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Notícias

02
mar
2016
(MEIO AMBIENTE)
Contribuição das florestas nas emissões dos gases de efeito estufa?

O professor Laércio Jacovine possui graduação em Engenharia Florestal, mestrado e doutorado em Ciência Florestal pela Universidade Federal de Viçosa (UFV). Atualmente é professor Assistente, atuando principalmente nos temas de Colheita Florestal, Gestão da Qualidade, Sistema de Colheita, Perdas durante a colheita e Controle de Qualidade.

Estamos presenciando um momento em que a preocupação com o meio ambiente está em alta. É nítido, que cada vez mais, empresas e população estão buscando melhorias ambientais. Um dos fatores que coloca nosso planeta em risco são as emissões de gases de efeito estufa. Pensando em minimizar essas emissões, o professor e pesquisador da Universidade Federal de Viçosa (UFV), Laércio Gonçalves Jacovine vem se dedicando às linhas de estudo que priorizem avaliar a contribuição das florestas para a minimização das mudanças climáticas, pois essas ainda precisam ser mais discutidas e estudadas, já que seus reflexos geram cada vez mais problemas para o homem.

As mudanças de temperaturas, as grandes secas, as grandes enchentes são apenas alguns dos muitos impactos negativos causados. Uma grande questão que preocupa os produtores e as indústrias, hoje, é como produzir de forma mais sustentável.
A possibilidade dos detentores de florestas obterem uma receita com esse bem existente nas propriedades, movimentou o Mercado de Crédito de Carbono que, apesar de ter explodido entre os anos de 2008 e 2012, esfriou com o findar do primeiro período do protocolo de Kyoto. A partir de então, passou-se a debater muito mais sobre a responsabilidade ambiental dos produtores e das empresas, passando-se então a discutir sobre neutralização de carbono.

O professor explica que de um lado qualquer atividade, quer seja do indivíduo ou da empresa, contribui na emissão de mais carbono. “Quando venho de carro para a UFV estou emitindo carbono, quando gero um resíduo, ele vai para o aterro sanitário e lá emite metano, quando gasto energia estou emitindo carbono ou outros gases de efeito estufa”. Por outro lado, têm-se as florestas que podem contribuir em retirar da atmosfera esse carbono. Ou seja, ao fazer o plantio de árvores pode-se minimizar a emissão de gases de efeito estufa, o que levaria à neutralização das emissões ou diminuição de gases de efeito estufa na atmosfera.

Dentro da universidade, o professor coordena o projeto Carbono Zero iniciativa da Pró-Reitoria de Extensão e Cultura em parceria com o Departamento de Engenharia Florestal. O mesmo consiste em quantificar toda a emissão de gases de efeito estufa gerado na Semana do Fazendeiro e, em seguida, é feito o plantio de árvores necessárias para neutralizar essas emissões. O professor explica como a neutralização acontece. “Para crescer, as árvores precisam retirar CO2 da atmosfera.

Então a quantidade do gás que foi emitido na Semana do Fazendeiro vai sendo retirado da atmosfera à medida que as árvores vão crescendo”.

Além desse projeto, o professor também é responsável por um sistema de balanço de carbono usado em propriedades rurais. O sistema foi desenvolvido com base no software Microsoft Excel, pelo Grupo de Estudos em Economia Ambiental (GEEA) do Departamento de Engenharia da UFV. Nele é realizado o cadastro com informações do produtor rural e de sua propriedade.

Para o cálculo do balanço de carbono, o produtor fornece dados mais específicos da propriedade rural para realizar o inventário das emissões e do incremento (remoções). Os dados mais específicos são referentes à criação de animais, consumo de energia, consumo de combustível, plantio de culturas agrícolas e presença de árvores na propriedade.

O sistema considera as emissões de dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e óxido nitroso (N2O). Os resultados são convertidos para a unidade-padrão tCO2 e (toneladas de dióxido de carbono equivalente), de acordo com o Potencial de Aquecimento Global (PAG) de cada um desses gases.

Com esses números em mãos é possível determinar se o balanço de carbono é positivo ou negativo. “De um lado as emissões, do outro lado aquilo que a propriedade está estocando. O sistema permite saber quantas árvores ele precisa plantar para ser neutro, ou quantas árvores ele tem em excedente na sua propriedade”, explica Jacovine.

A questão ambiental até pouco tempo era um apêndice do sistema produtivo, mas hoje vemos que a questão ambiental passou a ser uma exigência de mercado. Aqueles países que estão em desenvolvimento ainda não possuem esse viés ambiental, mas os desenvolvidos exigirão, cada vez mais, produtos ecologicamente corretos, mais responsáveis em termos de questões ambientais e sociais.

AGRICULTURA E PECUÁRIA SÃO OS VERDADEIROS VILÕES?

Entre os principais emissores de gases de efeito estufa estão: China, EUA, Índia, Japão, Alemanha, Reino Unido e Brasil. Nosso país é o segundo maior emissor em agropecuária depois da China, com 10% e 12% do total da emissão em âmbito global, respectivamente. A atividade agropecuária brasileira é responsável por 30% das emissões totais do país, como consequência das atividades de produção animal e vegetal. Entretanto, se considerarmos os impactos indiretos como o desmatamento e a degradação das florestas dessa atividade, além do uso de combustíveis fósseis e o tratamento de resíduos industriais do setor, a contribuição agropecuária aumenta para 60% das emissões totais do país.

