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No mesmo mês em que as exportações de móveis e colchões cresceram +4,3%, acumulando um avanço de 7,0% no ano, a indústria moveleira foi surpreendida em julho pela taxação de 50% imposta pelos Estados Unidos — seu maior parceiro comercial — a uma série de produtos de origem brasileira, incluindo o mobiliário de madeira, responsável por mais de 80% da pauta exportadora do setor.
O contraste expõe a situação atual: como sustentar a presença global dos móveis brasileiros em meio à uma escalada protecionista e uma concorrência internacional por vezes pouco sustentável?
Essa discussão ganha palco no 12º Congresso Nacional Moveleiro, que reunirá nos dias 1º e 2 de outubro de 2025, em Curitiba (PR), especialistas como Welber Barral, sócio-fundador da BMJ e ex-secretário do Comércio Exterior do Brasil (2007-2011); e representantes da Amcham Brasil (Câmara Americana de Comércio para o Brasil) no painel “Panorama do comércio internacional: desafios e oportunidades”.
O evento é promovido pela ABIMÓVEL (Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário) e o Sistema FIEP (Federação das Indústrias do Estado do Paraná), com apoio da CNI (Confederação Nacional da Indústria) e do Conselheiras.
O choque tarifário
De janeiro a julho de 2025, o Brasil exportou US$ 445,2 milhões em móveis e colchões (+7,0% em relação a igual período no ano anterior), com os EUA respondendo por 27,5% do total. No fornecimento de componentes, insumos, máquinas e outros fornecedores da cadeia moveleira, a relação é ainda maior: 38,8% dos mais de US$ 2 bilhões exportados (-3,7%) no período tiveram como destino o mercado americano.
Contratos suspensos, estoques represados e férias coletivas com paralisação da produção apareceram entre os efeitos imediatos da medida, que passou a valer a partir de 06 de agosto. Diante desse cenário, o Índice de Confiança dos Empresários Industriais Exportadores, medido pela CNI (Confederação Nacional da Indústria), recuou 4,6 pontos entre junho e agosto, saindo do campo de confiança para o de pessimismo.
Para Cândida Cervieri, diretora-executiva da ABIMÓVEL, a medida afeta não só os números de exportação, mas toda a base do setor. “A parceria da indústria brasileira de móveis com o mercado norte-americano é estratégica, fruto de uma relação construída ao longo de mais de duas décadas. A imposição de uma tarifa unilateral como essa é motivo de grande preocupação, pois pode acarretar, no segmento de móveis acabados, numa retração produtiva estimada em 1,4%. Tal cenário poderia resultar na perda de até 10 mil postos de trabalho e no fechamento de diversos parques fabris, sobretudo em estados tradicionalmente exportadores, como São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná e Minas Gerais, além de implicar, em menor escala, polos moveleiros localizados nas regiões Nordeste e Norte do país.”
Ela explica que a prioridade da entidade é a exclusão dos móveis do pacote americano, mas reforça a importância de debates como o que será promovido no Congresso Moveleiro 2025 para “alinhar medidas emergenciais com estratégias de longo prazo, provendo inteligência comercial para mitigar riscos e levantar oportunidades”.
Cenário e reação brasileira
Além de questões de cunho político, Donald Trump tem usado a narrativa de “revitalizar a indústria doméstica” como justificativa para a ofensiva americana, que não parou no tarifaço de julho. Em agosto, o Departamento de Comércio dos EUA ampliou a lista da Seção 232, estendendo sobretaxas a mais de 400 códigos relacionados a aço e alumínio — insumos também estratégicos para o setor moveleiro —, que estavam anteriormente na lista de exceções da sobretaxa. Mais recentemente, a Casa Branca anunciou também uma investigação específica sobre a importação de móveis, com potencial de resultar em novas barreiras, que estão sendo monitoradas pela ABIMÓVEL.
