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Notícias

20
jul
2016
(GERAL)
Gigolôs do Carvão Vegetal - por Sebastião Valverde e Angélica Carneiro

O carvão vegetal é um produto genuinamente mineiro. Indispensável na suculência de picanhas em residências e churrascarias, ele é fundamental como insumo termo redutor das siderúrgicas e metalúrgicas, além de fornecer energia na forma de calor para as cimenteiras e cerâmicas. Minas Gerais, por ser o maior produtor e consumidor mundial deste insumo renovável oriundo, predominantemente, de plantações florestais, deveria conceder tratamento vip a ele, capitalizar-se sobre este diferencial social e ambiental, comparado com o concorrente mineral, mostrando ao mundo que os produtos metais-siderúrgicos mineiros são os únicos produzidos de forma correta e limpa.

Destarte este diferencial, o Estado adormece sobre esta prerrogativa e se subordina a uma heresia etnoambientalista que denigre a cadeia do carvão vegetal. Constantemente, as industriais desta cadeia - que deveriam ser motivos de orgulho para os mineiros, - são vilipendiadas por danos imputados equivocadamente a elas, devido a desconhecimentos de quem cria e cumpre uma legislação draconiana e destoante da realidade do campo.

Ignóbeis culpam o carvão pelos desmatamentos, poluição e pelo trabalho escravo e infantil. Fato que levou o Estado a criar um emaranhado de leis indecifráveis e inaplicáveis que inviabilizam a carbonização e comprometem a competitividade deste biorredutor. Tributam-se desde a produção florestal, a carbonização, o transporte, até a indústria consumidora, em vez de premiá-los por produzirem e usarem um biorredutor renovável, quando no mundo usa-se o mineral, poluidor, excludente, desumano e de alto custo ambiental. São leis criadas por alienígenas arraigados em preciosismos ambientais e preconceitos ideológicos, criando dificuldades para a sobrevivência no meio rural. Tais legislações foram elaboradas sob a hermenêutica de que produzir carvão da floresta nativa é crime, quando na verdade é solução para conservação da mesma.

O erro não é usar a floresta, mas, sim, como usar. Cabendo, neste caso, ensinar a manejar, jamais proibir de tal. Basta observar que algumas microrregiões do Estado só possuem cobertura de Mata Atlântica porque outrora fora produtora de carvão. Muitos dos parques só existem e estão florestadas, porque no passado foram fazendas de carvão.

Infelizmente, o que se vê no Estado são os órgãos do meio ambiente marginalizar, perseguir, condenar e massacrar a produção e consumo do carvão vegetal. Nestes órgãos, as consumidoras do carvão são tratadas como bandidas, quando deveriam ser como parceiras por ainda existirem num mercado global que usa o mineral.

A todo instante o Estado impõe tributos sociais e ambientais às indústrias do carvão,além das já pesadas cargas tributárias brasileira. São taxas florestais, de porte de motosserra, de reposição florestal, de licenciamento ambiental, de outorga, dentre outras, que aumentam os custos de produção metal-siderúrgico num mercado internacional de queda nos preços. A razão dos produtores e indústrias permanecerem nesta cadeia se deve a prejuízo financeiro e, ou, sucateamento da propriedade e da indústria.

Em que pese à injustiça com que os órgãos do Estado lhe tratam, o carvão vegetal é de extrema importância social, econômica e ambiental. Mas, de que adianta ser socialmente justo e ambientalmente correto, arcando com elevados custos, se a humanidade não paga por isso eo Estado age como inimigo? Em tese, vive-se a retórica ambientalista ao privilegiar o consumo dos produtos da indústria do carvão mineral que, ao contrário da do vegetal, é superavitária nas emissões de SO2 e CO2, agravando, segundo os aquecimentistas, o aumento da temperatura global e a formação de chuva ácida.

Mesmo com a desvantagem do carvão vegetal que tem que ser produzido, ao contrário do mineral que basta extrair, a cadeia do vegetal em Minas Gerais sobrevive e resiste. São mais de 230 mil pessoas empregadas direta e indiretamente nesta cadeia, tanto no campo quanto na cidade. São arrecadados mais de R$ 2 bilhões em impostos e R$ 7,3 bilhões em divisas de exportações anualmente. Estudos mostram que as indústrias metais-siderúrgicas são as mais importantes para desencadear o desenvolvimento regional por apresentarem os melhores índices de ligação para trás (fornecedores) e para frente (compradores) comparado com os demais setores econômicos.

Sem a pretensão de ignorar os problemas ambientais, não justifica penalizar e inviabilizar, desproporcionalmente, a indústria do carvão vegetal. O que não significa relaxar com as exigências ambientais. Mas, que seja coerente com a velocidade do seu progresso. Inviabilizar a indústria do carvão vegetal implica no dualismo de se viabilizar a do mineral, onde os problemas são maiores.

Muito se evoluiu e se evoluirá nesta cadeia produtiva. Saiu-se da produção de carvão em caieiras, com baixíssimo rendimento, passando-se pelos fornos de barranco e rabo quente – ainda muito empregado pelos pequenos produtores – passando pelos circulares de superfície e retangulares industriais. Têm-se, ainda, as clássicas retortas industriais de carbonização que esbarram em dificuldades para se tornarem economicamente competitivas, pois requerem somas de investimentos acima da capacidade da grande maioria dos produtores. Logo, o que se vê é um setor buscando alternativas tecnológicas para assegurar a competitividade do carvão vegetal perante o mineral, fortalecendo a indústria e contribuindo para a sustentabilidade. Dentre essas alternativas tecnológicas destacam-se o uso de queimadores de gases acoplados aos fornos para redução das emissões atmosféricas, sistemas supervisórios, resfriadores e secadores para aumento da produtividade e do rendimento gravimétrico.

Quanto às emissões atmosféricas, salienta-se que as empresas vêm desenvolvendo alternativas para o aproveitamento dos gases gerados. No entanto, também existem as barreiras tecnológicas que requerem pesquisas para suas validações técnica e econômica.

Urge, ainda que tardia, a necessidade de unir forças para alavancar a cadeia do carvão vegetal. É papel do Estado agregar as entidades afins desta cadeia - até como forma de se redimirem de anos de maldades contra o carvão -, como os órgãos do meio ambiente, a promotoria, as universidades, os centros de pesquisas e a sociedade representada para fazer valer o diferencial de produzir um termorredutor limpo e renovável, antes que suas indústrias consumidoras migrem para o mineral, poluindo o ambiente, desempregando centenas de milhares de pessoas e forçando os pequenos produtores – responsáveis por 70 % da produção de carvão vegetal – ao êxodo rural.

Sebastião Renato Valverde e Angélica de Cássia Carneiro

*Ambos são professores do departamento de Engenharia Florestal da Universidade Federal de Viçosa (UFV) e diretores da Sociedade de Investigações Florestais (SIF)

Fonte: Painel Florestal

ITTO Sindimadeira_rs