Na tundra siberiana cresce uma árvore peculiar que leva o nome de “stlánik”. Se trata de um tipo de cedro das montanhas, uma árvore com que os presos do Gulag, condenados da época de Stálin, mantinham uma relação especial. Assim conta o escritor Varlam Shalámov, um dos presos sobreviventes, em seu “Relatos de Kolimá”, uma epopeia escrita com crueza.

Avisa a chegada das neves.

Segundo Shalámov, o stlánik é árvore dotada de uma sensibilidade incomum. É capaz de avisar a chegada das primeiras nevascas deitando-se até roçar sua copa no solo, “estendendo seus ramos como se fossem patas”, escreve Shalámov, dando conta do milagre que a natureza nos oferece.

Hiberna como urso e é um barômetro.

Nas brancas montanhas siberianas, com grandes quantidades de neve, hibernam os arbustos do stlánik. “Igual um urso, se submergem no sono invernal”, diz Shalámov. Dessa forma, essa árvore funciona como um barômetro, além de anunciar o inverno, também avisa a chegada da primavera.

Primavera sem data certa.

Diferente do mundo todo, a primavera siberiana chega quando quer. “A natureza é algo mais sútil que o homem em suas sensações”, explica Shalámov. A árvore se levanta do solo, sacudindo a neve sob a qual permaneceu sepultada durante o inverno.

Servia de vitamina C?

Acreditavam que as agulhas da stlánik serviam como vitamina C. Na primavera e no verão arrancavam essas agulhas que iam parar na cozinha onde preparavam uma bebida repugnante que bebiam obrigatoriamente antes de todas as refeições. Era outro castigo. Esse era o único remédio que dispunham para combater o escorbuto, enfermidade causada ela falta dessa vitamina. Mais tarde, descobriram que aquilo era uma mentira. As agulhas dessa árvore não serviam para o escorbuto e nem para qualquer outra doença.

Árvore ingênua.

Quando acendiam uma fogueira perto de uma stlánik, enquanto ela hibernava sob a neve, crendo que a primavera tinha chegado, ela se levantava para celebrar a mudança. Igual a muitos seres humanos, a stlánik é uma árvore ingênua e confiante em enganos.

Por Mário Sérgio Lorenzetto

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