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Notícias

26
jul
2025
(SILVICULTURA)
Silvicultura com espécies nativas: oportunidade histórica exige compromisso técnico e responsabilidade setorial

O Brasil vive um momento promissor com o avanço da silvicultura com espécies nativas voltada à produção sustentável de produtos madeireiros e não madeireiros, atendendo a mercados locais, nacionais e internacionais.

Frutos, óleos, resinas, fibras e madeiras tropicais de alto valor podem impulsionar cadeias produtivas de base florestal, promover o desenvolvimento regional e posicionar o Brasil como referência global em bioeconomia tropical.

Simultaneamente, essa silvicultura também contribui para a restauração ecológica, geração de créditos de carbono e recuperação de áreas degradadas, unindo conservação, inclusão social e geração de valor ambiental e econômico.

Essa nova fronteira, no entanto, carrega aprendizados e lições do passado. O setor florestal brasileiro já demonstrou sua capacidade de superação e reinvenção.

Após um início conturbado com os incentivos fiscais aos plantios de eucalipto e pinus nas décadas de 1960 e 1970, o setor enfrentou duras críticas e quase colapsou institucionalmente.

Muitas áreas foram implantadas sem o devido planejamento técnico, por empresas inexperientes ou sem compromisso com os resultados de longo prazo. O resultado foi uma grave crise de imagem que quase inviabilizou os incentivos e colocou em risco toda a atividade silvicultural.

A reação veio de dentro do próprio setor. Por meio de exemplos bem-sucedidos, empresas comprometidas e profissionais qualificados mostraram que era possível fazer silvicultura com base em ciência, tecnologia e responsabilidade.

Hoje, o Brasil é líder mundial em produtividade de florestas plantadas, sendo reconhecido internacionalmente pela qualidade de seus plantios de eucalipto e pinus.

Vivemos agora o início de uma nova etapa: o avanço da silvicultura com espécies nativas como base produtiva de uma economia florestal tropical e como vetor de restauração ambiental e climática.

Além do potencial para recompor paisagens degradadas e gerar serviços ambientais, os plantios com nativas abrem espaço para modelos economicamente viáveis, adaptados a diferentes realidades regionais, capazes de oferecer alternativas sustentáveis ao desmatamento e à exploração predatória.

Trata-se de uma oportunidade estratégica que exige visão de longo prazo e comprometimento coletivo. O sucesso dessa nova fase dependerá diretamente da qualidade técnica dos projetos implementados.

Os recursos envolvidos são vultosos, as expectativas são elevadas e os riscos reputacionais são significativos. Não há mais espaço para improvisações.

Repetir os erros do passado pode comprometer não apenas projetos individuais, mas a credibilidade de toda a cadeia produtiva da silvicultura com nativas.

A restauração ecológica e os plantios comerciais com espécies nativas, quando mal conduzidos, não apenas falham em atingir seus objetivos ambientais e econômicos, mas também comprometem a confiança de investidores, parceiros institucionais e da própria sociedade.

Serviços mal executados, projetos sem base técnica ou executados por agentes despreparados colocam em risco o futuro de uma atividade que ainda está em construção.

É fundamental que os procedimentos operacionais dos programas de reflorestamento e produção florestal com espécies nativas estejam ancorados em tecnologias testadas, métodos validados e práticas baseadas em evidência científica.

A qualidade dos plantios, o acompanhamento técnico, o monitoramento contínuo e a transparência na execução devem ser prioridades absolutas.

Mais do que nunca, é necessário que o próprio setor atue como agente fiscalizador.

Associações, consultores, empresas e instituições comprometidas com o sucesso da silvicultura brasileira devem zelar pela integridade da atividade.

Bons exemplos devem ser valorizados, enquanto práticas inadequadas precisam ser publicamente questionadas.

A silvicultura com espécies nativas é uma das grandes apostas brasileiras para a transição ecológica, a nova economia verde e a valorização dos ativos florestais tropicais.

Ela pode gerar empregos de qualidade, restaurar paisagens, garantir serviços ecossistêmicos, fortalecer economias locais e posicionar o Brasil como referência internacional em sustentabilidade e produção florestal tropical.

Mas para que essa promessa se concretize, será preciso agir com responsabilidade, transparência e rigor técnico desde o início.

O sucesso não virá por inércia — será construído com base na excelência, como já foi feito com o eucalipto e o pinus.

O setor florestal brasileiro já demonstrou do que é capaz.

Agora, cabe a todos os envolvidos garantir que essa nova jornada com espécies nativas seja trilhada com seriedade, evitando atalhos e garantindo que as oportunidades se transformem, de fato, em resultados concretos para o país, para o meio ambiente e para as futuras gerações.


Nelson Barboza Leite – Agrônomo – Silvicultor – nbleite@uol.com.br

Publicado em Uncategorized | Com a tag comunidade de silvicultura, engenharia florestal, floresta, florestal, incentivo fiscal, setor florestal, silvicultor, silvicultura | Deixe um comentário

Fonte: Comunidade de Silvicultura

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