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30
mai
2025
(MADEIRA E PRODUTOS)
Exclusivo – Senta que lá vem história: a criação do curso de Engenharia Florestal no Brasil

Você já parou para pensar por que foi criado o curso de Engenharia Florestal no Brasil? Por que uma graduação tão específica? Será que outras formações já existentes não poderiam suprir essas demandas?

A resposta está na complexidade dos ecossistemas florestais, que não podem ser plenamente atendidos por abordagens generalistas. As florestas exigem precisão em cada intervenção: demandam conhecimento técnico, visão clara do presente e compromisso com o futuro.

A história da Engenharia Florestal no Brasil está profundamente ligada à necessidade urgente de gerenciar nossos recursos florestais de forma sustentável, especialmente diante da intensa exploração das florestas brasileiras ao longo do século XX. Era preciso agir com responsabilidade e, para isso, era essencial formar profissionais capacitados para compreender, manejar e conservar os ecossistemas florestais.

Foi nesse contexto que, em 1960, com apoio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e da FAO/SF, o governo brasileiro criou o primeiro curso de Engenharia Florestal do país, em Viçosa (MG). Enquanto países vizinhos já formavam profissionais especializados, o Brasil demorou a reconhecer a importância de formar profissionais capacitados para gerir suas florestas de maneira sustentável.

Em 2025, celebramos 65 anos dessa conquista — e mais do que comemorar, é hora de reconhecer sua importância histórica.

Para compreender plenamente essa trajetória, precisamos voltar no tempo. A escassez gera a invenção, e foi a partir da escassez de madeira que surgiu a ideia do manejo florestal sustentável, com o objetivo de conservar as florestas.

Na Saxônia do século XVII, a madeira era um recurso estratégico, essencial para a mineração e a economia local. No entanto, a exploração descontrolada levou ao risco de esgotamento, exigindo soluções urgentes.

Foi nesse cenário que Hans Carl von Carlowitz (1645–1714), membro de uma família com tradição em silvicultura e que trabalhou como diretor de mineração em Freiberg, apresentou uma proposta inovadora em sua obra Sylvicultura oeconomica, publicada em 1713. No livro, defendeu o uso sustentável das florestas, argumentando que a extração de madeira deveria ser limitada à capacidade de regeneração da floresta, ou seja, não se deve derrubar o estoque de árvores maduras da floresta até que se observe que há crescimento suficiente no local. Carlowitz fundamentou seus argumentos no conceito de “bem comum”, tanto para a comunidade quanto para as gerações futuras, introduzindo, assim, a ideia de sustentabilidade.

Quase um século depois, em 1811, Heinrich Cotta, seguidor das ideias de Carlowitz, fundou a Academia Florestal de Tharandt, na Saxônia, dando início aos estudos acadêmicos em ciências florestais.

Embora países como a Alemanha adotaram técnicas de silvicultura e gestão florestal sustentável desde o século XIX, o Brasil, apesar de abrigar a maior floresta tropical do mundo, seguia explorando seus recursos de forma empírica, sem amparo técnico ou formação especializada.

A primeira tentativa de ensino superior voltado à silvicultura ocorreu em 1875, com a fundação da Escola Agrícola da Bahia, que oferecia cursos para formar Silvicultores, Agrônomos, Engenheiros Agrícolas e Veterinários. No entanto, não existem registros concretos de que essa iniciativa tenha efetivamente formado Silvicultores e a exploração das matas nativas no Brasil continuou sendo realizada de maneira empírica, sem o embasamento técnico necessário.

No Brasil, a conscientização sobre a deficiência do ensino florestal começou a ganhar força nas primeiras décadas do século XX. Em 1929, o agrônomo silvicultor Paulo Ferreira de Souza chamou atenção para a realidade do ensino da Silvicultura no país. Na época, ensino da ciência florestal se limitava à disciplina ou abordagens de Silvicultura, em cursos de Agronomia, sem maiores ênfases.

