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Há 10 anos, o setor conta com portas de madeira que atendem às normas técnicas e com desempenho comprovado.
Não há dúvida, os últimos 10 anos foram desafiadores. O Brasil foi constantemente impactado por crises políticas e financeiras nacionais e internacionais. Estes acontecimentos, exigiram um olhar atento dos diversos setores produtivos que tiveram que se adequar e inovar para permanecercompetitivos.Com a construção civil e com toda a sua cadeia de suprimentos não foi diferente. Desde 2014, quando o setor atingiu seu melhor desempenho de atividades econômicas, ele tem vivenciado uma sequência de recessões. Pelas estimativas da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção) para retomar ao pico de 2014, o setor teria que crescer 5% anualmente até 2028.
Para 2022, as previsões indicam que pelo segundo ano consecutivo, o setor crescerá acima da economia nacional, entretanto, mesmo considerando a alta prevista de 3,5%, ele ainda registra queda em seu PIB (Produto Interno Bruto) de 23,44% no período 2014 a 2022.Além disto, os resultados do PIB, divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em julho deste ano, indicam que a construção civil, na série trimestre contra trimestre imediatamente anterior, sazonal, cresce há sete trimestres consecutivos. “Essa sequência de números positivos ainda sido observada na série histórica do indicador, iniciada em 1996. Estes resultados fazem parte do ciclo positivo de negócios em andamento, que foi iniciado no terceiro trimestre de 2020, afirmou a economista da CBIC, Ieda Vasconcelos.
Recentemente, especificamente nos dois últimos anos, os resultados do setor da construção foram puxados para cima, devido a conjuntura mundial. “Em2020 e 2021, as construtoras tiveram recordes de faturamento porque o mercado estava muito aquecido devido à baixa de juros. Além disto, houve a valorização do espaço residencial devido à pandemia, que trouxe novamente o valor intangível do bem. Vivemos uma alta muito interessante, que traz como consequência cíclica, algumas instabilidades como o aumento dos custos de matéria-prima e mão de obra da construção”, avaliou o diretor da incorporadora MDGP, Thomas Gomes.
Em 2020 e 2021, as construtoras tiveram recordes de faturamento porque o mercado estava muito aquecido devido à baixa de juros. Além disto, houve a valorização do espaço residencial devido à pandemia.
Já em 2022, o setor tem sido impactado fortemente pela falta ou aumento dos custos da matéria-prima.
De acordo com o INCC (Índice Nacional de Custo da Construção), realizado pela FGV (Fundação Getúlio Vargas), os três insumos que mais sofreram aumentos nos custos entre julho de 2020 a junho de 2022, foram: vergalhões e arames de aço ao carbono (99,60%),tubos e conexões de ferro e aço (89,43%) e tubos econexões de PVC (80,62%).
Segundo o diretor da incorporadora MDGP, esta realidade já era vislumbrada. “Tudo funciona por uma oferta e demanda global, impactada por diversos fatores. A enxurrada da demanda que tivemos no país, com muita gente construindo, muita busca por matéria-prima e, por outro lado, a queda da produção global por petróleo, madeira e aço, trazem um cenário inevitável para que o preço dispare. Então, para conseguirmos contornar este cenário, a solução passa pela gestão empresarial e contratações inteligentes para evitar altas futuras, postergando alguma compra quando possível. É impossível fugirmos deste cenário, mas existem maneiras de passar por ele com mais tranquilidade”.
A última década também foi de busca pela excelência de materiais, novos métodos, sistemas e insumos, aspectos que tornaram o mercado mais competitivo.
“Nos primeiros anos deste período, a busca era pelo melhor material, o melhor desempenho, tornar a obra mais rápida com menor retrabalho possível. Já nos últimos anos, nos preocupamos com a busca pelas margens perdidas constantemente por conta de inflação, alta de insumos fora de qualquer previsão pessimista”, analisou Hugo Fajardo, diretor de engenharia na ADN Construtora.
O MERCADO DE PORTAS DE MADEIRA
Paralelamente aos acontecimentos econômicos da última década, o segmento de portas de madeira, inserido na cadeia de suprimentos da construção civil, passou por um verdadeira revolução, gerada em parte pelo desenvolvimento e avanços da norma de desempenho do setor, a ABNT NBR 15575 - Edificações habitacionais – Desempenho. A publicação desta norma teve como um dos objetivos, a busca por melhoria na qualidade das habitações brasileiras.
O segmento de portas de madeira já contava com a referência técnica da ABNT NBR 15930 – Portas de madeira para edificações que estabeleceu os critérios de desempenho por ocupação e uso das portas.Com isto, o conceito de porta de madeira começou a mudar, o produto deu um salto de qualidade, diminuindo a concorrência desleal. “Há 10 anos, cada fabricante inventava um produto e disponibilizava para o mercado”. Não havia um padrão e desempenho mínimo, o cliente não sabia o que estava comprando.
