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Nas cidades, as árvores ajudam a mitigar os impactos das chuvas, promovendo infiltração, irrigação natural e equilíbrio ambiental
Um novo estudo mostra que as árvores em áreas urbanas já ajudam as cidades a economizar centenas de milhões de dólares com a gestão de águas pluviais. Mas os pesquisadores indicam que ainda há um potencial inexplorado: o aproveitamento do chamado “fluxo do caule” — a água da chuva que escorre pelos troncos — pode reduzir ainda mais o escoamento superficial e fornecer irrigação gratuita para hortas e jardins comunitários.
Em ambientes urbanos, as árvores exercem um papel essencial na gestão sustentável da água. Elas interceptam a chuva, facilitam a transpiração e promovem a infiltração no solo, diminuindo significativamente o escoamento superficial.
O “stemflow”, fluxo do caule, é o processo pelo qual a água da chuva, após ser retida pela copa das árvores, escoa pelos galhos e tronco até atingir o solo ao redor da base da árvore. Esse fluxo canalizado entrega a água diretamente às raízes, facilitando a absorção e contribuindo para reduzir o escoamento superficial.
A chamada infraestrutura azul-verde integra soluções baseadas na natureza para gerenciar águas pluviais e melhorar a qualidade do ambiente urbano. A inserção de árvores com maior capacidade de conduzir o fluxo do caule pode: aumentar a infiltração da água no solo, reduzir a sobrecarga dos sistemas de esgoto, filtrar contaminantes e melhorar a qualidade da água e ajudar a mitigar o efeito de ilha de calor nas cidades.
Mas para que o fluxo do caule seja melhor aproveitado, alguns cuidados são necessários, como escolher espécies com casca lisa e galhos inclinados, que favorecem o escoamento da água pelo tronco; criar áreas verdes com solo permeável na base das árvores, facilitando a infiltração; e evitar pavimentações impermeáveis ao redor das árvores, que impedem a absorção da água.
Integrar a técnica do fluxo do caule ao planejamento urbano pode trazer uma série de vantagens significativas. Entre elas está a redução das enchentes, uma vez que o escoamento superficial da água da chuva diminui consideravelmente. Além disso, há um aumento na recarga dos aquíferos, já que mais água consegue infiltrar no solo ao invés de escorrer pelas ruas. Outro benefício importante é a promoção da biodiversidade, com a criação de micro-habitats mais úmidos e saudáveis em meio ao ambiente urbano. Por fim, o uso eficiente do fluxo do caule contribui para a melhoria da qualidade do ar e para a redução das emissões de dióxido de carbono, graças à presença de árvores mais saudáveis e funcionais no ecossistema urbano.
A pesquisa intitulada “Aproveitando a Floresta Urbana: Integrando o Escoamento das Copas das Árvores (Stemflow) à Infraestrutura Azul-Verde” revela que o fluxo do tronco é um recurso pouco explorado, mas com grande potencial para a gestão eficiente das águas pluviais nas cidades. O estudo mostra que o volume de água transportado por esse fluxo pode ser bastante elevado e, se não for devidamente gerenciado, tende a exceder a capacidade de infiltração do solo em áreas urbanas.
Além disso, destaca-se que essa água carrega nutrientes importantes como nitrogênio, fósforo e potássio. Por isso, ela pode ser aproveitada como uma fonte natural de irrigação para hortas urbanas e áreas verdes, reduzindo a necessidade de insumos externos. A proposta da pesquisa inclui a coleta e redirecionamento do fluxo por meio de sistemas simples, compostos por colares não invasivos, tubos flexíveis e reservatórios ou canais de infiltração, com um custo estimado entre US$ 70 e US$ 100 por árvore.
A análise foi realizada em quatro cidades norte-americanas — Filadélfia, Cleveland, Tampa e Phoenix — onde áreas nobres de cobertura florestal urbana variam entre 8,4% e 16,6% do total. O estudo estima que, ao redirecionar o fluxo do tronco, uma cidade média poderia captar entre 25 mil e 100 mil metros cúbicos de água por ano. Esse volume contribuiria para a economia de recursos públicos e para a diminuição da pressão sobre os sistemas de esgoto.
Outro ponto importante levantado pela pesquisa é que os nutrientes presentes no fluxo do tronco podem substituir parte dos fertilizantes utilizados na agricultura urbana, contribuindo ainda para a redução da poluição difusa em corpos d’água.
Segundo os autores do estudo, essa técnica apresenta um excelente custo-benefício. Ela é de baixo custo, fácil de implementar e pode ser adaptada a uma ampla variedade de condições climáticas, urbanas e regulatórias. No entanto, é necessário cuidado na escolha das espécies e dos locais onde será aplicada.
A presença de compostos químicos naturais com efeitos alelopáticos — como os encontrados em espécies como Ailanthus altissima ou Juglans nigra —, além de poluentes atmosféricos, como metais pesados e hidrocarbonetos, pode representar riscos ambientais e à saúde. Por isso, a seleção adequada de árvores e a avaliação prévia da qualidade do local são etapas fundamentais para garantir o sucesso e a segurança da iniciativa.
https://ciclovivo.com.br/planeta/meio-ambiente/como-as-arvores-ajudam-a-conter-enchentes/
Fonte: Redação CicloVivo
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