MENU
Armazenagem
Editorial
Espécies Alternativas
Eucalipto
Lâminas
Mercado - EUA
Mercado - Móveis
Móveis e Tecnologia
Organização
Pisos
Secagem
Silvicultura
Sustentabilidade
Tecnologia
Valor Agregado
E mais...
Anunciantes
 
 
 

REVISTA DA MADEIRA - EDIÇÃO N°80 - ABRIL DE 2004

Valor Agregado

Mercado internacional sinaliza evolução

O mercado mundial de madeira e produtos derivados é crescente, conforme mostra o comércio entre países exportadores e importadores. O valor das exportações mundiais é de US$ 98 bilhões/ano sendo 15% originários de países em desenvolvimento, segundo dados recentes (2004) da FAO.

O crescimento se apresenta tanto em produtos com menos industrialização - madeira serrada, quanto em produtos de maior tecnologia agregada - painéis de madeira. Esta tendência é mais evidente nos produtos de maior grau de tecnologia e valor.

Os produtos reprocessados de madeira, que se transformam em produtos acabados ou semi-acabados de maior valor são base de crescimento da produção e exportação, mas a escassez de florestas produtivas dificulta grandes expansões da produção.

O crescimento esperado do mercado só ocorrerá com os melhores processos industriais, crescentes níveis de tecnologia, melhor produtividade, qualidade do produto e agregação de valor.

Os principais produtos que servem para agregação de valor, através de qualidade e tecnologia, são produtos tradicionais e raramente são vistos como PMVA. Estes produtos apresentam excelente potencial para aprimoramento da qualidade, e por decorrência, para agregação de valor.Bons exemplos são a madeira sólida de espécies nativas e de florestas plantadas para a indústria de móveis e para a construção civil.



Mercado moveleiro



Para garantir a competitividade os móveis seriados devem ter alta velocidade e grande produção. Para manter tal competitividade é necessário: matéria-prima de características uniformes (densidade, cor, colagem, trabalhabilidade, conectores e acabamento).

A variação destas características afeta os processos industriais, os parâmetros de produção, a produtividade e a qualidade do produto final.

Estas características podem ser encontradas tanto em espécies de madeira tropical nativa, como (com maior freqüência), em pinus e eucalipto.



Madeira Serrada

No Brasil a produção de madeira serrada varia pouco - 19 a 22 milhões m³/ano. O consumo é de 19,7 milhões m³/ano, dos quais 3,5 milhões m³ (15%) destinam-se a móveis e aproximadamente 1/3 provem de florestas plantadas.

O mercado é de 2 milhões m³ madeira de espécies nativas e 1,2 milhões m³ de madeira de características uniformes e mínimos defeitos (principalmente pinus), para a indústria moveleira.

O suprimento de madeiras nativas só depende da disponibilidade ou escassez de espécies e oscilações de preço. Neste cenário a introdução de novas espécies garante oferta.



Eucalipto



Estudos elaborados pelo ITTO em 2003 estimam déficit de mais de 27 milhões m³ em 2020. Neste cenário, cresce disponibilidade de eucalipto serrado/seco, de boa qualidade e de cor uniforme, a preços competitivos.

A substituição das nativas tradicionais por espécies de reflorestamento já é visível nos principais pólos moveleiros, bem como Espírito Santo e Minas Gerais.

Os principais nichos para eucalipto são estruturas de móveis estofados e móveis sóbrios e pesados, com solidez e durabilidade. Estes produtos são desenvolvidos principalmente em Ubá (MG) e Arapongas (PR).

O eucalipto também é utilizado para móveis tipo exportação, elaborados com madeira certificada, principalmente nos pólos Sul/Sudeste (RS, SC, PR e SP).



Construção



A demanda de madeira para construção aumenta, com a expansão da construção habitacional, inclusive para estruturas, pisos, esquadrias e centros urbanos. O material principal é para as paredes internas e externas, em casas pré-fabricadas, padrão médio/alto, litoral/serra, condomínios urbanos/rurais.

A expansão requer matéria-prima uniforme, suprimento e baixo custo: madeiras nativas adequadas/abundantes; e de florestas plantadas, homogêneas e de rápido crescimento, como eucalipto e pinus.

As madeiras de florestas nativas e plantadas tem sido usadas em edifícios multi-uso, em estruturas leves e painéis pré-fabricados, de rápida instalação.Também há demanda, neste segmento, para madeiras de maior densidade, bem como para pisos em tábuas de assoalhos, em vários comprimentos, encaixes macho-fêmea 4 lados, tacos, tacões, painéis e parquetes.

São consumidas espécies nativas com densidade e dureza média a alta e usinagem fácil. Ipê (Tabebuia spp), cumarú (Dipteryx odorata), jatobá (Hymenaea sp) são as principais e muiracatiara (Astronium sp), roxinho (Peltogyne spp), amêndola (Mimosa scabrela) são alternativas. Para este segmento também cresce a aceitação no mercado da espécie Eucalyptus saligna, híbridos E. grandis x urophylla.

Para estruturas são demandadas madeiras com maior ou menor densidade e resistência mecânica: estruturas de pórticos leves, treliças, vigas laminadas coladas, compostas com chapas aglomeradas, compensadas, OSB, componentes estruturais, e outros.





Produção e oportunidades



No Brasil a produção anual é de 2,6 milhões m³, maior parte para exportação. Cerca de 40% é madeira tropical e 60% reflorestamento, principalmente pinus.

