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Notícias

25
jul
2025
(MERCADO)
Setor florestal vê risco de paralisação com tarifa dos EUA

A decisão do governo dos EUA de elevar para até 50% as tarifas sobre importações de produtos industrializados brasileiros caiu como uma bomba no setor florestal gaúcho. Empresários e representantes de entidades do setor avaliam que a medida, caso não seja revertida, pode provocar um colapso nas exportações de madeira e derivados, com reflexos severos sobre empresas do Rio Grande do Sul, de onde  os embarques têm o mercado americano como principal destino.

“A gente corre o risco de uma paralisação total. Se for implementada essa tarifa, vai inviabilizar a continuidade das operações com os EUA”, afirma Daniel Chies, presidente da Associação Gaúcha de Empresas Florestais (Ageflor).

De acordo com o executivo, a nova tarifa tornaria a operação comercial inviável, tanto para exportadores brasileiros quanto para importadores americanos.

“Estamos em contato direto com os compradores lá fora, e o que se percebe é que nenhuma das pontas tem margem para absorver um acréscimo dessa magnitude.“

Segundo Chies, mesmo as companhias que já tinham precisado renegociar valores e rever margens para absorver os 10% de sobretaxa anteriores, não têm mais espaço para acomodar o novo aumento.

Embora o peso das exportações para os EUA varie conforme o nicho de atuação das empresas, o dirigente destaca que, para produtos como madeira serrada, componentes de móveis e painéis beneficiados, o mercado americano representa quase metade do total vendido pelo RS no comércio internacional. São cerca de US$ 390 milhões por ano em exportações desses produtos, dos quais cerca de 45% têm os Estados Unidos como destino.

“É um volume expressivo, e, mesmo para quem exporta menos, os efeitos podem ser grandes. O produto que não vai para os EUA vai acabar indo para outros mercados que se tornam mais competitivos. No fim, todo mundo é afetado”, pontua.

O dirigente acrescenta que, mesmo quando o produto brasileiro não entra diretamente nos EUA, ele muitas vezes passa por países intermediários e acaba chegando lá após uma nova etapa de beneficiamento.

“Se não for diretamente, acaba indo por terceiros países que industrializam e depois vendem ao mercado americano. Ele é o maior cliente do mundo nesse segmento.”

Outro setor que pode ser atingido é o de celulose e papel. Embora o volume destinado aos EUA seja menor – cerca de 15% das exportações gaúchas desse segmento, que somam ao menos US$ 1 bilhão ao ano –, o impacto pode se somar às dificuldades logísticas e cambiais que já pressionam os embarques ao exterior. O principal destino da celulose ainda é a Ásia, com destaque para o Sudeste Asiático e parte da Europa.

Na avaliação da Ageflor, os efeitos das tarifas poderão variar conforme o grau de dependência das empresas em relação ao mercado americano, mas tendem a pressionar toda a cadeia florestal.

“Alguns associados que atuam com volumes menores talvez sintam menos. Mas, estruturalmente, essa barreira nos preocupa muito. Mesmo com industrialização em outros países, o destino final ainda é o consumidor americano”, explica.

O receio de uma retração no setor é agravado pela dificuldade de redirecionamento imediato das exportações.

“Não é simples encontrar outro mercado com a mesma escala, poder de compra e padrão técnico exigido pelos produtos gaúchos. Além disso, há o risco de desaceleração na produção e no emprego, caso o volume exportado encolha.”

O setor também acompanha com atenção a reação do governo brasileiro. Chies destaca que o momento exige habilidade diplomática para tentar uma saída negociada.

“Temos três semanas até que entre em vigor. As entidades empresariais e industriais estão se posicionando bem, como a Fiergs e a CNI. A expectativa é de que o governo federal conduza esse diálogo político com firmeza e responsabilidade.”

Indústrias da Serra avaliam medidas para mitigar os impactos do tarifaço

O segmento madeireiro gaúcho é um dos que mais devem sofrer impactos com as tarifas de 50% anunciadas pelo presidente norte-americano Donald Trump, com vigência a partir de 1º de agosto. No ano passado, a atividade embarcou em torno de US$ 100 milhões aos Estados Unidos, equivalente a 30% do total vendido ao exterior.

