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Notícias

14
mar
2016
(BIOENERGIA)
Suani Coelho destaca dois setores importantes para a biomassa

A entrevista foi produzida pela revista Biomassa Br com a Professora Dra. Suani Teixeira Coelho, da USP. Ela que é engenheira química, com mestrado e doutorado em Energia No Programa de Pós Graduação em Energia da Universidade de São Paulo, onde é atualmente professora, orientadora e coordenadora do GBio – Grupo de Pesquisa em Bioenergia – antigo CENBIO, no Instituto de Energia e Ambiente da USP.

O assunto em pauta é o setor de biomassa e energia. Leia:
Como você definiria hoje o setor da Biomassa no Brasil e no mundo?

Suani Teixeira Coelho – O setor de biomassa no Brasil ainda enfrenta algumas dificuldades por falta de políticas adequadas nos setores de transporte e elétrico, apesar de todas as vantagens ambientais, sociais e estratégicas.
No mundo, o setor de biomassa recebe cada vez mais interesse, inclusive em países da União Europeia, uma vez que a biomassa pode ser usada para substituir os combustíveis fósseis na geração termelétrica visando atingir as metas de redução de carbono.

Quais os principais gargalos a serem resolvidos para que o setor da Biomassa avance em nosso país?

Suani Teixeira Coelho – Para responder a esta pergunta é necessário analisar em separado cada setor:

• Setor de transporte: o etanol ainda não recebe os incentivos adequados do governo. Desnecessário lembrar o controle informal dos preços da gasolina até final de 2014, como tentativa de controle dos índices de inflação. Como o etanol necessita ter preços na bomba até o limite de 70% da gasolina, o álcool ficou indiretamente controlado. Os resultados estão claramente identificados com a crise que o setor atravessou e ainda atravessa, com inúmeras usinas fechadas.

• Setor elétrico – os leilões de compra de energia não levam em conta as vantagens da biomassa não apenas em termos ambientais (energia renovável), mas em termos estratégicos (geração próxima aos pontos de carga, nas regiões Sudeste e Sul).

• A bioenergia tem que competir em leilões com combustíveis fósseis (termoelétricas a gás natural e a carvão) e com outras renováveis que não apenas recebem incentivos especiais como também são geradas longe das regiões de demanda. Inúmeros trabalhos científicos já apontaram as consequências negativas para a população, que deve pagar os custos de transmissão do NE ate o SE. Os leiloes regionais certamente evitam estes problemas para o país e para a população.

Que tipos de geração de energia por biomassa você destacaria, como principais potencias hoje?
Suani Teixeira Coelho – Certamente o setor com maior importância é o setor sucroalcooleiro, não apenas pelo ouso do etanol, mas também, pelo enorme potencial de geração de excedentes, contribuindo para retornar a matriz elétrica brasileira aos níveis de sustentabilidade ambiental do passado.
Mas também é importante destacar dois setores importantes para geração de energia:

• O setor de pellets, que ainda não aproveita adequadamente o enorme mercado internacional, em particular a União Europeia. Há no país áreas importantes para plantações sustentáveis de eucalipto para a produção de pellets, não apenas para uso interno, mas também para exportação. Isso sem falar no aproveitamento inteligente de resíduos de madeireiras e serrarias para este mesmo fim

• O setor de resíduos sólidos urbanos e rural, que enfrenta dificuldades enormes relativas á disposição adequada dos resíduos e que ainda apresenta enormes impactos ambientais, principalmente nos pequenos municípios e na zona rural (criações de animais).

Com políticas adequadas de incentivos, a geração de energia poderia contribuir para a viabilidade econômica do saneamento e para a redução dos impactos ambientais.

Qual seria a ideal participação na matriz energética brasileira, se o potencial da geração de energia por biomassa fosse aproveitado de forma mais inteligente?

Suani Teixeira Coelho – O potencial de excedentes do setor sucroalcooleiro atinge 10 GW (equivalente a uma Itaipu., o dobro do que ocorre hoje, se as políticas adequadas fossem introduzidas.

Da mesma forma outros setores como o madeireiro, arroz, entre outros, poderiam ter uma contribuição muito maior do que a atual, como identificado no Atlas de Bioenergia desenvolvido pelo CENBIO (Centro Nacional de Referencia em Biomassa, atualmente Grupo de Pesquisa em Bioenergia – GBio, IEE/USP), para o país e disponível no nosso site: www.iee.usp.br/gbio

O setor da Biomassa em diversos países é uma das principais, ou até mesmo a principal forma de gerar energia; O que podemos aprender com estes cases de sucesso?

Suani Teixeira Coelho – A partir da experiência de países desenvolvidos como os países da União Europeia, podemos verificar que o ponto principal são as políticas adequadas. No caso do aproveitamento de resíduos de biomassa para geração de energia, é fundamental políticas de incentivo. No caso do setor sucroalcooleiro, bastariam os leilões regionalizados e por fonte. No caso de RSU há necessidades de políticas mais importantes, como participação dos órgãos de fomento em empreendimento de geração de energia. Na UE, as plantas de incineração receberam importante contribuição da UE em forma de investimento a fundo perdido (o exemplo da Valorsul, em Lisboa, Portugal, é emblemático). Linhas especiais de financiamento para estes empreendimentos, em particular para os de pequeno porte (importantíssimos para os pequenos municípios e para os produtores rurais) poderiam colaborar bastante.

Como você imagina o setor no Brasil para os próximos 10 anos?

Suani Teixeira Coelho – Se tivermos as políticas adequadas poderemos certamente retornar a uma matriz energética com baixas emissões de carbono, uma vez que atualmente temos a participação enorme das térmicas a combustíveis fósseis. Isso se reflete no perfil das emissões do país, onde o fator de emissão de gases efeito estufa (fator médio anual) aumentou 5,5 vezes de 2009 a 2014 (de 0,0246 tCO2/MWh em 2009 para 0,1355 tCO2/MWh em 2014!).

Fonte: Biomassa BR

Sindimadeira_rs ITTO