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Notícias

22
nov
2005
(GERAL)
Mercado de Carbono atrai mais investimentos
Graças ao Protocolo de Kyoto, antigos e novos interessados estão atuando na indústria do carbono. Permissões e créditos de carbono são os bens mais recentes, que avançam em direção ao que alguns acreditam ser um dos mercados de commodities mais ativos na próxima década.

Há apenas três anos, o mercado de carbono não conseguia atingir a meta de 40 milhões de toneladas de gases do efeito estufa ao ano. Mas com o advento do European Union Emissions Trading Scheme (EU ETS – Mercado de Comércio de Emissões Europeu) e com o Protocolo de Kyoto, o mercado mudou substancialmente. Este ano os volumes comercializados já ultrapassaram 80 milhões de toneladas. De fato, antes mesmo da abertura do EU ETS e da entrada em vigor do Protocolo de Kyoto, no início deste ano, o mercado já havia decolado.

Esses mecanismos impõem limites sobre a quantidade de gases do efeito estufa que os países podem emitir. Os limites – representados por um número fixo de permissões que podem ser livremente comercializadas – formam uma parte do mercado de carbono. A outra, são os créditos de carbono, ou Certificados de Emissões Reduzidas (CER), alcançados através de projetos de reflorestamentos, de melhoria tecnológica, etc.

Em função desses créditos e permissões, as negociações de gases do efeito estufa mais do que dobraram em 2003, chegando 80 milhões de toneladas (MtCO2e), e, em 2004, ultrapassaram para 120 MtCO2e. Nos três primeiros meses deste anos, aproximadamente 80 MtCO2e já foram negociadas. O mercado ainda não atingiu seu ápice, mas entre hoje e 2012, as negociações podem subir, chegando a US$40 bilhões ou até US$50 bilhões, estima a ABN AMRO. “Nós achamos que o mercado de carbono tem o potencial para se tornar um dos maiores mercados de commodities do mundo”, diz o presidente de desenvolvimento sustentável, Richard Burrett.

As últimas novidades no mercado de carbono são as Permissões da União Européia (EUAs – European Union Allowances), emitidas pelo EU ETS. Em um dia bom, mais de um milhão de EUAs (equivalentes a um milhão de toneladas de emissões de dióxido de carbono, ou aproximadamente 20 milhões de euros)mudam de dono. Na maioria dos dias, há variação entre 300 mil e 500 mil EUAs negociadas. Não é muito quando se fala no instável mundo das commodities, mas este mercado teve início há somente alguns meses.

Atualmente, a maior parte das ações são tomadas na Europa, mas as mudanças são evidentes ao longo da Eurásia, onde as Partes estão agindo para se adequarem a Kyoto. As economias que possuem metas de redução das emissões estabelecidas no Protocolo de Kyoto (partes do Anexo 1), como a União Européia e o Japão, estão lutando para conseguir cumprir as suas metas obrigatórias e também as voluntárias.

Nas Partes não incluídas no Anexo 1, o grupo ao qual pertence o Brasil e a maioria dos países da Ásia (sem metas a serem cumpridas, pelo menos até 2012), a criação e venda de créditos de carbono está sendo vista como uma grande oportunidade de lucro. A Índia, até o momento, é país dominante, com mais de 30% do mercado. Até mesmo países menores, como a Tailândia e a Coréia estão se beneficiando.

Participantes do Mercado

O Mercado de carbono está evoluindo, deixando de ser somente um negócio futuro, como era visto até o ano passado, e se modificando de acordo com os produtos financeiros existentes. Não é apenas os produtos que se desenvolvem, mas também os interessados. “Eu fui incentivado pelas perguntas feitas pelos mais diversos tipos de investidores de grandes fundos a investimentos bancários”, diz o chefe executivo da London Energy Brokers Association (LEBA), Ian Stevenson, ao falar da demanda do seu Índice de Carbono, que registra os preços das EUAs. Os bancos que participam atualmente representam clientes, geralmente, mas cada vez mais “este setor está atraindo mais atenção”- afirma.