A situação começou a mudar de forma mais concreta a partir de 1948, quando foi realizada a primeira Conferência Latino-americana de Florestas e Produtos Florestais no Brasil que recomendou a criação de escolas florestais, de grau universitário, para a formação de engenheiros florestais, capazes de realizarem trabalhos de direção, de política florestal, de administrações, etc.

A discussão sobre a necessidade de uma formação florestal mais robusta intensificou-se durante o I Congresso Florestal Brasileiro, organizado pelo Instituto Nacional do Pinho em 1953. Nesse fórum, diversas pautas foram abordadas, e o engenheiro agrônomo Lycio Grein de Castro Vellozo apresentou a questão da “Deficiência do Ensino Superior da Silvicultura no Brasil”. Ele destacou que no programa de Horticultura e Silvicultura, do 3° ano dos cursos de agronomia, era praticamente impossível de ser ministrado em sua totalidade, em virtude da exiguidade de tempo no ano letivo – o qual, sem dúvida, reflete no deficiência dos conhecimentos que deve possuir o agrônomo recém-formado, para enfrentar os problemas práticos de sua profissão.

Dois anos depois, em 1955, o engenheiro agrônomo Batista Benito Calzavara, em sua publicação “Notas sobre Silvicultura”, chamou a atenção para o fato de que apenas duas instituições no país ofereciam disciplinas autônomas de silvicultura, ministradas ao longo de um ano: a Escola de Agricultura de Viçosa, em Minas Gerais, e a Escola de Agronomia do Nordeste. Calzavara criticou essa abordagem fragmentada, considerando inadequado condensar em uma única matéria assuntos tão variados e cruciais. Sua análise reforçava a urgência de um ensino mais robusto e especializado, que pudesse verdadeiramente capacitar os profissionais para enfrentar as complexidades inerentes ao setor florestal.

Em 1956, o agrônomo silvicultor David de Azambuja lançou a obra “Problemas florestais brasileiros”, editada pelo Serviço Florestal. O livro compilava dados de uma apresentação feita à Comissão de Recursos Naturais da Câmara Federal, revelando um cenário preocupante: em 1955, o Brasil contava com apenas 20 Engenheiros Agrônomos Silvicultores. A carência de técnicos qualificados e a ausência de um programa estruturado de pesquisa florestal eram evidentes. Azambuja propôs, como solução, a criação de estações experimentais florestais distribuídas pelas diferentes regiões brasileiras e mencionou o curso de Tecnologia da Madeira, recém-criado no Instituto Tecnológico de São Paulo, como um passo importante para o fortalecimento do setor.

Essas vozes criaram um coro por mudança, nações vizinhas como Venezuela, Colômbia, Chile e Argentina davam passos largos na formação de engenheiros florestais, deixando claro que o Brasil precisava agir.

A virada aconteceu em 1960 com a criação da Escola Nacional de Florestas em Viçosa-MG, com apoio direto da FAO. Ali nascia oficialmente o curso de Engenharia Florestal no Brasil — um marco fundamental para o desenvolvimento técnico, científico e institucional da área florestal no país (Decreto nº 48.247 de 30 de maio de 1960).

Antes disso, a pesquisa dos recursos florestais eram conduzidos por agrônomos silvicultores, uma vez que a formação de graduação padrão não contemplava o aprofundamento necessário em ciências florestais. Importante notar que a carreira de agrônomo silvicultor era formalmente reconhecida dentro da estrutura do Ministério da Agricultura.

É fundamental reconhecer as contribuições significativas de Helládio do Amaral Melo, atuante em Piracicaba (SP), e Arlindo de Paula Gonçalves, em Viçosa (MG). Ambos exerceram papéis cruciais no processo de estabelecimento e fortalecimento da Engenharia Florestal como campo de estudo e profissão no Brasil.

A FAO teve papel decisivo ao identificar a deficiência no ensino florestal em nível global. Como resultado, a educação profissional e a formação técnica tornaram-se prioridades no programa da Divisão de Silvicultura e Produtos Florestais, conforme detalhado a seguir:

Escolas florestais (FAO,1962a)

Várias instituições de treinamento e escolas florestais com status universitário foram criadas ou auxiliadas pela Latin-American Advisory Group on Research and Training (EPTA), por exemplo, Chile, Libéria e Costa Rica. Mais são esperadas para surgir por meio de projetos do Fundo Especial agora em estágio avançado de preparação, por exemplo, Argentina, Brasil, Irã e Sudão.

