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08
nov
2025
(MERCADO)
Volta por cima: gigante da movelaria em SC aposta no mercado interno para evitar falência

O impacto chegou em uma das líderes nacionais, a Artefama, de São Bento do Sul, que obteve seu pedido de recuperação judicial deferida em 9 de outubro

Gigante do setor moveleiro tinha cerca de 85% da produção feita para exportação e deve mirar mercado interno para evitar falência Foto: Divulgação/Artefama/ND Mais

O setor moveleiro foi um dos mais afetados pelas tarifas impostas pelo Governo Trump, o popular “tarifaço”. Entre elas, o polo do setor é o Planalto Norte catarinense, com as principais empresas em São Bento do Sul e Rio Negrinho.

O impacto chegou em uma das líderes nacionais, a Artefama, que obteve seu pedido de recuperação judicial deferida em 9 de outubro. Segundo o advogado Rodrigo Shirai, administrador judicial do processo, as novas estratégias buscam fortalecer a presença no mercado interno e abrir caminho para uma nova fase de retomada.

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Essa reestruturação tornou-se necessária porque 85% do faturamento da empresa vinha das exportações, tendo os Estados Unidos como principal destino.
“Ela vinha em uma atividade crescente, mas até então focando essencialmente na exportação, com um volume de postos de trabalho bem significativos, em torno de 400. Mas, foi surpreendida com o aumento de tarifas”, explica Shirai.

As taxas fizeram com que o produto deixasse de ficar competitivo para exportação, com cancelamento de pedidos. A empresa precisou fazer o desligamento de cerca de 300 funcionários e se reposicionar. Atualmente há aproximadamente 80 pessoas trabalhando na Artefama.

Faturamento

O faturamento da empresa vinha em ritmo de recuperação desde 2023, quando o valor foi de R$ 101 milhões, e em 2024 chegou a R$ 109 milhões. Até agosto de 2025, conforme as informações apresentadas no pedido de recuperação judicial, o faturamento acumulado era de R$ 84 milhões.

“Acredito que, se não houvesse a imposição das tarifas, o faturamento de 2024 já teria sido superado”, analisou.

A empresa contribui com a geração de renda de toda região e mostrou resiliência durante os anos. Entre 2009 e 2012 também enfrentou um período de recuperação judicial, mas conseguiu se recuperar como um motor da economia local e nacional.

A empresa

A história da Artefama teve início em 1945, quando os amigos Victor Keil, Afonso Keil, Francisco Kobs e Ewaldo Jungton uniram seus conhecimentos e fundaram a Artefama Ltda. Ao longo dos anos, a empresa cresceu de forma consistente e consolidou-se como uma das principais referências do setor no mercado nacional.

Nos anos 2000 ela chegou a alcançar o marco de maior exportadora do Brasil. Em 2006 o Brasil teve o maior volume exportado, quando as exportações de móveis de madeira totalizaram US$ 971,593 milhões.

Nessa época a Artefama já era a líder nacional em exportação e frequentemente premiada.

A história da Artefama teve início em 1945, quando os amigos Victor Keil, Afonso Keil, Francisco Kobs e Ewaldo Jungton uniram seus conhecimentos e fundaram a Artefama LtdaFoto: Divulgação/Artefama/ND Mais

Como funciona um processo de recuperação judicial?

Shirai explica que, a partir da aprovação da recuperação judicial há um prazo de 60 dias para que a empresa apresente, de fato, um plano concreto. “Esse plano então é submetido aos credores e é nesse momento que ela apresenta as estratégias efetivas”, explica.

Os credores podem não aceitar alguns termos, o que vai gerar uma assembléia. Nesta assembléia há uma votação. “A partir do momento em que for homologado, esse será o novo cenário financeiro da empresa para o pagamento de suas dívidas.”

O plano de concessão também implica em concessões por parte dos credores, seja por descontos ou prazos de pagamento. “Com isso, certamente dará um fôlego financeiro, no fluxo de caixa da empresa”, diz.

Além disso, Shirai conta que o plano de recuperação é um conceito aberto e pode implicar, em, por exemplo, venda de ativos.

“Esse talvez seja um dos objetivos, como eles não vão mais, ao menos em um horizonte curto, se dirigir ao mercado externo, parte do maquinário imagino que pode acabar sendo vendido, porém tudo isso deve ser feito através de uma autorização judicial.”

No entanto, ressalta que as medidas só serão definidas após a conclusão do plano e sua apresentação aos credores, prevista para meados de janeiro de 2026.

Perspectivas e retomada

A Artefama, na época da operação que resultou no desligamento dos 300 colaboradores já havia afirmado que estava explorando novos mercados, com o objetivo de recuperar a capacidade produtiva. “Seguiremos comprometidos com esta comunidade e confiantes de que esse ajuste abrirá caminho para dias melhores”, escreveu a empresa, em nota.

Para Shirai, ela precisou tomar essa decisão por conta dessa mudança imprevista do mercado, mas tem bons olhos para o futuro. “Acredito que sim, a empresa tem toda condição de se recuperar e acho que a nossa lei é uma ferramenta importante que já auxiliou inúmeras companhias a retornarem”, conclui.

Bárbara Siementkowski

https://ndmais.com.br/economia/moveleira-de-sc-mira-mercado-interno-para-evitar-falencia/

Fonte: https://ndmais.com.br

ITTO Sindimadeira_rs