Um grande número de participantes do mercado de carbono acredita que isso é uma extensão natural dos seus produtos. Essa idéia é especialmente verdadeira quando se trata de bolsas (exchanges). As duas primeiras a oferecer EUAs – a European Energy Exchange (EEX) e a Nord Pool – estabeleceram mercados de eletricidade.

O porta-voz da EEX, Stefan Nielssen, demonstra as sinergias. “Nós temos 90 participantes que já estão prontos para negociar, o que é possível, pois nós operamos o mercado de carbono junto com o nosso mercado de eletricidade (do qual participam 126 companhias)”.

A European Climate Exchange (ECX) opera de maneira parecida, tendo vantagem, pois tem ligação com a International Petroleum Exchange (IPE) – onde está mais da metade dos seus membros, resultando na participação, não somente de companhias energéticas, mas também de muitos negociadores financeiros, incluindo a ABN AMRO, Barclays Capital e a Fortis.

Evidentemente, não é somente quem está ligado ao mercado energético que se interessa. A grande cobertura do EU ETS, com permissões destinadas para mais de 12.000 fontes fixas, tem tido um grande impacto.

“Quando você fala com um cliente sobre o gerenciamento de risco de uma commoditie, você não pode deixar as emissões de fora – elas se tornaram uma parte integral do portifólio da maioria dos clientes que representamos, desde petróleo, gás até eletricidade”, explica a analista energética da ABN AMRO, Eva Karra. Conseqüentemente, o Banco Alemão está expandindo a sua gama de produtos, desde produtos futuros nas bolsas (esteve envolvido no primeiro negócio da ECX) até o mercado imediato (OTC – over the counter).

Além disso, a forte presença nos mercados emergentes (não participantes do anexo 1) o coloca em uma posição de destaque para negociar com os créditos de carbono - e não somente as permissões. “Nós estamos na posição ideal para colocar os mercados em desenvolvimento em contato com os compradores Europeus”, disse Burrett.

O seu time concluiu recentemente o primeiro contrato de créditos de carbono, ligando um vendedor em Fiji com um comprador do setor energético Britânico, a Centrica. Este foi o primeiro negócio de créditos de carbono fechado entre duas companhias privadas intermediado por um banco.

Outros bancos ativos no mercado estão viabilizando contratos

Com grandes clientes do setor energético na cabeça, as instituições financeiras estão entrando no mercado de carbono, tanto comercializando quanto financiando projetos. No campo do Carbon Financing, aqueles que possuem uma infraestrutura pronta, como a International Finance Corpoation e o Rabobank, estão investindo e guiando projetos de créditos de carbono de perto.

Mas nem todos estão olhando para o mercado de carbono como uma oportunidade extra de negócios. A Ásia Carbon International existe somente para este fim. Focando seus esforços sobre os vendedores, a companhia, sediada nos Países Baixos, oferece uma solução efetiva para seus clientes que desejarem criar e vender créditos de carbono. Ela oferece serviços consultivos, ajudando os clientes durante o processo regulatório. Um fundo de 200 milhões de euros da companhia é investido nestes tipos de projetos.

A última novidade oferecida é o gerenciamento de bens através da Asian Carbon Exchange (ACX) para comercialização de créditos de carbono sob as regras do Protocolo de Kyoto. A empresa está sediada estrategicamente em Singapura, entre a Índia, maior fornecedora de créditos de carbono, e os maiores compradores na União Européia.

As negociações ainda não foram efetivadas na ACX, pois nenhum projeto foi aprovado até hoje pelo conselho executivo do Protocolo de Kyoto. Mesmo assim, nove CERs foram registradas na primeira semana de junho e estão perto de conseguir a emissão dos certificados.

Estrutura de um mercado em crescimento

O OTC domina e continuará dominando o mercado, pois, a menos que os créditos de carbono sejam certificados (nenhum foi certificado até agora), eles não são substituíveis.

Até mesmo para as permissões, o mercado é predominantemente imediato, OTC, ao contrário dos créditos de carbono - as EUAs são um produto padronizado. Utilizando o índice LEBA como indicador, conclui-se que apenas sete corretores do setor energético , incluindo o Evolution Markets e ICAP Energy, possuem a maioria do volume de EUAs, grande parte do tipo OTC.