É claro que já existiam excelentes produtos no mercado, mas que concorriam com produtos sem condições mínimas de utilização e com preços baixos.
“Percebo que o mercado olhava apenas preço”, relembrou Wellington Rocha, diretor da Rocha Porta Pronta.
Para o coordenador de produção da Sincol, Luiz Carlos Meireles, antes da norma, não havia parâmetros de desempenho, e isto gerava dificuldades em mostrar os diferenciais técnicos dos produtos no mercado.
Esta percepção fez com que as empresas fabricantes de portas, que já se preocupavam com a qualidade técnica do que era entregue, se unissem para estruturar uma ação setorial que mudasse esse cenário. Por meio da Abimci (Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente) foi criado o PSQ-PME (Programa Setorial da Qualidade de Portas de Madeira para Edificações) que tem como premissa a padronização das portas por desempenho, amparada pela norma técnica (ABNT NBR 15930). “Há10 anos, os esforços de vários atores, coordenados pela Abimci, proporcionaram a adesão das principais empresas do segmento ao programa de certificação”.
Foi uma resposta da necessidade de uma organização setorial pautada pela qualidade”, relembrou Paulo Pupo, superintendente da Abimci.
A criação do Programa deu início a um novo momento para o segmento de portas de madeira e a vigor da norma de desempenho (ABNTNBR 15575)instigou as empresas a promover adequações para atender o mercado da construção civil. Esse movimento estimulou a atração de mais empresas para o Programa. Atualmente, parte importante e significativa da produção nacional de empresas fabricantes de portas de madeira do país fazem parte do PSQ--PME. O desenvolvimento do Programa possibilitou demostrar ao mercado que a porta de madeira tinha qualidade e também a disseminar informações técnicas desse componente indispensável para a construção civil.
"O segmento de portas de madeira passou por um verdadeira revolução, gerada em parte pelo desenvolvimento e avanços da norma de desempenho do setor".
A arquiteta e especificadora técnica de produtos da construção civil (pisos, portas e divisórias) da Eucatex, Ana Paula Oliveira, mencionou que antes de existir o programa as principais dificuldades ocorriam devido a uma conjuntura de fatores. “No início havia desinformação, pouco desenvolvimento técnico e tecnológico, concorrência desleal. A busca por produtos e rabalizada apenas pelo preço e aparência, enquanto a qualidade do produto era uma coisa difícil de identificar, medir e demonstrar”.
“O momento foi histórico dentro das empresas fabricantes de portas, pois havia uma despadronização. Com o Programa as empresas se uniram em prol da padronização e certificação dos produtos, melhorando a qualidade e o desempenho do que era entregue ao mercado”, contou Rogerio Dalgallo, diretor--presidente da Dalcomad.
O programa com a parceria da ABNT Certificadora (OCP – Organismo de Certificação de Produto) possibilitou às empresas a certificação dos produtos de acordo com a norma técnica. Em 2015, o Programa de Certificação pela ABNT recebeu a chancela do Inmetro, que reconhece a competência técnica do organismo para a avaliação da conformidade.
O diretor corporativo da Randa, Guilherme Ranssolin, destacou que o PSQ-PME trouxe impactos positivos às obras. “O programa veio para ajudar na organização dos produtos, auxiliando as construtoras na padronização correta para cada tipo de ambiente. O grande leque de marcas no mercado, sem uma equalização dos aspectos técnicos, gerava grande dificuldade para atender diretamente as demandas e necessidades da obra”. Segundo ele, à época, as construtoras não tinham o conhecimento das especificações técnicas para escolher a porta adequada para cada ambiente.
Agora, elas têm nas mãos informações para balizar a compra. “Por outro lado, nós como empresas entregávamos uma porta única, hoje com o nascimento da linha de produtos, incluindo as portas de entrada, internas, com isolamento acústico, com resistência à umidade, tornou-se mais assertiva a escolha do produto”, destacou.
Esse avanço na matriz de produtos das empresas foi aprimorado com investimentos realizados em ações de pesquisa e desenvolvimento para a inovação tecnológica dos produtos já ofertados e novas soluções, cumprindo as premissas da norma técnica. Além disso, esse avanço passa também por benchmarking técnico e comercial, apoio de laboratórios de ensaios no estudo sobre o produto e integração da cadeia produtiva.
Todas essas ações permitem posicionar a porta de forma competitiva no mercado, eliminando a concorrência desleal entre os fabricantes. “Agora podemos ser comparados com parâmetros técnicos, de desempenho e certificações, não apenas preço”, ponderou o diretor-presidente da Manoel Marchetti, empresa fabricante das Portas Alamo, FábioAyres Marchetti.