As exportações crescem 16,5% ao ano, desde 1990. Em 2002 o volume exportado foi de 1,8 milhões m³, sendo 1,06 milhão m³ de compensado de pinus.

Os principais importadores são Reino Unido, Estados Unidos, Bélgica e Alemanha (64% do total), a US$ 150 a 330/m³.

Também é significativa a produção de compensados de madeira nativa, os quais o volume de exportação alcança 700 mil m³/ano.Os principais mercados são: EUA + UK (61%), Bélgica, Puerto Rico. O consumo nacional é de 875 mil m³; móveis (45%) e embalagens (17%).O mercado promissor de pinus e lâminas de eucalipto começa a mostrar aceitação. A tendência é madeira de pequenas dimensões, sem defeitos.

Outra tendência é o rebeneficiamento da madeira com ajuste de dimensões e eliminação de defeitos, bem como os blocks emendados por finger-joint formando blanks (mais longos).

Os principais usos são molduras, esquadrias, revestimentos, partes e peças de móveis, bricolagem (do-it-yourself).

Madeira serrada e beneficiada é o produto que mostra as melhores possibilidades para agregação de valor, em especial àqueles destinados à exportação.São oportunidades e nichos de mercado tanto para madeira nativa quanto de florestas plantadas.



Produtos e valores

Os mercados crescem e há nichos para vários produtos:

¬ molduras, a US$ 150 - 296/m³; painéis colados lateralmente (egp)

- eucalipto US$ 510-570/m³; pinus US$ 440-480/m³;

¬ tábuas para cercas (fence boards) média de US$ 175/m³ (CIF);

¬decks (cambará) - US$ 640/m³; ipê - US$ 900/m³;

¬ portas (US$ 30/un.), além de janelas e esquadrias, vigas laminadas e outros.

Os produtos de maior valor agregado são importantes itens da pauta de exportação de países que dispõem de recursos florestais e maior grau de desenvolvimento, como Canadá, Estados Unidos, Escandinávia e Nova Zelândia. Tais países apresentam uma gama de produtos que incorporam distintos níveis de tecnologia e diferentes níveis de valor agregado.

Os produtos incluem: madeira engenheirada para construção (tesouras, vigas ¬laminadas e madeira pré-classificada por resistência) e remanufaturados; beneficiados e pré-acabados: portas, janelas, torneados;¬ armários/gabinetes (banho, cozinha, tampos) semi-acabados;¬ móveis: domésticos, comerciais, jardim, institucionais; palets e contêineres; e estruturas pré-fabricadas e log homes.

Ao todo, neste segmento, são 741 indústrias (20.190 empregos) faturando US$ 4,68 bilhões (1999/2000); 73% exportaram aos EUA e 43% ao Japão



Cenário internacional



A Nova Zelândia busca aumentar o volume de madeira processada. Dispõe de amplo suprimento de matéria-prima, suficiente para aumentar 360% suas exportações.

A gama atual de produtos da cadeia de valor é composta por: madeira serrada, blocos de madeira e postes tratados; chapas de fibras, compensados, laminados e aglomerados;¬ móveis de madeira e partes destes; produtos engenheirados, vigas laminadas e LVL; moldurados com fingerjoint e painéis colados lateralmente.

Em cenário de forte aumento de exportações a Nova Zelândia prevê investimento de NZ$ 6.5 bilhões em novas unidades industriais: 100 serrarias de porte médio, 90 unidades de remanufatura e 20 plantas de painéis derivados.

Em Nova Zelândia o foco é em Pinus radiata - base do recurso florestal do país. O setor busca¬ identificar novos produtos de madeira e suas tecnologias; manter competitividade em custos; e superar barreiras tarifárias/não-tarifárias em novos mercados.

Para o recurso florestal, aprimorar processamento para melhorar produtividade e reduzir custos: guias a laser, escaneamento de toras e softwares (classificação de peças).

Em relação ao P. radiata, são desenvolvidas duas tecnologias específicas: aumento da dureza da madeira, com impregnação de amido e pressão nas paredes das células: aumenta estabilidade; e¬ o processo greenweld, que permite colar madeira verde, antes da secagem e do processamento.

Nos Estados Unidos o maior mercado de importações de produtos de maiôs valor agregado cresceram 175% (moldurados de coníferas), 134% (pisos de madeiras duras) e 194% (componentes para construção) em volume, nos últimos dez anos.

Os PMVA como moldurados representam 11% das exportações dos países produtores de madeira tropical e passaram a ser item importante das pautas de países como Brasil, Indonésia, Malásia, Costa do Marfim e Tailândia, em 2002.

O Mercado europeu é restritivo, mas apresenta oportunidades para PMVA, inclusive de espécies menos-conhecidas. Produtos como construção, pisos, partes e peças de móveis, de madeiras alternativas são opções para entrar no mercado externo.

A visão geral dos mercados atuais e potenciais para pmva mostra diversidade e possibilidades de expansão e desdobramento nos mercados, desde que sejam atendidas suas especificações.

Em rápida análise, mostra-se que os produtos em variadas formas podem ser bem remunerados, desde que atendam a condição de agregação de tecnologia, qualidade e valor.



Márcio Nahuz – Pesquisados do IPT – Instituto de Pesquisas Tecnológicas - SP