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Todo processo de pesquisa – seja em ciência, tecnologia ou silvicultura – percorre inevitavelmente três fases: pensação, falação e fazeção.
Primeiro, alguém pensa e formula hipóteses. Depois, esse pensamento ganha espaço no debate, é discutido, testado e amadurecido. Por fim, chega a fase decisiva: a execução prática, que revela a realidade, expõe limitações e aponta os caminhos possíveis.
No caso dos plantios de espécies nativas, é fundamental observar em que estágio o tema se encontra. Hoje já temos muita gente pensando nas possibilidades, um número crescente de profissionais e instituições falando sobre o assunto, mas ainda falta ampliar a fazeção em escala e com método.
Existem iniciativas importantes, porém dispersas, muitas vezes sem protocolos comparáveis e sem as análises técnicas e econômicas completas necessárias (sobrevivência, crescimento, custos, produtividade, riscos e retorno). Sem isso, acumulamos impressões; com isso, construímos evidências.
A história da silvicultura de espécies exóticas no Brasil mostra bem esse caminho. O sucesso atual dos plantios de eucalipto e pinus não aconteceu por acaso: foi resultado de mais de um século de repetição desse ciclo.
Já em 1904, o engenheiro agrônomo Edmundo Navarro de Andrade, nos hortos da antiga Companhia Paulista de Estradas de Ferro, pensou, falou e executou centenas de experimentos com eucalipto, registrando e divulgando resultados.
Décadas depois, entre os anos 1960 e 1970, a política de incentivos (Lei 5.106/1966) reabriu o ciclo: pensação sobre o melhor formato dos plantios, falação em congressos e entidades emergentes, e muita fazeção em campo, com viveiros, ensaios e extensos plantios experimentais.
Nesse ambiente e num mundo de dúvidas, surgiram pilares como o IPEF, cujo Prof. Helládio do Amaral Mello, uma das mais expressivas lideranças da silvicultura, foi um dos criadores. Tivemos também a SIF, FUPEF, Embrapa Florestas e outras instituições, que ajudaram a consolidar a base científica e tecnológica do setor.
O processo amadureceu e os resultados apareceram: a produtividade média de eucalipto, que girava em torno de 15–20 m³/ha/ano nos anos 60/70, saltou para mais de 40 m³/ha/ano com melhoramento genético, clonagem, manejo e tecnologia de ponta.
Hoje, o Brasil conta com cerca de 10 milhões de hectares de florestas plantadas, dos quais mais de 80% são eucalipto, sustentando cadeias industriais de celulose, papel, energia e madeira processada.
Com as espécies nativas, precisamos acelerar e organizar a fazeção. Isso significa estruturar redes cooperativas de ensaios, definir protocolos padronizados (espécies, materiais genéticos, espaçamentos, adubação, tratos culturais), medir com rigor sobrevivência, crescimento, qualidade da madeira e custo operacional, e realizar as completas avaliações econômicas.
Nesse esforço, merece destaque o papel da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura e seus diversos parceiros e apoiadores, através da FT Silvicultura de Nativas, que tem articulado diferentes instituições, empresas e centros de pesquisa para construir agendas comuns e viabilizar a execução de projetos de larga escala com nativas.
Da mesma forma, é fundamental registrar o interesse do BNDES em participar ativamente desse processo, apoiando iniciativas de pesquisa e implantação, e oferecendo instrumentos financeiros capazes de acelerar a transformação da silvicultura de espécies nativas em uma realidade competitiva.
A arte, agora, no momento em que a fazeção começa crescer, é acompanhar e monitorar as atividades de campo de forma organizada, científica e transparente. Esse processo deverá gerar informações valiosas para ajustar o direcionamento das pesquisas e aperfeiçoar os procedimentos operacionais.
A fazeção, criteriosamente observada e bem sucedida, permitirá recomendar com segurança o uso das espécies nativas, transformando-as em alternativas efetivas tanto para a produção florestal quanto para programas de restauração.
Essa forma simplista e informal para descrever um processo criativo estava num quadro na sala de um grande empreendedor florestal com os dizeres complementares: “a genialidade da pensação e o entusiasmo da falação só se sustentam, quando a fazeção mostra resultados incontestáveis!”
Nelson Barboza Leite – Agrônomo – Silvicultor – nbleite@uol.com.br
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Fonte: Comunidade de Silvicultura
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