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18
out
2025
(CONSTRUÇÃO CIVIL)
Construções sustentáveis: como é morar numa 'casa de bambu'

Agricultor exalta potencial do bambu na construção civil e destaca integração com a natureza

Bruno Sales Mota se tornou especialista em construir casas de bambu

Foto: Arquivo pessoal/Cedido ao Terra

Parece cena de filme, mas não é: no meio da Mata Atlântica, no município de Caçapava, no interior de São Paulo, uma casa feita de bambu foi um dos sonhos de Bruno Sales Mota, de 43 anos, que se tornou realidade. Formado em engenharia agronômica, Mota se tornou agricultor de bambu e resolveu seguir na profissão que almejava desde criança, com uma ênfase específica em bioconstrução.

"Desde muito criança, eu já gostava de obra. Acompanhei todas as obras do sítio em que eu morava. Na faculdade, tive a oportunidade maravilhosa de fazer uma obra dentro da Embrapa, quase virei cientista. Foi assim que eu adquiri meu conhecimento com bambu, explorei bastante essa parte. É algo que vem do sangue", conta o agricultor em entrevista ao Terra.

A integração da própria residência com a natureza está entre as justificativas daqueles que optam pela bioconstrução. A técnica empregada na construção civil usa artefatos naturais para construir estruturas de grande porte e tem ganhado popularidade nos últimos anos.

Entre os principais materiais usados pelo setor está o bambu. Além de ser a planta com a maior capacidade de crescimento do mundo, o bambu tem uma alta capacidade de captura de carbono durante seu processo de fotossíntese. Dessa forma, as construções de residências se tornam mais sustentáveis e ecológicas do que as feitas com qualquer outro material na construção convencional.

No caso de Mota, a escolha do bambu foi pautada, principalmente, pelo potencial de construção da matéria-prima e sua facilidade de rebrotar, além da integração de sua residência com a natureza. “É uma planta que exige pouca energia para ser formada. É como se fosse um ferro de madeira. Ela também tem a particularidade de que não precisa de replantio porque rebrota todo ano. Então você tem uma planta que está sempre oferecendo matéria-prima sem ter que fazer nenhum esforço”, explica.

Além da residência em Caçapava, o agricultor também investiu em construções em Ubatuba, no litoral de São Paulo, e em Miguel Pereira, no Rio de Janeiro.

“Eu tenho diversas casas e construções em vários lugares do Brasil. Se você tiver um projeto certo, a chance de dar errado é muito baixa. É preciso fazer a manutenção da construção do bambu, como seria em qualquer outra casa convencional. Quando você tem um projeto bem executado e segue as normas de regulamentação, não há problemas”, diz.

Além de ser uma opção de moradia sustentável, a construção em bambu também proporciona uma rotina tranquila para os moradores. Por ser oco e conter fibras que retêm o ar, o bambu possui um isolamento térmico natural, o que auxilia a residência a não sofrer variação extrema de calor ou frio, a depender da temperatura.

"A questão do isolamento térmico também varia de acordo com o projeto. Se você quiser mais isolamento, então é preciso dimensionar a construção, mas o bambu já tem seu próprio isolamento térmico", explica. Geralmente, em regiões mais quentes, o bambu torna a residência mais ventilada. Em casos de locais mais frios, é possível usar terra ou barro para reforçar o isolamento térmico e evitar uma temperatura muito baixa dentro da casa.

A inserção de janelas nas casas de bambu também varia de acordo com o gosto do cliente. "Você pode colocar as janelas de acordo com seu projeto, no escritório, no quarto. Mas se você colocar muitas janelas, corre risco de prejudicar o isolamento, assim como se fosse uma casa com muitos vidros, por exemplo", complementa.

Apesar de ser um material natural, Mota afirma que o bambu não costuma ser "atacado" por animais ou insetos. E a manutenção correta da construção pode evitar problemas futuros. "Se o bambu for tratado, não tem problema nenhum. Ele não tem esse poder de atrair insetos". 

Já a principal diferença entre uma casa de concreto e uma casa de bambu está no material e na estrutura. No dia a dia, a residência de bambu pode até oferecer mais conforto estético, acústico e térmico.

"No concreto, você consegue fazer vãos livres quadrados, você consegue dimensionar vigas quadradas, que é, por exemplo, aqueles vão que vemos em estacionamentos de shoppings, de prédios. São feitos de forma quadrada para otimizar o uso do espaço. No caso do bambu, não tem como fazer isso, mas você consegue ter outra engenharia estrutural que é mais ousada e tem design mais arrojado, o que torna a casa mais atrativa", destaca.

Mercado em potencial

De acordo com Mota, o mercado de compra e venda de bambu para construção civil está em aquecimento e se expandindo com o passar dos anos. “O material pode ficar mais barato conforme os agricultores forem produzindo, tratando e estocando bambu para vender. Além disso, você pode fazer de tudo na casa, como decoração”, complementa.

O mesmo argumento é usado por Rafael Fiuza, especialista e sócio-fundador da Erre Bambu. Ele também acredita que o mercado está aquecido, além de o bambu ser uma matéria-prima que aproxima as pessoas em geral à natureza.

“O bambu tem uma grande capacidade de aproximar o ser humano do ambiente natural. É possível preservar sua estética natural, seja no mobiliário ou na construção. As varas de bambu são, normalmente, preservadas. O bambu também tem a questão da ‘imperfeição’ dele, o que o torna ainda mais bonito", pontua.

Apesar de ser uma técnica sustentável e que preza pela preservação da natureza ao redor, a bioconstrução ainda é vítima de alguns mitos. Fiuza reforça que o material deve ser aplicado com um bom projeto de construção.

Bambu também pode ser usado para construir mobiliário

“Se você respeitar o processo de colheita de bambu e, após a colheita, fizer todo o tratamento adequado, é um material que tem altíssima durabilidade comparado a madeiras nobres. Como qualquer material natural, ele necessita de manutenção”, diz.

De acordo com Fiuza, há uma enorme demanda no mercado para o uso de bambu em peças decorativas, mobiliário, luminárias e até forro de teto.

“Existe um mercado enorme para isso, diversos artesãos que também trabalham com esse tipo de material. Os custos podem variar muito conforme o projeto. Se for um projeto muito rebuscado, com muita complexidade estrutural, vai ter um custo mais elevado. Mas se for projetado para ter baixo custo, é super viável também”, afirma.

Bambu também pode ser usado para construir mobiliário

De acordo com dados do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), houve uma redução significativa no impacto da construção civil no meio ambiente, mas o setor ainda continua sendo um dos principais impulsionadores da crise climática, consumindo 32% da energia global e emitindo 34% das emissões globais de carbono.

"Medidas adicionais, como práticas de construção circular, arrendamentos verdes, modernização energética de edifícios existentes e priorização do uso de materiais de baixo carbono, podem reduzir ainda mais o consumo de energia, aprimorar a gestão de resíduos e reduzir as emissões em geral", aponta o relatório.

Fonte: Futuro Vivo


•  Por: Adrielle Farias

https://www.terra.com.br/planeta/futuro-vivo/construcoes-sustentaveis-como-e-morar-numa-casa-de-bambu,c214cb43ecc769af0c1778ecaf1187817vss0g1o.html

Fonte: https://www.terra.com.br/

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