Notícias de Pessoal (FAO,1962b)

Uma escola nacional de silvicultura em nível universitário será estabelecida em Viçosa, no estado de Minas Gerais, e operará em estreita coordenação com a Universidade Rural de Minas Gerais. Uma organização de pesquisa florestal também será criada. Ambas ficarão sob a autoridade de um conselho técnico especial que servirá como órgão de planejamento e coordenação para a educação e pesquisa florestal para todo o Brasil.

A organização de pesquisa administrará uma estação de pesquisa florestal estabelecida nas proximidades da escola e dirigirá outras duas estações experimentais administradas pelo Serviço Florestal Federal na região amazônica e na região do pinheiro-do-paraná.

O curso escolar completo cobrirá um período de cinco anos, sendo os dois primeiros anos ocupados com as mesmas matérias básicas ensinadas nas escolas brasileiras de agricultura. Os três anos seguintes serão dedicados inteiramente à silvicultura, com o último ano reservado para estudos especializados.

O recrutamento será feito a partir de duas fontes:

(a) alunos que tenham concluído o ensino médio e tenham sido aprovados em um exame especial em matemática, física, química e biologia: os candidatos aprovados farão o curso completo de cinco anos;

(b) alunos que, após o ensino médio, tenham feito um curso de treinamento que os isente dos dois primeiros anos do curso na escola florestal e que tenham sido aprovados em um exame especial: os alunos desta categoria farão apenas os três últimos anos do curso da escola florestal.

Inicialmente, o objetivo será formar aproximadamente 30 formandos por ano, que é a estimativa do número de pessoas que poderão ser empregadas ou encontrar emprego fora do serviço público.

Algumas atividades da divisão de silvicultura e produtos florestais, 1962-63- FUNDO ESPECIAL DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO: PROJETOS FLORESTAIS ATUAIS (FAO,1963)

1. Argentina – Forestry and watershed management training institute.

2. Brazil – National forestry school.

3. Chile – Institute for development of forest resources and industries.

4. Ecuador – Preinvestment studies for forestry development.

5. Guatemala – Preinvestment survey on forest development.

6. Honduras – Survey of pine forests.

7. Mexico – National forest inventory.

8. Peru – Forestry research and training.

9. Venezuela – Preinvestment study on forestry development.

10. Morocco – Rural economic preinvestment project for the Western Rif.

11. Nigeria – Forestry department, University College, Ibadan.

12. Greece – Preinvestment survey of selected forest areas.

13. Turkey – Preinvestment survey of Antalya region.

14. Turkey – Poplar research institute.

15. Iran – Forestry and range department and forest rangers’ school.

16. Jordan – Forestry development studies and research.

17. Lebanon – Forestry education, training and research.

18. Sudan – Forestry research and education center.

19. Burma – Forest research institute.

20. Ceylon – Preinvestment study on forest industries development.

21. India – Preinvestment study of forest resources.

22. Pakistan – National forestry research and training program.

23. Thailand – Paper pulp materials survey.

Comissão Florestal da América Latina (FAO,1965)

A silvicultura e as indústrias florestais estavam praticamente em sua infância na América Latina há apenas 20 anos. Desde então, houve um desenvolvimento substancial, e a Comissão Florestal Latino-Americana, reunida para sua nona sessão em Curitiba, Brasil, em novembro de 1964, considerou que as Nações-membros poderiam se orgulhar dos avanços que ocorreram nos últimos anos, conforme descrito nos relatórios nacionais de progresso submetidos à reunião e suplementados por declarações de delegados.

