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22
ago
2025
(MERCADO)
EUA pressionam por acordo com Brasil para evitar avanço chinês e garantir insumos estratégicos em caminhões, cosméticos e madeira tropical

Empresas dos EUA pedem exclusões tarifárias e acordo com o Brasil para conter avanço chinês e proteger cadeias de caminhões, cosméticos e madeira.

Empresas e associações dos EUA pedem exclusões tarifárias e defendem negociação com o Brasil, destacando riscos econômicos e geopolíticos, como maior aproximação de Brasília com a China, em meio à investigação da Seção 301 conduzida pelo USTR.

Grandes empresas e associações do setor privado nos Estados Unidos apelaram ao Escritório do Representante de Comércio (USTR) por exclusões tarifárias e por uma intensificação do diálogo com o governo brasileiro, em meio à investigação aberta sob a Seção 301 e à possibilidade de novas medidas punitivas.

Os argumentos combinam impacto econômico direto — risco de encarecimento de produtos no mercado americano — e peso geopolítico, com relatos de que uma postura mais dura empurraria o Brasil para maior proximidade com a China.

O prazo oficial para o envio de comentários ao USTR terminou nesta segunda-feira (18), e a audiência pública está marcada para 3 de setembro.

Pressão empresarial por exclusões e negociação

Nos ofícios enviados ao USTR, companhias e entidades pedem que a Casa Branca avalie exclusões específicas para insumos e componentes de cadeias de suprimento integradas com o Brasil.

A avaliação é de que tarifas amplas, sem recortes técnicos, podem comprimir margens, atrasar entregas e, na ponta, afetar consumidores e setores industriais americanos.

A Daimler Truck North America, líder no mercado de caminhões pesados e superpesados nos EUA, comunicou deter fornecedores relevantes no Brasil e alertou que parte deles é formada por empresas americanas com operação no país.

Em sua manifestação, a montadora associa a pauta comercial a uma leitura estratégica: “Adotar uma postura mais agressiva com o Brasil reforçará seu engajamento com outros países como forma de contrabalancear o prejuízo provocado por uma resposta dura dos Estados Unidos. Entre esses riscos está uma presença mais ampla da China no Brasil”.

Na avaliação da empresa, avançar em frentes negociáveis com Brasília serviria melhor aos interesses americanos do que ampliar tarifas.

Também o National Care Products Council, que representa fabricantes de cosméticos e produtos de cuidados pessoais, enfatizou a dependência de insumos de origem brasileira.

Segundo a vice-presidente Natalie Obermann, esses materiais são “essenciais para manter nossa qualidade, inovação e competitividade global”.

A dirigente defendeu que Washington negocie ativamente com o governo Lula para reduzir entraves regulatórios e, se medidas comerciais forem inevitáveis, adote remédios proporcionais que excluam cosméticos, produtos de higiene e seus insumos.

Para o conselho, ações generalizadas restringem acesso ao mercado e podem deflagrar tarifas recíprocas que penalizam exportadores dos EUA.

Empresas dos EUA pedem exclusões tarifárias e acordo com o Brasil para conter avanço chinês e proteger cadeias de caminhões, cosméticos e madeira.

Seção 301: o que está em análise

A investigação sob a Seção 301 do Trade Act de 1974 foi anunciada pelo USTR em julho e abrange um conjunto de práticas atribuídas ao Brasil que, segundo Washington, poderiam “ser injustificáveis ou discriminatórias e onerar o comércio americano”.

O escopo divulgado pelo próprio USTR inclui barreiras em comércio digital e serviços de pagamentos eletrônicos, tarifas preferenciais concedidas a terceiros, falhas de transparência e anticorrupção e impactos de desmatamento ilegal sobre a competitividade.

A etapa de comentários se encerrou nesta segunda-feira (18), e a audiência pública foi agendada para 3 de setembro, com possibilidade de continuidade no dia 4.

No contexto mais amplo, o governo dos EUA também adotou tarifa de 50% sobre bens de origem brasileira neste ano, o que elevou a tensão bilateral e adicionou custos às cadeias de importação.

Esse ambiente explica a mobilização de setores interessados em atenuar efeitos colaterais, por meio de exclusões calibradas e negociação direta com Brasília.

