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12
ago
2025
(GERAL)
Quer se Proteger da Inflação? Compre uma Floresta

Investidores ricos e instituições comprometeram US$ 10 bilhões em áreas florestais administradas por Angela Davis. Pessoas comuns precisam se contentar com ações de fundos imobiliários de investimento em madeira.

Invista capital e salve o planeta ao mesmo tempo. Seja dono de uma floresta. Essa é a proposta de Angela Davis, que, como presidente da Campbell Global em Portland, Oregon, administra US$ 10 bilhões  (R$ 55 bilhões na cotação atual) em nome de instituições e investidores de alta renda. Até agora, ela adquiriu 570 mil hectares de árvores, a maioria nos Estados Unidos, com parte na Austrália e na Nova Zelândia.

E não espere do investimento em áreas florestais o tipo de retorno que se obtém com ações de empresas de semicondutores. “Investidores em florestas normalmente não procuram alto risco e alto retorno”, diz Davis. Então, o que eles buscam? Esses investidores buscam quatro outras coisas: rendimento, proteção contra a inflação, estabilidade de portfólio por meio da falta de correlação com o mercado de ações e o benefício ambiental de retirar carbono da atmosfera.

O rendimento vem naturalmente. As árvores crescem. O abeto de Douglas, considerado a “árvore do dinheiro” no Noroeste do Pacífico, é colhido aos 45 anos de idade. Uma propriedade florestal que possua áreas igualmente distribuídas entre as diferentes idades terá, em média, 22 anos de idade. Isso significa que a madeira que pode ser extraída anualmente das árvores maduras corresponde a 4,4% do volume total de madeira na floresta.

Esse rendimento botânico de 4,4% é o ponto de partida para o retorno esperado. Os preços da madeira em tora, sensíveis à demanda da construção civil, são extremamente voláteis, mas, no longo prazo, eles e o valor residual da terra limpa tendem a acompanhar a inflação. Considerando a inflação, um retorno nominal de 7% é possível.

Além disso, Davis busca superar as médias por meio de gestão criteriosa da terra. Suas árvores absorveram, no ano passado, um total líquido de dois megatons de dióxido de carbono, gerando créditos de carbono comercializáveis.

Ela conta com 75 engenheiros florestais em sua equipe, que monitoram pragas e providenciam o corte de árvores comprometidas antes que o problema se espalhe. Quando incêndios ameaçam, acionam equipes com tratores para criar aceiros.

Um hectare de abeto de Douglas, deixado crescer e colhido no ano 45, pode render aproximadamente 59,3 mil pés-tablares de madeira serrada, avaliados em cerca de US$ 42 mil quando chegam à serraria.

Parece bom, considerando que florestas no Oregon e no estado de Washington, a oeste das Montanhas Cascade, podem ser adquiridas por valores entre US$ 9.880 e US$ 17.300 por hectare.

Mas o caminho entre a árvore em pé e o pagamento da serraria é longo. Proprietários de terras no Noroeste perdem pelo menos metade de sua receita para cobrir os custos de cultivo e colheita da madeira.

As árvores precisam ser derrubadas com equipamentos perigosos e caros, arrastadas por cabos em encostas íngremes e lamacentas, cortadas em comprimentos adequados, carregadas em caminhões e transportadas. Os resíduos (galhos e pedaços quebrados) precisam ser queimados ou triturados.

O reflorestamento, quando feito corretamente, oferece rendimento melhor do que a regeneração natural, mas é caro. “Você planta em excesso e depois faz o desbaste, como cenouras no jardim”, diz Davis.

Nos anos entre o plantio e a colheita, parte das áreas será perdida para incêndios, enchentes, insetos e doenças. Uma fração do terreno — 16% em uma recente aquisição da Campbell na Península Olímpica — não pode ser cortada por estar próxima a riachos de trutas ou ninhos de corujas. É preciso também afastar ursos, que saem da hibernação tão famintos que arrancam a casca das árvores, a menos que recebam cestas de alimentos.