A utilização das normas técnicas e a certificação proporcionaram uma mudança cultural no mercado porque com elas houve o amadurecimento, principalmente pelo entendimento e respaldo que elas dão a todos os envolvidos, desde os fabricantes, as construtoras, os especificadores, os instaladores e os usuários. Como consequência, segundo Juliana Frasson, da gestão de qualidade da STM Portas, as construtoras passaram a compreender as portas de uma forma mais técnica. “A norma e o PSQ-PME tiveram um papel muito importante para esclarecer a importância da padronização dos materiais e principalmente do seu desempenho”. Além disto, segundo Juliana, a certificação auxiliou no fortalecimento das empresas fabricantes, pois com a padronização dos materiais e processos, elas passaram a ter mais segurança em relação a qualidade dos produtos que comercializam.
Dentro do processo de certificação do produto, as empresas recebem auditorias do sistema de gestão da qualidade e realizam ensaios de desempenho de acordo com a norma. Para manter a certificação ativa, essas avaliações ocorrem periodicamente.
Nesse processo, a Abimci presta suporte técnico às empresas. “Apoiamos tecnicamente os fabricantes desde início da preparação do processo, que envolve a implementação e manutenção dos sistemas de gestão da qualidade contribuindo para que a certificação do produto seja alcançada”, contou DayanePotulski, gerente técnica da Abimci.
A utilização das normas técnicas e a certificação proporcionaram uma mudança cultural no mercado porque com elas houve o amadurecimento, principalmente pelo entendimento e respaldo que elas dão a todos os envolvidos
AS MUDANÇASNA PRÁTICA
No decorrer dos anos, as construtoras passaram a entender também a importância do seu papel nesse novo cenário, especificando o produto correto para cada projeto. Até a publicação da norma de desempenho os critérios de compra da porta eram balizados em padrões construtivos. Agora para especificara porta para o projeto, o arquiteto ou especificador pode escolher o produto conforme a ocupação e uso do empreendimento.
Segundo Thomas Gomes, as portas evoluíram muito nos últimos 10 anos. “Somos muito focados em itens que tangibilizam a qualidade da obra para o cliente. Ou seja, itens que o cliente literalmente pode pegar, encostar e sentir de fato a qualidade daquilo que está sendo entregue pela construtora. Por mais que seja feita uma alvenaria ou pintura de qualidade nem sempre o cliente vai encostar todos os dias ou podem ser cobertas por marcenaria. Agora uma porta bem-feita e instalada, que será encostada diariamente, sentindo-se a sua textura, robustez, observando se ela aguenta a umidade e impactos faz toda a diferença. Considero que a porta é um dos principais materiais que traduz a qualidade de uma obra. As portas evoluíram muito nos últimos tempos, desde os revestimentos, as cores, formatos até o preenchimento acústico”.
O avanço e introdução de novas tecnologias no produto permitiram um novo olhar para a porta de madeira. O sistema kit porta aumentou a produtividade da obra, trouxe redução de custos e patologias.
“Hoje, não falamos mais em montar porta, ou “encher uma guarnição” para acabamento ou em pintura deporta. Trocamos o montador de portas para o instalador, mudamos sistemas de fixação, adotamos os kits como via de regra. Para se ter uma ideia, um bom montador instalava 20 portas no dia, mas todas elassem ferragens ou guarnição, hoje se fala em 30, às vezes, 40 instalações por dia de portas prontas. Hoje, só compramos portas de fabricantes que fazem parte do PSQ-PME, é premissa do nosso setor de suprimentos atender as obras com fabricantes que forneçam produtos certificados”, contou o diretor de engenharia da ADN Construtora.
CAPAPara Rogerio Dalgallo, a certificação elevou o patamar da qualidade da porta entregue nas obras. “Com isto, observamos a redução dos problemas encontrados”.
Esta redução é comprovada pelo diretor de engenharia da ADN Construtora. “Não temos índices por conta de baixo retrabalho, atendemos poucos chamados referentes às portas para manutenção”, afirmou.
Essa mudança de patamar de qualidade da porta de madeira traz segurança para o mercado consumidor que o produto adquirido não irá ocasionar patologias e atenderá o desempenho e vida útil projetada. “A certificação fornece segurança para o mercado, informando que o produto adquirido atende ao desempenho especificado. Com isto, quem compra a porta certificada sente confiança no fabricante escolhido” reforçou a coordenadora de qualidade da Pormade, Miriam Gotz Mayer.