Do lado de cá, o governo brasileiro lançou o Plano Brasil Soberano (MP 1.309/2025), prevendo R$ 30 bilhões em financiamento para exportadores, além do diferimento de tributos federais, prioridade na devolução de créditos fiscais e reforço aos mecanismos de seguro às operações externas. O pacote tem contrapartida de manutenção de empregos e pode ser usado não apenas como capital de giro, mas também para investimentos em adaptação produtiva e diversificação de mercados.
Na avaliação do ex-secretário de Comércio Exterior e consultor Welber Barral, o desenho do programa traz avanços, mas precisa ser calibrado. “O plano do governo tem vários méritos e algumas aplicações imediatas, como é o caso da prorrogação do prazo para o cumprimento do drawback. O problema sempre é que na parte de financiamento, muitas vezes as garantias que são exigidas não conseguem ser atendidas pelas empresas menores e mais vulneráveis. Uma das tarefas do governo é justamente modificar o sistema de financiamento oficial e exportação para torná-lo mais flexível e mais acessível para as empresas de pequeno e médio porte, flexibilizando os critérios para concessão de valores e para o limite de cobrança da taxa de juros”, opina o especialista.
Na frente diplomática, o Brasil acionou a OMC (Organização Mundial do Comércio) e obteve a abertura de consultas junto ao governo americano, embora os EUA persistam no argumento de “segurança nacional”, que não permite a interferência da instituição. Em paralelo, uma missão liderada pela CNI – na qual a indústria de móveis esteve representada – levou 130 autoridades, representantes setoriais e empresários nacionais à Washington, no início de setembro, defendendo a exclusão de diversos itens do pacote e lembrando que as tarifas também elevam os custos para o consumidor norte-americano. A Amcham Brasil reforçou a mesma posição.
“A negociação com os Estados Unidos deve ser lenta porque o governo brasileiro optou por não apresentar um quadro de fragilidade. O que quer dizer que o Brasil quer negociar de um ponto de vista que não o obrigue a grandes concessões, como foi feito com a Indonésia ou com o Vietnã, que negociaram bilateralmente com os Estados Unidos. E para isso não há uma solução mágica. O país vai ter que compensar os exportadores que tenham sido afetados pelas medidas norte-americanas, terá que ajudar na busca de novos mercados e apoiar inclusive a nova destinação para o mercado interno”, enfatiza Barral. Fatores, contudo, não tão simples para a indústria de móveis, que tem uma produção altamente customizada quando se trata dos EUA, limitando seu poder de redirecionamento.
O dilema da competitividade
Vale pontuar, aliás, que o Vietnã é o principal mercado exportador de móveis para os EUA. A China vem em seguida, com o México na sequência. Países que hoje exportam para o mercado americano com condições mais favoráveis, além de contarem com custos estruturais, bem como regras trabalhistas e ambientais tradicionalmente menores e menos restritivas.
Nesse sentido, Barral é enfático sobre a complexidade da concorrência com esses mercados: “O Brasil terá de trabalhar com foco em qualidade, distribuição e financiamento, e não apenas em preço”. Pontos em que a indústria moveleira nacional já vem atuando e conquistando trunfos reconhecidos. “O país conta com matérias-primas únicas, design original, práticas de gestão sustentável e adesão crescente a normas técnicas internacionais, fatores que não só garantem qualidade e segurança como reforçam a capacidade da indústria brasileira de conquistar novos mercados”, enfatiza Cândida, diretora-executiva da ABIMÓVEL.
O potencial a ser explorado
Apesar de ser o 7º maior produtor de móveis e colchões do mundo, com 439,9 milhões de peças fabricadas só em 2024, o Brasil responde ainda por apenas 0,5% das exportações globais. Ou seja: há muito espaço a ocupar.
Segundo o recém-divulgado estudo “Do Brasil para o Mundo – Anuário 2025”, publicado pela ABIMÓVEL em parceria com a ApexBrasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos), com levantamento do IEMI, o setor exportou US$ 763,1 milhões em móveis e colchões no ano passado. Mas o potencial, segundo metodologia do International Trade Center, pode chegar a US$ 930 milhões ao ano.