Um representante da ECX descreve a situação: “O mercado do tipo OTC teve seu início há quase dois anos. Até agora, há contratos de relacionamento entre os principais participantes do mercado e foram estabelecidas linhas de crédito e acordos contratuais. Todo o trabalho pesado essencial já foi feito. Por exemplo, a British Petroleum, a Fortis, a Accord e a Shell, todas têm acordos já estabelecidos. Para eles é muito fácil fazer acordos bilaterais com base em contratos OTC. As bolsas estão atualmente comercializando ao redor de 20% do mercado e, assim como em outros mercados, enquanto amadurecem, esta porcentagem tende a crescer. Com o tempo, eu espero que este valor aumente para 50%”.

Muitos fundos de carbono foram estabelecidos devido aos riscos e à experiência de mercado que deve acompanhar a compra de carbono. Em um estudo de mercado recente, Frank Lecocq e Karan Capoor estimam que a capitalização dos fundos de carbono ao redor do mundo aumentou para US$1 bilhão em abril de 2005. Isto inclui seis fundos criados pelo Banco Mundial, fundos criados por países específicos, como o Fundo Japonês de Carbono, assim como fundos privados como o Natsource GGCAP.

Uma novidade é o desenvolvimento de fundos apoiados por grandes instituições financeiras. O Fundo de Comércio de Emissões lançado em maio deste ano, é um exemplo. Tem como membros o Credit Suisse, o HSBC, o Société Générale e a JP Morgan. Com um corpo de 135 milhões de libras (US$ 243 milhões) é o maior fundo criado até o momento, atuando não só na esfera do Protocolo de Kyoto e do EU ETS, mas também dentro dos ETSs dos EUA.

Neste mercado nascente, a informação está cara. As estruturas de contrato e valores freqüentemente são confidenciais, criando um mercado para pesquisadores, como a Point Carbon. Além do mais, a compra de créditos de carbono certificados por Kyoto é um processo lento, complexo e até tedioso, que abre o campo das consultorias.

Como a maioria dos acordos foi fechada antes das reduções de emissões realmente acontecerem (como contratos futuros), há riscos tanto dos projetos quanto de registro, assim como os riscos de cada país, que fazem cada um dos projetos únicos.

No caso do Brasil, o Risco-Brasil é um fator que influi muito, no preço e na procura dos projetos de Mecanismos de Desenvolvimento Limpo. Este índice de risco é uma das principais razões pelas quais os preços das emissões variam tanto de país para país, e trazem vantagens para as EUAs (claro que a partir da certificação, essas vantagens não mais existem).

Futuro do Mercado

Apesar das dúvidas políticas que cercam o futuro do mercado de carbono (o período pós-2012 é ainda incerto, e o EU ETS iniciou há pouco a sua fase piloto que irá durar até 2008), muitos interessando apostam que ele veio pra ficar.

Em novembro de 2004, a Shell concluiu a compra de EUAs para o período de 2008, em um mercado que está quase que totalmente voltado para 2005, 2006 e 2007 (correspondendo a fase piloto atual do EU ETS). Este acordo, negociado pela Evolution Markets de Londres, sinaliza a confiança do gigante da energia na continuidade deste mercado.

O diretor da Point Carbon, Jorund Buen, comenta que “alguns dos países mais influentes já investiram em fundos, comprando reduções pós-2012”. Até mesmo o ceticismo do período pós-2012, como o demonstrado pela Itália na 10° Conferência das Partes em Buenos Aires, não espantou os países das compras, disse. “As principais linhas do Fundo Italiano de Carbono dizem que 40% das compras de reduções de emissões devem ser para o período pós 2012”.

No fim, o “dinheiro inteligente” acredita que há um futuro nesse setor. Mesmo com os baixos volumes de mercado, três novas bolsas entraram em ação em junho. Apesar de não existir ainda nenhum certificado, a ACX iniciou as suas operações. Ainda sem um mercado líquido para as EUAs em 2008 e da falta de anúncio para as metas pós-2008, a Shell fechou negócio. Apesar das limitadas oportunidades de CER, os fundos de carbono estão aumentando seu número. As abelhas estão todas zumbindo, então que seja bem vindo o mel!

Fonte: Carbono Brasil/ ECX

Fonte:

Sindimadeira_rs ITTO