A IMPORTÂNCIA DAS NORMAS TÉCNICAS
Os trabalhos para elaboração da norma técnica de portas de madeira, ABNT NBR 15930, foram iniciados há mais de 20 anos. Com estudos baseados em normativas europeias, o texto trouxe critérios de desempenho que englobam aspectos intrínsecos a matéria-prima (madeira), assim como a funcionalidade da porta em condições normais e anormais de uso. Quando as duas primeiras partes (Terminologia e simbologia; e Requisitos) foram publicadas em 2011 proporcionaram mudanças ao mercado. “As publicações foram muito importantes para reduzir a grande diversidade de medidas, tamanhos e desempenhos de produtos, além de proporcionar a melhoria contínua às fábricas”, destacou Rogerio Dalgallo.
“Não vejo o mercado caminhando para outro método nos próximos anos por conta do conforto proporcionado pela porta de madeira e por ela ter se tornado um elemento estético importante para o ambiente”
Juliana Frasson complementou a análise. “Ter uma norma de desempenho é como ter um manual para a fabricação de produtos com qualidade garantida”. Ela também destaca a importância da constante revisão do texto da norma com a realidade de mercado. “Ela é sempre importante para que os requisitos se adequem às novas tecnologias e tendências. Os produtos e processos construtivos estão em constante mudança e a norma precisa acompanhar esta evolução”.
Para o diretor-presidente da Manoel Marchetti, a publicação e a revisão das quatro partes da norma também auxiliaram no desenvolvimento de novos produtos. “A norma, além de ter permitido que chegássemos a uma melhora do desempenho das nossas portas, nos possibilitou o desenvolvimento de produtos para casos específicos, como as portas internas e de entrada com e sem resistência à umidade, além das portas com desempenho adicional como a resistente ao fogo e com isolamento acústico”.
A coordenadora de qualidade da Pormade, destacou que as normas técnicas trazem para o mercado uma confiabilidade no produto. “Por isso, a importância determos um conjunto de normas específicas para portas de madeira para edificações”.
VISÃO DE FUTURO
Nos últimos anos, a construção civil tem passado a compreender a importância do seu papel na aquisição de produtos com qualidade e que seguem as premissas de sustentabilidade. Depois de anos, dessas características terem sido deixadas de lado, o setor vem unindo esforços, buscando por tecnologia, aumento da produtividade e integrando a cadeia produtiva para entregar habitações de acordo com as necessidades dos usuários.
A construção civil está na rota do progresso e o segmento de portas de madeira encontra um ambiente propício para o fornecimento de produtos certificados.
Os produtos certificados, para Ana Paula Oliveira, terão cada vez mais espaço no mercado. “Eles irão cada vez mais contribuir para a melhoria contínua dos produtos e para a mudança de postura do mercado em um círculo virtuoso”.
Guilherme Ranssolin afirmou que este é um caminho sem volta. “O mercado busca cada vez mais por produtos que garantem qualidade técnica, resistência e durabilidade. Os produtos certificados passam a ganhar um mercado sólido, por ser sinônimo de qualidade, e é isso que o consumidor final quer, afinal, nós como empresa fabricante participamos dos sonhos das pessoas, e as normas técnicas nos fornecem subsídios para produzir e contribuir para o crescimento da construção civil”, ponderou o diretor corporativo da Randa.
A coordenadora de qualidade da Pormade confirmou a busca das construtoras por produtos certificados. “O espaço dos produtos certificados dentro do segmento da construção civil está aumentando cada vez mais, pois o produto certificado traz segurança, credibilidade, redução de custos no pós-venda, e um cliente feliz com o produto adquirido”.
“O que esperamos, é que a cada dia, mais e mais as construtoras solicitem e procurem sempre adquirir seus produtos de empresas certificadas”, almejou o gerente comercial da Sincol, Alex Boico.
Segundo Hugo Farjado, as construtoras continuarão buscando por custos adequados, prazo de entrega, mas a importância das portas não será diminuída. “Não vejo o mercado caminhando para outro método nos próximos anos por conta de conforto proporcionado pela porta de madeira e por ela ter se tornado um elemento estético importante para o ambiente”
O diretor da incorporadora MDGP destacou a relevância das portas e o que esperam delas. “Vivemos uma tendência de ambientes abertos, cozinhas integradas, salas sem tantas divisórias, mas os quartos continuarão exigindo portas, portanto a qualidade e o desempenho delas deverá ser cada vez melhor para proporcionar conforto e segurança às pessoas que irão conviver nos ambientes”.
“Para atender o mercado da construção civil, as empresas fabricantes de portas de madeira que fazem parte do PSQ-PME continuarão desenvolvendo produtos com alta tecnologia, inovação, eficiência, qualidade, com baixo impacto ambiental, focados no bem-estar e na segurança para os usuários, sempre embasadas nas normas técnicas vigentes”, finalizou Dayane Potulski, gerente técnica do PSQ-PME.
Fonte: Revista Portas de Madeira - Abimci
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