Antes do tarifaço, por exemplo, projeções indicavam que as exportações brasileiras de móveis para os EUA poderiam crescer 47,9% em até cinco anos. Esse cenário agora se redesenha, mas a perspectiva de crescimento em outros mercados permanece ativa. O desafio, contudo, é transformar capacidade produtiva em presença efetiva no mercado internacional.
“O móvel brasileiro reúne atributos diferenciados: produção em escala industrial, ampla diversidade de materiais e um design que expressa a cultura e a originalidade do país, agregando valor e identidade. Para que essa herança se converta em vantagem competitiva efetiva e reconhecida, é fundamental adotar uma estratégia consistente. Nesse sentido, o Congresso Moveleiro promove esse debate, voltado não apenas a respostas imediatas, mas principalmente à definição de ações estratégicas de médio e longo prazo”, destaca Cândida Cervieri.
Novas rotas e oportunidades
Enquanto as relações com os EUA passam por um momento turbulento, outras frentes abrem caminho. A Comissão Europeia validou o texto final do acordo Mercosul–União Europeia, que pode ser assinado ainda este ano. O pacto prevê desgravação tarifária em centenas de produtos industrializados, com potencial de se tornar a maior zona de livre comércio do mundo e gerar mais de US$ 7 bilhões em exportações adicionais para o Brasil.
O acordo Mercosul–EFTA, assinado neste mês de setembro, também deve garantir acesso preferencial a mercados considerados como referências na economia mundial, tais como Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein, contemplando a eliminação imediata de tarifas para bens industriais. Somados aos entendimentos já firmados com Singapura, esses tratados podem ampliar em até 2,5 vezes a corrente de comércio brasileira coberta por acordos de livre comércio, de acordo com o MDIC.
“É uma mudança histórica de patamar nas relações comerciais entre os blocos e, especialmente, do Brasil com os países europeus”, definiu a secretária de Comércio Exterior do MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços), Tatiana Prazeres. Lembrando que esses acordos ampliam a previsibilidade e dão espaço para produtos de maior valor agregado, como móveis com certificação ambiental e design autoral.
“E claro, é muito importante observar os mercados que estão em crescimento, sobretudo na Ásia e na América Latina”, reforça Welber Barral. Dentre os principais mercados externos consumidores de móveis e colchões brasileiros entre janeiro e julho de 2025, o Uruguai aparece em segundo lugar, seguido de Chile e Reino Unido.
Enquanto isso, a estratégia de diversificação já ocorre também no Oriente Médio. Na última semana, uma comitiva do Projeto Brazilian Furniture, iniciativa da ABIMÓVEL em parceria com a ApexBrasil, levou 28 indústrias brasileiras à feira Index, na Arábia Saudita, com resultados significativos em termos de prospecção. Essa frente será reforçada no próprio Congresso Moveleiro, com uma edição especial do Projeto Comprador reunindo fabricantes nacionais e importadores estrangeiros para rodadas de negócios em Curitiba.
O evento, aliás, ainda conta com uma extensa programação de painéis, palestras e talks, além de sediar uma mostra inédita com os finalistas do 1º Prêmio Design da Movelaria Nacional, e mais uma edição da Casa Conceito, que proporcionam experiências imersivas no 12º Congresso Nacional Moveleiro.
Confira a agenda completa com grandes nomes como Luiza Helena Trajano, João Appolinário, Caito Maia, Bruna Hadad, Jessica Sandin, Alberto Carbonar, entre muitos outros, e inscreva-se gratuitamente em: fiepr.org.br/congresso-moveleiro/.
12º Congresso Nacional Moveleiro
01 e 02 de Outubro de 2025
Campus da Indústria – Sistema Fiep, Marginal Comendador Franco | Avenida, 1341 – Jardim Botânico, Curitiba – PR
As inscrições são gratuitas e já estão abertas.
MÓVEIS: O NOSSO NEGÓCIO!
Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário – ABIMÓVEL
Assessoria de Imprensa: press@abimovel.com
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Fonte: Abimóvel
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