Uma empresa de manejo florestal como a Campbell (adquirida em 2021 pelo JPMorgan Chase) precisa ser remunerada. A Campbell não divulga detalhes sobre as taxas, mas informa que recebe, no modelo dos fundos hedge, um percentual sobre os ativos mais um bônus de desempenho.

Mas então o que sobra para os investidores? Aqueles que participaram da recente rodada de captação de US$ 2,3 bilhões da Campbell podem se considerar contrarianos.  Embora o setor florestal tenha tido anos excelentes, como entre 1991 e a crise financeira, o desempenho recente foi fraco.

A Campbell não divulga resultados de suas parcerias, mas é possível observar fundos imobiliários de capital aberto que possuem áreas florestais. Na última década, eles tiveram um retorno médio de apenas 4% ao ano, muito abaixo do mercado de ações.

Davis argumenta que os fundos imobiliários não têm a mesma flexibilidade de timing que ela. Todos são vinculados a serrarias, que precisam manter em operação. Assim, cortam árvores mesmo em anos de preços baixos. Sua reação a uma queda no mercado de toras: “Deixe crescer. Venda um volume maior por um preço mais alto depois.”

Davis nasceu em Portland há 60 anos, quando a madeira era a base econômica da região. Hoje, a economia é mais diversificada, mas, segundo ela, “é difícil crescer em Portland e não ter uma conexão com a terra”. Lembra-se de catar avelãs quando criança no pomar da família. Sua ligação com a silvicultura, no entanto, começou não com o campo, mas com planilhas.

Após se formar em finanças pela Linfield University, próxima dali, Davis trabalhou como auditora e depois como analista de investimentos para o tesoureiro do estado do Oregon. Ingressou na Campbell no início dos anos 2000 e assumirá o cargo de CEO em outubro.

Sua função é usar informações geográficas, climáticas e dados de volume de árvores para prever o que será colhido décadas depois. Uma parte importante desse trabalho, como em um vinhedo, é avaliar o terroir, ou seja, qual taxa de crescimento o solo e a chuva podem sustentar.

As projeções abrangem dois ciclos de crescimento. Noventa anos é um período muito longo até para os investidores mais pacientes, mas eles não precisam esperar todo esse tempo. Grande parte do retorno vem não da colheita, mas da venda de áreas depois que as árvores ganharam volume. O último fundo da Campbell tem uma opção de saída em 12 anos.

A partir da década de 1980, ambientalistas promoveram cortes drásticos na exploração de florestas federais. O presidente Trump quer trazer de volta as motosserras. Apesar da possível competição com seus ativos, Davis não se opõe.

Florestas não cuidadas têm mais chance de queimar, segundo ela, revertendo em segundos décadas de absorção de carbono. “Para a saúde das florestas, você deve fazer alguma colheita”, diz Davis. “Retire os detritos mortos e moribundos. Abra algumas estradas.” Ela pode ter interesse direto nisso, mas tem um argumento válido. Se essas estradas reduzirem o risco de incêndio, talvez até as corujas e os ursos aprovem.

Como Investir

Adquira áreas florestais por meio de ações de fundos imobiliários de investimento em madeira, vantajosos em contas tributáveis porque seus dividendos são pagos como ganhos de capital de longo prazo. O valor da empresa (capitalização de mercado comum mais dívida menos caixa) da Rayonier Corporation é de US$ 4,4 bilhões, o que equivale a US$ 1.800 por acre, caso não seja atribuído valor às serrarias. Na PotlatchDeltic, o número correspondente é US$ 1.900. Em ambas, há alguma participação em abetos de Douglas no Noroeste, mas a posse dominante é de pinheiro-amarelo-do-sul, cujo preço está deprimido por causa do plantio excessivo há 30 anos. Presume-se que o setor irá superar esse problema. Os rendimentos são de 4,9% na Rayonier e de 4,7% na Potlatch.

William Baldwin é colunista de Estratégias de Investimento da Forbes.

Fonte: https://forbes.com.br/forbesagro/2025/08/quer-se-proteger-da-inflacao-compre-uma-floresta/

Sindimadeira_rs ITTO