Voltar

Notícias

04
jul
2014
(GERAL)
Fungo dá conta de limpeza ambiental da pesada
Também conhecido pela sigla PCF ou, popularmente, como “pó da China”, esse composto químico foi banido nos Estados Unidos já nos anos 1980. A Organização Mundial de Saúde o classifica como altamente perigoso por causar câncer e afetar o sistema imunológico humano, além de ser especialmente tóxico para mamíferos e aves, com capacidade de bioacumulação na cadeia alimentar.

O pentaclorofenol foi empregado durante muitos anos como conservante de madeira em postes de luz, por suas propriedades desinfetantes, fungicidas, moluscocidas, inseticidas e bactericidas e porque não se degrada com facilidade. Mas também é um subproduto de indústrias químicas fabricantes de insumos agrícolas e, como tal, foi enterrado ou jogado de forma inadequada em aterros, em diversas localidades brasileiras, entre os anos 1960 e 1980, contaminando o solo e as águas subterrâneas. Os casos mais conhecidos são os de Cubatão e Paulínia, ambos em São Paulo.

A dificuldade para recuperar uma área contaminada deve-se à estabilidade química do PCF. Em condições ambientais normais, o composto se decompõe muito lentamente ou nem se degrada, sobretudo se faltar oxigênio ou luz solar para os microrganismos que promovem o processo de mineralização biológica.

Então o jeito é recorrer a fungos para acelerar a limpeza ambiental, segundo indicam estudos realizados pela engenheira agrônoma Luciana Jandelli Gimenes, em seu doutoramento em Biodiversidade Vegetal e Meio Ambiente pelo Instituto de Botânica da Secretaria do Meio Ambiente de São Paulo, e em um grupo de pesquisa do qual participam 5 pesquisadores. Eles realizaram experimentos com solos contaminados, coletados em diversas profundidades, e concluíram que as espécies mais interessantes para o “servicinho difícil” são Trametes villosa e Lentinus crinitus.

Esses dois fungos causam o apodrecimento da madeira e, por isso, são chamados de xilófagos. Mas dão conta de quebrar as moléculas de organoclorados da mesma maneira, então “atacam” o PCF e até o hexaclorobenzeno, ou HCB, outro composto “da pesada”, usado como fungicida nos anos 1940.

Para usar os fungos, primeiro é preciso multiplicá-los, usando bagaço de cana como substrato de base. “Um modelo provável de utilização desses microrganismos para tratamento de PCF e HCB em solo é a utilização de biorreatores, onde você consegue obter controle de todos os parâmetros que podem influenciar na degradação, pois na legislação estadual (SP) não é permitida a introdução direta de microrganismos que não sejam nativos (alóctones) no solo”, explica Luciana Gimenes.

“Somente pode ser feita a bioestimulação, ou seja, a injeção de nutrientes no solo ou oxigênio, por exemplo, de modo a otimizar as condições de crescimento dos microrganismos nativos do local contaminado, oferecendo a eles condições que estimulem seu metabolismo degradativo”, prossegue. Já nas regiões em que a introdução dos microrganismos “de fora” seja permitida “é possível inocular o fungo em grande escala para aplicá-lo sobre o solo contaminado”.

Nos ensaios realizados pelo grupo de pesquisa, os níveis de mineralização chegaram a 25% de HCB com cerca de 80% de degradação. “O que resulta no solo, após essa mineralização, são cloretos livres e não há necessidade de remoção mecânica”, observa a especialista. Nem mesmo os fungos precisam ser retirados, pois eles não chegam a desenvolver o “cogumelo” e permanecem misturados à massa do solo.

A tese de doutorado de Luciana Gimenes recebeu bolsa da Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e o grupo de pesquisa conta com recursos da Rhodia e da Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa do Agronegócio (Fundepag). Agora é torcer para que ambos os financiadores – Rhodia e Fundepag – adotem e disseminem os fungos “devoradores de madeira” para descontaminar as porções do Brasil com excesso de PCF e HCB.

Fonte: Liana John

ITTO Sindimadeira_rs