No entanto, ainda há um longo caminho a percorrer para garantir que as florestas da região sejam utilizadas da melhor forma possível. O desenvolvimento futuro deve ser cuidadosamente planejado. Ajuda nesse sentido é uma das funções do grupo consultivo regional FAO/ECLA sobre desenvolvimento da indústria florestal, e a ajuda por meio de projetos do Fundo Especial atingiu um volume considerável. Ao discutir as perspectivas para o futuro, a comissão demonstrou interesse particular nas atividades do novo programa conjunto FAO/BIRD, que deve facilitar a identificação e preparação de projetos para estabelecimento de plantações e desenvolvimento da indústria que seriam aceitáveis para o Banco Internacional ou suas afiliadas, a Agência Internacional de Desenvolvimento e a Corporação Financeira Internacional.

Curitiba, capital do Estado do Paraná, foi selecionada pelo Governo do Brasil como o local para a sessão porque é o centro da área de pinheiros do Paraná e de um complexo de indústrias florestais, e o local da nova Escola Nacional de Silvicultura estabelecida na Universidade Federal com a ajuda do Fundo Especial das Nações Unidas e da FAO. Por esta última razão, a reunião foi aberta pelo Ministro da Educação do Brasil.

Os países que tiveram delegações presentes foram Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, República Dominicana, França (Guiana e Antilhas), Guatemala, México, Holanda (Suriname), Paraguai, Peru, Trinidad e Tobago, Reino Unido (Honduras Britânicas e Guiana), Estados Unidos da América, Uruguai e Venezuela.

Comissão Florestal da América Latina (FAO,1968)

Ao rever o estado da silvicultura na região, a comissão registrou progresso considerável desde sua última sessão no Brasil em 1964. Ainda havia muito a ser feito para incorporar o setor florestal – em um grau compatível com suas potencialidades – nos planos governamentais para o progresso socioeconômico. O planejamento havia se tornado a ordem do dia na América Latina e, em vista dos esforços em direção à integração econômica, era de grande importância que os governos tivessem planos florestais de médio e longo prazo e uma definição clara de sua política florestal. Em países com populações densas e de baixa renda, as vantagens sociais do desenvolvimento florestal devem ter prioridade sobre outros objetivos.

Notícias do mundo-Brasil (FAO,1969)

Estima-se que, há 500 anos, as florestas do Brasil cobriam 83 % do seu território. Em 1962, restava menos da metade de suas florestas. Cerca de 36 milhões de quilômetros quadrados de floresta (uma área quase igual à de todo o subcontinente indiano) foram derrubados ou destruídos pelo fogo. Os valiosos povoamentos de pinheiros do Paraná no sul do Brasil foram intensamente superexplorados e, consequentemente, estão ameaçados de extinção. Essa devastação reflete uma inclinação a considerar a silvicultura apenas em termos de desmatamento, e a madeira meramente como um subproduto natural.

Não é de se estranhar, portanto, que, embora possua os maiores recursos florestais do mundo, o Brasil não tivesse escola de engenharia florestal em 1960 e houvesse uma balança comercial desfavorável em produtos florestais.

A situação era tal que o Governo foi instado a agir. O primeiro passo foi criar uma escola de silvicultura capaz de fornecer uma produção regular de especialistas florestais de altos padrões profissionais em administração, ensino e pesquisa. Em 1960, o Governo, portanto, buscou a ajuda do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e, como resultado, um projeto FAO/SF para o estabelecimento de tal escola foi aprovado e tornou-se operacional em fevereiro de 1962. A contribuição do PNUD foi de $ 1 474 000, enquanto o Governo contribuiu com $ 882 872.

O projeto começou em Viçosa, no estado de Minas Gerais, mas mudou-se para Curitiba, no estado do Paraná, em 1963, onde a escola formou um novo corpo docente na Universidade Federal.