Estima-se, hoje, que teríamos mais cabeças de gado do que pessoas em nosso país (portanto, o Brasil possui mais de 200 milhões de reses). Por exemplo, se tivéssemos um hectare por cabeça, teríamos mais de 200 milhões de ha de pastagem no Brasil. Isso corresponde a praticamente ¼ das terras do país ocupadas com pastagens e gado emitindo metano.

O professor aponta algumas iniciativas que diminuiriam as emissões de gases de efeito estufa, entre elas o sistema silvipastoril, que consiste em plantar árvores na pastagem. Estudos demonstram que é preciso menos de 50 árvores por hectare para se zerar as emissões de gás gerado pelo gado. Exemplo disso já em prática é de um produtor do município de Coronel Pacheco que utiliza esse sistema como estratégia de marketing ao disponibilizar no mercado o “boi neutro” ou “carne neutra”. Ou seja, toda emissão de gás gerada pelo seu gado está sendo compensada pelo plantio de árvores que ele tem na sua área de produção. Essa iniciativa propicia aliar a produção à questão de carbono.

Outra alternativa é a diminuição da emissão por resíduos. É proposto um sistema de captura de metano de áreas de criação de bovinos e suínos. A tecnologia utilizada para o tratamento de resíduos e efluentes (resíduos animais líquidos) consiste na adoção de processo de digestão desses resíduos orgânicos (biodigestão), realizada por colônia mista de microrganismos, em ambiente com ausência de oxigênio. Resultam da biodigestão dois produtos básicos: o biogás e o biofertilizante líquido. O aproveitamento desses produtos auxilia na sustentabilidade ambiental e econômica da propriedade rural, onde podem ser utilizados para gerar energia e, consequentemente, novas fontes de renda ou diminuição de custos.

Não há legislação que obrigue o produtor a pôr em prática tais medidas e, associado com o elevado custo das mesmas, a adesão ainda é baixa. O professor acredita que essa questão do carbono vai passar a ser uma solução de mercado, havendo pressões para que os produtores tenham um sistema de produção mais limpo, podendo, em alguns casos, até ser recompensado por isto. “Quem terá de custear vai ser mesmo o produtor, o que encarecerá seu produto, mas se o mercado conseguir absorver esse custo, essas medidas começarão a aparecer em outros sistemas de produção”, relata Jacovine.

INICIATIVAS GLOBAIS

Pensar em soluções ambientais deixou de ser local para se tornar global. A 21ª Conferência do Clima (COP21) foi realizada no final de 2015 na França. A COP tem por objetivo reunir todos os países para discussão de questões que envolvam o meio ambiente, sendo que a COP21 realizou um acordo entre tais países para a diminuição da emissão de gases de efeito estufa, diminuindo assim o aquecimento global e limitando o aumento de temperatura do planeta em 2ºC até 2100.

Apesar de o acordo ser um fato inédito, ele ainda mostra algumas fraquezas já que não tornou obrigatório e verificável o cumprimento das promessas de cada país de cortar emissões de carbono.

Para Jacovine, essas negociações são muito difíceis, pois envolvem os interesses de mais de 190 países, cada um querendo investir a menor quantidade possível ou então ganhar o máximo para diminuir as emissões. “Alguns países veem esse acordo como uma oportunidade de ganhar dinheiro e outros veem como uma oportunidade de realizar as ações gastando o mínimo possível.”

Vale ressaltar que alguns países mais comprometidos com a questão dos impactos da emissão de carbono começaram a estabelecer algumas exigências no mercado. Para esses países importarem produtos, eles exigem, no mínimo, um inventário de gás de efeito estufa. Ou seja, necessitam saber a quantidade de gás que o produto a ser adquirido pode gerar ao meio ambiente.

Outra cláusula do acordo foi que países desenvolvidos ajudem os países em desenvolvimento, oferecendo um piso de US$100 bilhões por ano até 2025 para que problemas relacionados com gás carbônico sejam solucionados de forma mais rápida e eficiente. Graças ao Fundo Amazônia, criado pelo Ministério do Meio Ambiente em 2008 e gerenciado pelo Banco Nacional do Desenvolvimento, o Brasil já recebeu cerca de US$ 1 bilhão para o projetos de uso sustentável da floresta, preservação de comunidades indígenas e implementação do Código Florestal, provenientes da Noruega e Alemanha. Esse fundo permite que países deem contribuição financeira e se tornem elegíveis para abater de sua própria conta de emissões o carbono que ficou armazenado na floresta protegida.

“Alguns países já recebem recursos para terem uma produção mais limpa e também para uma maior conservação florestal. Já foi assumido o compromisso de zerar o desmatamento ilegal no nosso país até o ano de 2020, utilizando os recursos externos vindos dos países desenvolvidos”, diz o professor.

Por fim, entende-se que, cada vez mais, todos nós verificaremos que será necessário tomar medidas para mantermos a vida na terra mais sustentável. Não basta mais apenas discursos, mas sim ações efetivas em prol de um sistema que considere não apenas as questões econômicas, mas também as sociais e ambientais.

Fonte: Polo de Excelência em Florestas

ITTO Sindimadeira_rs