técnicas que fortaleceram atividades produtivas até os dias atuais.
Naquele período, o IBDF era presidido pelo Dr. Paulo Berutti e estava vinculado ao Ministério da Agricultura, sob a liderança do Dr. Alysson Paolinelli, cuja atuação visionária representou um marco no desenvolvimento rural brasileiro, ao integrar ciência, tecnologia e política pública de fomento à produção.
Entre as contribuições mais notáveis do PRODEPEF destacam-se o fortalecimento do Laboratório de Produtos Florestais, sediado na Universidade de Brasília (UnB), ampliando o alcance das pesquisas voltadas ao uso industrial e tecnológico da madeira; e a consolidação dos experimentos de melhoramento genético florestal, coordenados pelo Dr. Lamberto Golfari, pesquisador argentino e ecologista.
A partir do centro de Belo Horizonte, Golfari implantou — com apoio dos demais centros regionais e patrocínio da FAO — uma ampla rede de ensaios com espécies e procedências de Eucalyptus. As sementes foram coletadas in loco em países como África do Sul, Austrália, Nova Zelândia e Ilha de Timor, permitindo estudos de adaptação ecológica e comportamento silvicultural que resultaram em uma obra seminal.
Esse trabalho orientou, por décadas, a escolha de espécies adequadas a cada região do Brasil e serviu de base para os programas de melhoramento genético desenvolvidos posteriormente em Piracicaba, Viçosa e em empresas pioneiras como a Aracruz Florestal.
O centro de Belo Horizonte contou com uma equipe brilhante para acompanhar os trabalhos do Dr. Golfari e tinha como coordenador o Dr. Carlos E. Thibau.
Outros marcos importantes incluíram a elaboração do Manual Técnico de Reflorestamento, referência prática e metodológica para a execução dos programas de plantio em todo o país; a realização do primeiro Inventário Florestal Nacional, abrangente e pioneiro, que permanece como referência na quantificação dos recursos florestais; o estabelecimento de normas operacionais e legais para os Planos de Manejo Florestal Sustentado em florestas tropicais, que orientaram o manejo racional da Amazônia; a criação, em convênio com o INPE, do Programa de Monitoramento da Cobertura Florestal da Amazônia e das Florestas Plantadas, pioneiro no país; e o Projeto Tapajós, que comprovou, com base científica e técnica, a viabilidade do manejo racional e economicamente sustentável da floresta amazônica, especialmente na área experimental da Floresta Nacional do Rio Tapajós.
Em janeiro de 1976, o Dr. Mauro Reis assumiu a direção do PRODEPEF, conduzindo a fase final de execução do programa até dezembro de 1978, quando se encerrou o acordo de cooperação com a FAO.
No mesmo ano, o Dr. Mauro Reis assumiu a presidência do IBDF e, sob sua gestão, foi criada a estrutura do Programa Nacional de Pesquisa Florestal (PNPF), no âmbito da EMBRAPA, em convênio com o IBDF e sob a coordenação do Dr. Paulo Galvão.
O acervo técnico e científico do PRODEPEF foi transferido integralmente à EMBRAPA, assegurando a continuidade das pesquisas e a utilização dos resultados acumulados ao longo de quase uma década de intenso trabalho.
Poucos anos depois, em 1984, durante a presidência do Dr. Eliseu de Andrade Alves na EMBRAPA e sob nova estrutura administrativa do IBDF, foi criado o Centro Nacional de Pesquisa Florestal (CNPF), em Colombo (PR), consolidando institucionalmente a pesquisa florestal no governo federal e fortalecendo o elo entre ciência, tecnologia e políticas públicas para o setor.
A partir dessa integração, a EMBRAPA Florestas assumiu papel central na continuidade e no avanço das pesquisas iniciadas pelo PRODEPEF, aprofundando estudos sobre espécies nativas e exóticas e promovendo a modernização do conhecimento técnico da silvicultura nacional.
Paralelamente, instituições como o IPEF, a SIF e a FUPEF, surgidas no mesmo período, consolidaram um modelo exemplar de cooperação entre universidades, empresas e governo, garantindo a difusão e o aprimoramento da base científica e tecnológica que sustentou o crescimento florestal brasileiro.
Assim, o PRODEPEF, criado em 1971 e concluído em 1978, com sua continuidade institucional assegurada pela EMBRAPA Florestas, representou uma contribuição decisiva e duradoura para o avanço da silvicultura nacional.
Sob a liderança de técnicos visionários e o trabalho de mais de quarenta pesquisadores distribuídos em todo o país, o projeto colaborou diretamente para que o setor florestal brasileiro atingisse padrões de produtividade, sustentabilidade e excelência reconhecidos internacionalmente.
Nelson Barboza Leite – Agrônomo – Silvicultor – nbleite@uol.com.br
Nota:
A Comunidade de Silvicultura expressa seu respeito e gratidão a toda a equipe do PRODEPEF – Projeto de Desenvolvimento e Pesquisa Florestal (IBDF/FAO), formada por brilhantes profissionais que, com dedicação exemplar, construíram um dos capítulos mais nobres da história da pesquisa florestal no Brasil.
Este texto contou com informações e com a colaboração do Dr. Mauro Silva Reis, cuja atuação no PRODEPEF contribuiu de forma expressiva para o sucesso e o significado desse notável esforço coletivo.
Nossos cumprimentos e sincero reconhecimento a todos que participaram dessa jornada — profissionais que uniram ciência, idealismo e amor pelas florestas brasileiras.
Fonte: Comunidade de Silvicultura
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