Em 1º de janeiro de 1969, 76 alunos obtiveram o diploma de engenheiro florestal, uma nova qualificação no Brasil, e agora estão todos trabalhando para o governo e outras agências florestais. A cada ano, mais 35 a 50 alunos se qualificarão em um futuro próximo, e o número deve aumentar para 70. Uma agência separada de pesquisa florestal também foi estabelecida na Universidade Federal do Paraná em Curitiba. A Universidade Rural de Viçosa aproveitou o período em que o projeto estava localizado lá para iniciar uma escola florestal própria. Esta escola formou 20 engenheiros florestais em 1968 e 1969, e a Universidade Estadual de São Paulo está planejando iniciar uma escola florestal em nível universitário com um currículo de cinco anos. Uma produção anual de pelo menos 250 técnicos florestais (guardas florestais) é necessária para acompanhar essa expansão no ensino superior florestal.

As estações de pesquisa em Santarém, Curuá, Viçosa e Rio Negro que estão anexadas ao projeto FAO/Fundo Especial fizeram experimentos importantes em seleção de espécies, métodos de plantio, regeneração natural, extração e conversão. Elas também fizeram inventários florestais e realizaram estudos sobre os usos econômicos de produtos florestais.

Enquanto o projeto estava em operação, a imagem pública da silvicultura e sua importância para o país melhoraram muito. O Governo Brasileiro aprovou uma legislação dando substanciais concessões fiscais para replantio e para melhorar o manejo florestal, e a Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia está fornecendo suporte financeiro para o desenvolvimento de recursos madeireiros na bacia amazônica. As várias agências governamentais que lidam com silvicultura e produtos florestais foram amalgamadas em um Serviço Florestal.

O projeto ajudou o Governo a formar um núcleo de especialistas florestais brasileiros que já estão ajudando a executar e controlar planos de políticas de longo e médio prazo.

Como um segundo passo, problemas específicos estão sendo enfrentados, particularmente na Amazônia, onde há grande escopo para o desenvolvimento da floresta e da indústria florestal. Uma solicitação de projeto elaborada para auxiliar no atendimento dessas necessidades está sob consideração e, se aceita, será de grande assistência ao Governo.

Comissão Florestal Latino-Americana (FAO,1971)

Foi expressada satisfação com o progresso feito durante os últimos três anos em questões de política florestal, legislação, desenvolvimento institucional e planejamento de desenvolvimento. A Comissão sentiu que o Seminário da FAO de 1968 sobre Desenvolvimento Florestal, Reforma Agrária e Colonização realizado em Brasília, a primeira reunião florestal a ter ocorrido na nova capital do Brasil, deu um impulso considerável à incorporação do setor florestal no planejamento de desenvolvimento de áreas rurais. A Comissão observou com satisfação a melhoria do status dos serviços florestais na Argentina, Brasil, Chile, Colômbia e Cuba. Duas novas faculdades florestais em nível universitário foram estabelecidas (na Bolívia e Honduras), bem como quatro escolas florestais de nível médio (na Colômbia, República Dominicana, Honduras e Peru). As instalações de treinamento no nível médio eram, no entanto, ainda em geral inadequadas para as necessidades da região.

A sustentabilidade não é apenas um princípio da Engenharia Florestal — ela é sua razão de existir. A profissão nasceu com um propósito claro: garantir que as florestas possam continuar oferecendo seus recursos às gerações presentes e futuras, de forma equilibrada, inteligente e responsável.

A madeira e outros produtos florestais são indispensáveis para a humanidade. No entanto, diferentemente de outros recursos, sua produção exige tempo, conhecimento e planejamento. Com o crescimento populacional e a demanda crescente por matérias-primas renováveis, a necessidade de gerir as florestas de forma sustentável se tornou ainda mais urgente.

O conhecimento dos recursos florestais é estratégico para o desenvolvimento e o ordenamento territorial e ambiental do Brasil — e é exatamente nesse contexto que a Engenharia Florestal assume um papel central. Antes da consolidação dessa profissão, a exploração das florestas brasileiras ocorria de forma empírica, desprovida de critérios técnicos. A engenharia florestal contribuiu para os avanços no Código Florestal de 1965, que aperfeiçoou o Código de 1934. Entre os avanços, destaca-se a proibição da exploração empírica das florestas primitivas da região amazônica, que passaram a exigir planos técnicos de condução e manejo florestal — uma das poucas formas de uso econômico do solo que preserva a floresta em pé.