Cadeias de caminhões e cosméticos sob risco de custo

A Daimler Truck North America, que reporta uma base de fornecedores no Brasil para peças e componentes, sustenta que eventuais sobretaxas atingiriam inclusive empresas americanas instaladas no país, encarecendo caminhões e serviços logísticos nos EUA.

A empresa argumenta que, além de preço, há efeito em prazo e previsibilidade, fatores críticos para frotistas e para setores que dependem de transporte pesado.

No setor de higiene e beleza, o National Care Products Council cita matérias-primas brasileiras usadas em formulações de alto valor agregado.

A entidade vê risco de perda de competitividade global caso insumos tenham custo elevado por tarifas adicionais.

Em sua comunicação, Natalie Obermann pede “remédios proporcionais” e manutenção de um canal de negociação para resolver pendências técnicas e regulatórias com o Brasil, evitando reação em cadeia de medidas retaliatórias que poderia atingir exportadores americanos.

Madeira tropical: defesa de isenções por rastreabilidade

O presidente da Popp Forest Products, Stephen Popp, pediu que produtos de madeira tropical com verificação independente de origem não sejam afetados por medidas generalizadas.

Segundo ele, os clientes nos EUA — de serrarias a empreendimentos de infraestrutura — demandam material de alto desempenho, durabilidade e sustentabilidade, e interrupções poderiam limitar o acesso a madeira de origem legal.

Na sua manifestação, o empresário defende uma isenção total para o código HTS 4407.29.02, que abrange madeiras tropicais serradas e outras categorias correlatas.

A alegação é de que proteger operações com due diligence, auditoria e rastreabilidade preserva cadeias legais e evita que medidas amplas beneficiem concorrentes informais.

Brasília reage e disputa foro da discussão

O governo brasileiro apresentou, nesta segunda-feira (18), sua resposta formal ao USTR, contestando a legitimidade da investigação unilateral nos termos da Seção 301 e defendendo que o tema seja tratado no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC).

No documento, a administração nega que políticas nacionais em áreas como comércio digital e o sistema de pagamentos Pix sejam discriminatórias ou imponham ônus ao comércio dos EUA, e informa ter solicitado consultas na OMC sobre as tarifas americanas.

Enquanto isso, o USTR mantém o cronograma do processo, com a audiência pública em 3 de setembro de 2025 e trâmite para comentários de réplica após o encontro.

A própria chamada oficial do órgão orientou interessados a enviarem contribuições até 23h59 (EDT) desta segunda-feira (18), além de pedidos para participar da audiência, demonstrando que a etapa consultiva foi estruturada para abarcar setores diversos, do agronegócio à economia digital.

Geopolítica e pragmatismo empresarial

Além do custo imediato, as manifestações do setor privado americano invocam efeitos geopolíticos.

A preocupação central é que um endurecimento tarifário amplo estimule o Brasil a aprofundar parcerias com competidores estratégicos dos EUA, especialmente a China, em áreas sensíveis como insumos industriais, tecnologia de pagamentos e cadeias de commodities.

Do ponto de vista empresarial, a recomendação recorrente é que Washington e Brasília busquem ajustes negociados, com foco em exclusões técnicas que preservem cadeias legais e críticas, em vez de medidas uniformes que elevem preços e alimentem retaliações cruzadas.

Nesse cenário, fabricantes de caminhões, de cosméticos e importadores de madeira tropical defendem que as decisões considerem rastreabilidade, certificações e verificações independentes já adotadas por fornecedores brasileiros.

A avaliação é que, ao mirar condutas específicas e produtores identificados, políticas comerciais mantêm pressão sobre irregularidades sem punir cadeias que cumprem normas e respondem por insumos estratégicos do lado americano.

Por fim, a repercussão das próximas etapas — inclusive o resultado da audiência e eventuais medidas — será observada por indústrias dos dois países que operam em cadeias integradas.

Com o relógio da Seção 301 em contagem, a questão que se impõe é direta: o quanto a busca por coerência regulatória e comercial será compatível com a proteção de insumos críticos e a contenção do avanço chinês no Brasil?

Alisson Ficher

https://clickpetroleoegas.com.br/eua-pressionam-por-acordo-com-brasil-para-evitar-avanco-chines-e-garantir-insumos-estrategic

Fonte: https://clickpetroleoegas.com.br/

ITTO Sindimadeira_rs