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Notícias

29
nov
2016
(OPINIÃO)
Semente florestal morta vende mais que viva na Amazônia

Nos últimos 10 anos, em especial depois da popularização do marfim vegetal (como os fabricantes de joias, bijuterias e peças de decoração chamam a semente de jarina), o mercado de sementes de espécies amazônicas vem observando crescimento surpreendente.

Surpreende, igualmente, a desatenção e indiferença com que os gestores estatais, em todas as três esferas de governo e em todos os nove estados amazônicos, tratam a exploração e o aproveitamento desse valioso produto florestal.

Valioso, sem dúvida; mas não é só sob o aspecto econômico que a importância da produção de sementes se manifesta: além de possibilitar uma atrativa taxa interna de retorno, esse tipo de empreendimento possui um grande diferencial, que o torna preferencial como opção de investimento a ser impulsionada pelo poder público na Amazônia.

Ocorre que a produção de sementes depende da existência da floresta, ou seja, trata-se de uma atividade produtiva que fornece uma barreira natural (perdoe-se o trocadilho) à expansão do desmatamento na Amazônia – e barrar o desmatamento, claro, é uma prioridade para todos os países do mundo.

Lamentavelmente, contudo, o descaso dos prefeitos e governadores é tamanho que sequer se chega a diferenciar, para efeito do licenciamento ambiental, os dois grandes segmentos que integram o mercado de sementes florestais: sementes vivas e sementes mortas.

Enquanto para o primeiro segmento só interessam as sementes com poder germinativo, o segundo se volta para o fornecimento de sementes que já estão mortas, ou que morrerão no beneficiamento do produto a ser comercializado.

Diga-se que o segmento das sementes vivas atende a basicamente duas demandas: uso biotecnológico e produção de mudas, sendo que a segunda demanda representa atualmente mais de 80% da oferta. As mudas são usadas para reposição florestal, restauração em mata ciliar e reflorestamento com fins econômicos.

As sementes mortas, por seu turno, destinam-se à produção de bijuterias e ornamentos. A demanda pelas denominadas biojoias, adornos confeccionados com o emprego de matérias-primas naturais, suplanta o tradicional ecomercado (concentrado nas classes A e B), alcançando nichos mais populares, o que justifica uma oferta elevada.

Parece evidente que a regulação da produção de sementes deveria diferenciar as sementes mortas das vivas, contudo, bom senso não costuma prevalecer quando o assunto é a exploração econômica da biodiversidade florestal da Amazônia.

As normas que orientam a oferta de sementes florestais simplesmente desconsideram a existência do poderoso mercado que movimenta o segmento das sementes mortas.

Os regulamentos elaborados pelos órgãos estaduais de meio ambiente para o manejo das sementes no interior da floresta dizem respeito unicamente à produção de sementes vivas, sendo absolutamente inadequados à exploração de sementes mortas.

Há que se discutir ainda o que talvez seja o mais grave empecilho, que corrompe a imaginação de quase todo mundo quando se fala em sementes amazônicas: a biopirataria. Embora não haja qualquer evidência histórica quanto a esse tipo de ocorrência, o medo da biopirataria inviabiliza o mercado de sementes florestais na Amazônia.

É um paradoxo: o receio em relação à cobiça e ao saque iminente da biodiversidade impede a geração de riqueza mediante a exploração dessa biodiversidade – que é a única saída econômica para a manutenção do ecossistema florestal.

Enquanto isso, a floresta segue se convertendo em pastos, com o suporte da imprensa e dos políticos, que não se informam e não entendem nada.

Écio Rodrigues

Fonte: Andiroba

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