“O anúncio nos preocupa muito, pois temos grande dependência do mercado americano, que é o maior produtor de madeiras coníferas, mas também o maior consumidor”, afirma o presidente do Sindimadeira-RS, Leonardo De Zorzi. O principal produto exportado tem uso em áreas residenciais externas, especialmente cercas de madeira.

A entidade tem participado de reuniões setoriais e amplas na Fiergs e CNI no sentido de articular medidas junto ao governo federal. De Zorzi cita como pleito a prorrogação do prazo estabelecido pelo governo americano, considerado curto, que asseguraria mais tranquilidade aos setores para adoção de medidas que mitiguem ou amenizem os impactos.

Também demanda a manutenção da alíquota em 10%, a preservação do bom ambiente da negociação e da diplomacia e adoção de medidas emergenciais, como adotadas na pandemia da Covid-19, com linhas especiais de financiamentos, uso do Reintegra, redução de jornada e salários com compensação pelo governo, e suspensão temporária de contratos e de recolhimento do INSS e do FGTS. “São medidas necessárias para fortalecer o caixa das empresas neste momento. Algumas indústrias, no entanto, poderão ter de aplicar paradas temporárias”, adianta.

O dirigente aponta a gravidade da situação na ausência de clareza nas informações disponíveis. Relata que não há uma ordem executiva citando os detalhes, diferentemente da anunciada em abril.

“Temos associados com mercadorias em viagem no oceano e não sabem o que vai acontecer quando chegarem. Em teoria, deve ocorrer a taxação automática de 50% sobre o valor da nota fiscal. Quem tomar posse será obrigado a recolher o valor junto a aduana americana. Como isto abre um precedente grande, a extensão do prazo é importante até para resolver esta questão”, argumenta.

Outros compradores determinaram que cargas programadas não sejam embarcadas. “A suspensão de embarques e de pedidos está ocorrendo. Da mesma forma, cancelamentos de pedidos, o que é muito mais sério”, lamenta.

Já a indústria moveleira tem uma situação menos crítica, porém igualmente preocupante. O presidente da Movergs, Euclides Longhi, frisa que os Estados Unidos é o principal comprador, com participação de 16% no total das exportações do setor.

Em 2024, os negócios somaram US$ 261 milhões e, neste ano, estão na casa de US$ 117,5 milhões. O dirigente esclarece, no entanto, que algumas empresas serão muito prejudicadas, porque têm dependências maiores, na casa dos 50% a 60%, com ênfase nos móveis de madeira, com grande aceitação no mercado americano.

O que preocupa o setor como um todo é o efeito cascata das medidas, as quais devem reduzir a produção de outras atividades industriais, gerando uma possível redução de quadros. “O efeito direto será no consumo final. Desligadas, estas pessoas terão, naturalmente, mais dificuldades de compra, afetando toda a economia”, alerta.

A exemplo do Sindimadeira, a Movergs tem atuado junto a entidades, como a Abimóvel, representação nacional do setor, para que o governo busque canais de negociação. Pressão semelhante é feita junto ao Estado. “Esperamos que negociem e alcancem o consenso, as discussões paralelas não resolvem”, avalia. Não há, no momento, decisões sobre paralisação de atividades, mas Longhi não descarta a necessidade de férias para ajustes de produção.

A possibilidade de impactos das medidas na Fimma 2025, feira de máquinas e insumos que ocorrerá em agosto, em Bento Gonçalves, é descartada pelo dirigente. Destaca que o polo moveleiro não tem dependência de insumos e máquinas dos Estados Unidos, adquiridos essencialmente na Itália, Alemanha e China.

https://ageflor.com.br/2025/07/23/setor-florestal-ve-risco-de-paralisacao-com-tarifa-dos-eua/

Fonte: Jornal do Comércio, 14 e 22 de julho.

Sindimadeira_rs ITTO