O manejo florestal sustentável é uma das ferramentas mais eficazes para combater o desmatamento ilegal. Ele permite a geração de renda com a extração responsável de produtos florestais, mantém os serviços ecossistêmicos e contribui diretamente para o desenvolvimento social e econômico, especialmente na região amazônica.

A criação do curso de Engenharia Florestal não foi um ponto final — foi o ponto de partida. Desde então, novas escolas surgiram, e a pesquisa florestal conquistou reconhecimento junto ao setor florestal, o melhoramento genético, o controle fitossanitário, o aperfeiçoamento das práticas silviculturais e adoção de técnicas de plantio mais eficientes possibilitaram aumento nos índices de produção. No entanto, os desafios permanecem. O desmatamento ilegal, as mudanças climáticas exigem, cada vez mais, uma atuação técnica, ética e comprometida.

A missão da Engenharia Florestal é clara: promover o equilíbrio entre conservação e desenvolvimento, entre floresta e sociedade. E isso só é possível com profissionais preparados, ciência aplicada e políticas públicas que valorizem o conhecimento técnico como ferramenta de transformação.

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*Cícero Ramos é engenheiro florestal e vice-presidente da Associação Mato-grossense dos Engenheiros Florestais.

Fonte de pesquisa:

A ciência florestal de Hans Carl von Carlowitz e a origem da sustentabilidade 2020.  Disponível em: http://www.centralflorestal.com.br/2020/05/a-ciencia-florestal-de-hans-carl-von.html

CALZAVARA, B. B. Notas sobre silvicultura, INSTITUTO AGRONOMICO DO NORTE.

Belém, PA, v. 2, n. 2, p. 46-49, dez. 1955. Disponível em: https://www.alice.cnptia.embrapa.br/alice/handle/doc/978202?mode=simple

DECRETO Nº 5.957, DE 23 DE JUNHO DE 1875. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1824-1899/decreto-5957-23-junho-1875-550048-publicacaooriginal-65657-pe.html

FAO – The Food and Agriculture Organization of the United Nations – An international review of forestry and forest products – Unasylva Number 64 Vol. 16 (1) 1962a disponível em: https://www.fao.org/4/b3200e/b3200e00.htm#Contents

FAO – The Food and Agriculture Organization of the United Nations – An international review of forestry and forest products – Unasylva Number 65 Vol. 16 (2) 1962b disponível em: https://www.fao.org/4/b3200e/b3200e00.htm#Contents

FAO – The Food and Agriculture Organization of the United Nations – An international review of forestry and forest products – Unasylva Number 69 Vol. 17 1963 disponível em: https://www.fao.org/4/f3200e/f3200e00.htm#Contents

FAO – The Food and Agriculture Organization of the United Nations – An international review of forestry and forest products – Unasylva Number 76 Vol. 19 (1) 1965 disponível em: https://www.fao.org/4/21636e/21636e00.htm#Contents

FAO – The Food and Agriculture Organization of the United Nations – An international review of forestry and forest products – Unasylva Number 88 Vol. 22 (1) 1968 disponível em: https://www.fao.org/4/68738e/68738e00.htm#Contents

FAO – The Food and Agriculture Organization of the United Nations – An International Review of Forestry and Forest Products – Unasylva Number 94 Vol. 23 (3), 1969. Disponível em: https://www.fao.org/4/93269e/93269e00.htm#Contents

FAO – The Food and Agriculture Organization of the United Nations – An International Review of Forestry and Forest Products – Unasylva Number 100 Vol. 25, 1971. Disponível em: https://openknowledge.fao.org/server/api/core/bitstreams/40b32ff9-de60-4325-ae8a-0c28fa2b4b3c/content/b3350e00.htm#Contents

VELLOZO, L.G. de C., A Deficiência do Ensino Superior da Silvicultura no Brasil, in Anais do 1º Congresso Florestal Brasileiro, 1954. Disponível em: https://www.celso-foelkel.com.br/artigos/1953_1_Congresso+Florestal+Brasileiro.pdf

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Fonte: Cícero Ramos

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